A paz das emendas parlamentares que não consegue construir um país
O Brasil baseado na paz das emendas não tem planejamento, projeto e nem futuro. É apenas uma grande tubulação de dinheiro soprando desordenadamente.

Nos últimos dias, algumas impressões ficaram mais fortes em relação ao Brasil no qual vivemos hoje. Impressões são vislumbres do ambiente, como um leve aroma que sentimos ao respirar e que dá substância às frases como “onde há fumaça, há fogo”. Lula está trabalhando para que o Congresso não trabalhe e isso acontece desde o início deste ano.
A estratégia funciona marcando viagens e convidando integrantes do Legislativo que são estratégicos para o andamento de algumas pautas. Dá desculpa a eles para que se ausentem. Em quase todas as últimas investidas no exterior, levou um dos presidentes do Legislativo. Às vezes eram os dois juntos.
Com isso, deputados e senadores ficaram pelo Brasil discutindo tamanho de pelo em ovo de codorna, ao invés de avançar com pautas importantes. Parece algo despropositado, mas tem método e objetivo. É com isso que ele tem paz, isso e mais R$ 50 bilhões.
Paz
A reforma Tributária nunca foi concluída em sua regulamentação, está travada. Projetos como o do Fim da Reeleição já tiveram votação adiada por três vezes na CCJ do Senado. A CPMI do INSS, que já tem assinaturas suficientes, arrasta-se com dificuldade. Não tem como evitar, mas pode atrasar.
Com a Câmara, houve um outro acordo. Hugo Motta (Republicanos), desde a viagem que fez com Lula ao Japão, teria se comprometido a segurar o projeto de Anistia. E conseguiu, porque até os bolsonaristas mais exaltados andam calados sobre o assunto. Ninguém sabe se acabou o dinheiro para fazer barulho, já que o ex-ministro Gilson Machado (PL) andou pedindo mais doações para o ex-presidente, argumentando que já gastaram mais de R$ 8 milhões (sem especificar com o que), ou se perderam a esperança mesmo.
Pagou, sorriu
Todo esse movimento entre Governo Lula e Congresso Nacional, algo que parece mais orquestrado a cada dia, começou logo após a aprovação, atrasada, do orçamento de 2025, em março. Quando o texto ficou pronto e foi votado, estava lá uma destinação de nada menos que R$ 50 bilhões para as emendas parlamentares.
Ao mesmo tempo, Lula começou a levar uma prometida reforma ministerial em banho-maria, colocando ordem apenas nos cargos ligados ao PT e, quando foi obrigado a mudar ministros não petistas, nomeou quem Alcolumbre mandou para ele, como nas Comunicações.
Foi só votarem o orçamento para que Lula e os presidentes Motta e Alcolumbre começassem a dançar uma valsa com muito dinheiro para as emendas, viagens caras pagas pelos impostos e nenhum projeto de país à vista.
O capenga e o acomodado
A oposição pode até reclamar do método, de arrendar o governo ao Legislativo em troca de alguma estabilidade para o Executivo, como acontece hoje. Mas não é fácil, porque essa metodologia foi aplicada nos dois últimos anos da gestão anterior.
Foi Bolsonaro quem arrendou o próprio governo para não sofrer impeachment durante a pandemia, foi quando se criou o orçamento secreto e houve a ampliação imoral das emendas que transformou o Brasil num parlamentarismo disfarçado. Desde então, o Brasil só tem paz quando o presidente se rende e vira marionete.
De tudo o que Bolsonaro poderia ter feito para complicar a vida do sucessor petista, quem diria que a mais efetiva seria sua própria fraqueza. Basta um presidente capenga para atrapalhar por muito tempo o futuro do país. Se logo depois dele vier um presidente que aparenta estar mais disposto a usufruir do cargo que lutar para fortalecê-lo, estamos perdidos.
Paz das emendas
Enquanto Lula viaja e curte os benefícios do cargo com a esposa em troca da paz das emendas, com R$ 50 bilhões pulverizados através dos parlamentares, faltará dinheiro para pagar as contas já em 2027 na gestão pública federal.
Mas esse nem é o maior problema. O país está à deriva. O Judiciário só se preocupa em ser Legislativo, o Legislativo se preocupa em ser Executivo e o Executivo decidiu que vai viver entre anunciar novos programas sociais inócuos enquanto viaja para posar de chefe de estado pelo mundo.
O Brasil baseado na paz das emendas não tem planejamento, não tem projeto e não tem futuro. É apenas uma grande tubulação de dinheiro soprando desordenadamente aos quatro cantos do país dentro de um sistema de desperdício, falta de transparência e corrupção.