Cena Política | Notícia

A paz das emendas parlamentares que não consegue construir um país

O Brasil baseado na paz das emendas não tem planejamento, projeto e nem futuro. É apenas uma grande tubulação de dinheiro soprando desordenadamente.

Por Igor Maciel Publicado em 20/05/2025 às 20:00

Nos últimos dias, algumas impressões ficaram mais fortes em relação ao Brasil no qual vivemos hoje. Impressões são vislumbres do ambiente, como um leve aroma que sentimos ao respirar e que dá substância às frases como “onde há fumaça, há fogo”. Lula está trabalhando para que o Congresso não trabalhe e isso acontece desde o início deste ano.

A estratégia funciona marcando viagens e convidando integrantes do Legislativo que são estratégicos para o andamento de algumas pautas. Dá desculpa a eles para que se ausentem. Em quase todas as últimas investidas no exterior, levou um dos presidentes do Legislativo. Às vezes eram os dois juntos.

Com isso, deputados e senadores ficaram pelo Brasil discutindo tamanho de pelo em ovo de codorna, ao invés de avançar com pautas importantes. Parece algo despropositado, mas tem método e objetivo. É com isso que ele tem paz, isso e mais R$ 50 bilhões. 

Paz

A reforma Tributária nunca foi concluída em sua regulamentação, está travada. Projetos como o do Fim da Reeleição já tiveram votação adiada por três vezes na CCJ do Senado. A CPMI do INSS, que já tem assinaturas suficientes, arrasta-se com dificuldade. Não tem como evitar, mas pode atrasar.

Com a Câmara, houve um outro acordo. Hugo Motta (Republicanos), desde a viagem que fez com Lula ao Japão, teria se comprometido a segurar o projeto de Anistia. E conseguiu, porque até os bolsonaristas mais exaltados andam calados sobre o assunto. Ninguém sabe se acabou o dinheiro para fazer barulho, já que o ex-ministro Gilson Machado (PL) andou pedindo mais doações para o ex-presidente, argumentando que já gastaram mais de R$ 8 milhões (sem especificar com o que), ou se perderam a esperança mesmo.

Pagou, sorriu

Todo esse movimento entre Governo Lula e Congresso Nacional, algo que parece mais orquestrado a cada dia, começou logo após a aprovação, atrasada, do orçamento de 2025, em março. Quando o texto ficou pronto e foi votado, estava lá uma destinação de nada menos que R$ 50 bilhões para as emendas parlamentares.

Ao mesmo tempo, Lula começou a levar uma prometida reforma ministerial em banho-maria, colocando ordem apenas nos cargos ligados ao PT e, quando foi obrigado a mudar ministros não petistas, nomeou quem Alcolumbre mandou para ele, como nas Comunicações.

Foi só votarem o orçamento para que Lula e os presidentes Motta e Alcolumbre começassem a dançar uma valsa com muito dinheiro para as emendas, viagens caras pagas pelos impostos e nenhum projeto de país à vista.

O capenga e o acomodado

A oposição pode até reclamar do método, de arrendar o governo ao Legislativo em troca de alguma estabilidade para o Executivo, como acontece hoje. Mas não é fácil, porque essa metodologia foi aplicada nos dois últimos anos da gestão anterior.

Foi Bolsonaro quem arrendou o próprio governo para não sofrer impeachment durante a pandemia, foi quando se criou o orçamento secreto e houve a ampliação imoral das emendas que transformou o Brasil num parlamentarismo disfarçado. Desde então, o Brasil só tem paz quando o presidente se rende e vira marionete.

De tudo o que Bolsonaro poderia ter feito para complicar a vida do sucessor petista, quem diria que a mais efetiva seria sua própria fraqueza. Basta um presidente capenga para atrapalhar por muito tempo o futuro do país. Se logo depois dele vier um presidente que aparenta estar mais disposto a usufruir do cargo que lutar para fortalecê-lo, estamos perdidos.

Paz das emendas

Enquanto Lula viaja e curte os benefícios do cargo com a esposa em troca da paz das emendas, com R$ 50 bilhões pulverizados através dos parlamentares, faltará dinheiro para pagar as contas já em 2027 na gestão pública federal.

Mas esse nem é o maior problema. O país está à deriva. O Judiciário só se preocupa em ser Legislativo, o Legislativo se preocupa em ser Executivo e o Executivo decidiu que vai viver entre anunciar novos programas sociais inócuos enquanto viaja para posar de chefe de estado pelo mundo.

O Brasil baseado na paz das emendas não tem planejamento, não tem projeto e não tem futuro. É apenas uma grande tubulação de dinheiro soprando desordenadamente aos quatro cantos do país dentro de um sistema de desperdício, falta de transparência e corrupção.

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