Igor Maciel: Ignorância inteligente direcionada e seus efeitos no futuro de Pernambuco
Em nome de emendas aos deputados e para beneficiar o PSB em 2026, vale a pena prejudicar todos os pernambucanos pelas próximas décadas?

Existe um recurso retórico cheio de sagacidade, embora de ética duvidosa: é a ignorância inteligente direcionada. Por ela, você faz suposições pueris sabendo que não se sustentam, questiona dados que você sabe que não fazem sentido e convoca a imprensa afirmando uma grande novidade para, no fim, anunciar apenas o upgrade de algum velho argumento.
Não se trata de pessoas ingênuas ou burras, pelo contrário. Elas sabem exatamente o que estão fazendo, sabem que as questões não fazem sentido e que as suposições são pueris. O resultado inteligente disso é atrasar ao máximo e dificultar o trabalho de alguém. Os motivos podem ser muitos, desde benefícios a alcançar até simplesmente criar obstáculos ao crescimento de um adversário.
Alguns deputados da oposição na Alepe, muito ajudados pelo próprio governo que lhes permitiu ocupar posições estratégicas na Casa, parecem ter assumido esse papel.
Bolsonaristas e socialistas, uni-vos
De um lado, cobram o pagamento de emendas, enquanto se associam aos objetivos do PSB de minar a atual gestão estadual para aumentar as chances de um sucesso eleitoral em 2026.
O casamento pode parecer estranho, mas nesse grupo estão parlamentares do PL de Bolsonaro, unidos aos socialistas de João Campos, passando pelo União Brasil e pelo PSDB. Todos juntos.
As batalhas atuais da “ignorância direcionada” são travadas no entorno de um empréstimo no valor de R$ 1,5 bilhão.
Vai e volta
Depois de muito atrasar o processo, a CCJ aprovou o empréstimo. Mas o roteiro parecia estar pronto para que não andasse. Assim que o texto chegou à comissão de Orçamento, surgiu um substitutivo sem pé e sem cabeça, querendo destinar metade do dinheiro para ser distribuído entre prefeitos do estado.
A ideia não tem critério, nem base jurídica nenhuma. O movimento foi feito só para atrasar e obrigou que a matéria retornasse à CCJ. Chegando lá, travou de novo.
Os deputados da comissão que já tinham aprovado o empréstimo, resolveram que agora não concordavam mais. O que mudou no empréstimo? Nada. Resolveram não votar apenas para não votar.
Sem novas
Esta semana convocaram a imprensa na Comissão de Justiça, como se fosse ocorrer alguma grande novidade, para no fim anunciar que não iriam apreciar o projeto. O que não é novidade nenhuma.
A informação é que, agora, só vão aprovar se o governo disser o que fez com o restante do dinheiro dos outros empréstimos que a Casa aprovou meses atrás.
É onde entra um novo capítulo da ignorância inteligente direcionada. Os deputados sabem, perfeitamente, que a maior parte desse dinheiro ainda nem foi liberada.
Degrau
Para a jornalista Terezinha Nunes, colunista deste JC, o secretário de Planejamento Fabrício Marques, detalhou em que situação está cada um dos pedidos.
A grande maioria ainda não teve os valores liberados porque são muito degraus até que as instituições financeiras mandem o dinheiro. A aprovação na Alepe é apenas um desses degraus, pequeno em comparação com os outros, que os deputados tentam valorizar para conseguir o que desejam.
Os deputados sabem disso? Claro que sabem. São experientes, são inteligentes e todos os principais articuladores dessa oposição já ocuparam cargos no Poder Executivo. O motivo de não votar é não votar, e só.
E Pernambuco?
Ninguém é bobo. É uma estratégia, é válida, mas até que ponto isso prejudica Pernambuco, atrasando ainda mais um dinheiro importante, nesse caso, para a realização de obras em estradas e a construção do Arco Metropolitano?
Além de tudo, em algum momento esse dinheiro terá que ser liberado e, quando for, cada dia de atraso na obra poderá ser colocado na conta da Alepe, sempre que o governo for cobrado pela conclusão.
Uma obra estruturante tão esperada pelo setor produtivo do estado para dar competitividade à economia local, bloqueada por estratégia política e eleitoral de deputados pernambucanos. Isso é bom para alguém? Será bom em algum momento, mesmo que o governador seja outro?
Inteligente
Os investimentos previstos com esses empréstimos são importantes para a recomposição da infraestrutura abandonada nas últimas duas décadas em governos do PSB. A última grande obra estruturante do estado foi a duplicação da BR 232, ainda no governo Jarbas.
Pernambuco ficou para trás em logística e baseou sua economia na promoção de impostos, subsídios dados às empresas que se instalaram aqui em troca de gerarem empregos. Esses subsídios serão proibidos a partir de 2032 com a reforma Tributária e Pernambuco não terá muito a oferecer caso não tenha infraestrutura, tecnologia e qualificação profissional. Esses empréstimos são para promover isso.
Em nome de emendas aos deputados e para beneficiar o PSB em 2026, vale a pena prejudicar todos os pernambucanos pelas próximas décadas? Isso é inteligente? Bom, depende do objetivo.