O incrível caso do inocente que morre de medo de uma CPI sobre o INSS
Se o problema são os outros, se a fraude começou com Bolsonaro, porque o governo Lula é o único tentando proteger politicamente todos esses outros?

A fraude no INSS é um escândalo político, mas antes de tudo é um episódio impressionante de maldade humana, capaz de minerar nas aposentadorias e pensões R$ 30 ou R$ 40 que, na maior parte dos casos, compromete até a compra de medicamentos por parte dos beneficiários. Não é só coisa de bandido, é coisa de gente maldosa sem pai, sem mãe e qualquer tipo de consciência.
Essas pessoas ruins, independente de terem cometido os crimes no Governo Lula, Bolsonaro ou Temer, merecem coisa muito pior que a prisão. Mas para tudo o que transcende o Código Penal, oriente-se o sujeito à Justiça Divina e que assim seja.
Antes disso, porém, é necessário esclarecer os detalhes do roubo para sanar a integridade dos roubados.
CPMI
E só se pode esclarecer o roubo com investigação. É verdade que a Polícia Federal já está fazendo seu trabalho e é importante que não se duvide do trabalho da Polícia Federal, porque ela vem resistindo às pressões políticas ao longo das últimas décadas, passou por Mensalão, Petrolão, Lava Jato, um governo Bolsonaro em que tráfico de influência era algo que se tomava no café da manhã com pão assado. Ainda assim, a instituição resistiu.
Ninguém duvida mais de que os policiais farão seu trabalho independente de qualquer outra medida que for tomada para esclarecer os fatos, mesmo que seja no âmbito partidarizado do Legislativo.
Qual o problema?
Dito isto, qual o problema de fazer uma CPI no Congresso que pode até mesmo ajudar a PF? A resistência assustada do Governo Lula é algo muito pior para a imagem da gestão. O Planalto está aterrorizado enquanto diz que não tem culpa de nada. É estranho.
A justificativa é que a oposição transformaria a CPMI (porque a ideia é que seja mista) em um circo. Só fica contra o circo quem não tem elenco para ocupá-lo ou teme a exposição ao picadeiro. O governo Lula tem algo a temer que os políticos ligados ao governo anterior não têm?
Bodes
Se a equipe de Lula se apressou em dizer, e o atual ministro da Previdência, Wolney Queiroz (PDT), repetiu no Senado, que as fraudes começaram na gestão Bolsonaro (PL), uma CPMI iria explicar tudo, dar nome aos bodes e escutar seus berros. Qual o drama nisso tudo?
Aliás, o próprio Jair Bolsonaro, ex-presidente mais enrolado em ações criminais que se podem contar, disse isso numa entrevista, esta semana. Admitiu que pode ter começado na gestão dele, disse que não tem como controlar tudo, mas defendeu que façam a CPI para definir responsabilidades e punições.
Colegas
A fala de Bolsonaro isenta Lula em solidariedade. Quando diz que o presidente não tem como controlar corrupção em tudo dentro de um governo, coloca o sucessor e todos os outros colegas presidentes no mesmo barco. Realmente ninguém acredita que Lula ou Bolsonaro estavam roubando tostões dos velhinhos. Então, qual o problema de investigarem a fundo?
No PT
Sabe quem também pensa assim? O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), disse durante a sessão com o ministro Wolney, que o partido deve assinar a CPMI “porque não tem nada a esconder”. Menos de três horas depois, o Palácio do Planalto desautorizou ele.
Auxiliares de Lula correram à imprensa para dizer que “não, não foi combinado com o governo" e que o senador se manifestou por conta própria.
Caixinha
O discurso mantido no Planalto é que a CPMI pode comprometer as investigações porque a comissão teria o poder de quebrar sigilos. Fatos que poderiam ser importantes para a apuração seriam revelados antes da hora considerada “apropriada”.
Mais uma vez: se o problema são os outros, porque o governo Lula é o único tentando proteger politicamente todos esses outros? É um mistério da insondável caixinha da falcatruas da República Brasileira. Desses que só entende quem não quer entender nada.