Cena Política | Análise

Pernambuco prejudicado por mais um impasse entre Alepe e Palácio

A briga interminável entre Executivo e Legislativo prejudica a todos em Pernambuco e precisa parar. Até para os padrões brasileiros, está ridículo.

Por Igor Maciel Publicado em 13/05/2025 às 20:00

Um dos responsáveis técnicos do governo de Pernambuco que conseguiu o empréstimo de R$ 1,5 bilhão para o estado, em conversa reservada à coluna, estava inconformado esta semana. Segundo ele, a burocracia para se conseguir dinheiro de investimento em um estado é imensa e cada centavo é muito importante quando é finalmente conquistado.

Ainda assim, a birra entre Assembleia Legislativa e Palácio do Campo das Princesas persiste, com pautas travadas em plenário, emendas parlamentares que os deputados reclamam por não estarem sendo pagas e oposição inventando todo tipo de artifício para atrasar a confirmação até de um empréstimo que visa beneficiar a infraestrutura do estado.

A briga interminável entre Executivo e Legislativo prejudica a todos e precisa parar. Começou a ficar ridículo.

Atrapalho, logo existo

Esse dinheiro do empréstimo será utilizado para a construção do Arco Metropolitano, aguardado há décadas em Pernambuco. Servirá ainda para construção e reforma de estradas, recuperando uma malha viária abandonada há décadas também. Mas quem se importa com isso? O importante é tumultuar.

A última atração deste circo teve um ato na Comissão de Orçamento, quando um parlamentar apresentou um substitutivo tentando dividir parte do dinheiro entre os municípios, sem qualquer critério, seja populacional seja por projeto, nada.

Quem fez, sabe que o dinheiro nunca será liberado para ser distribuído aos prefeitos. Os empréstimos são liberados mediante um planejamento e você não pode mudar o planejamento de um estado porque os deputados decidiram que era melhor distribuir a grana com aqueles que podem ajudá-los na eleição seguinte com votos. O deputado sabe disso? Claro! Mas preferiu tumultuar.

Risos

O que se pensa lá fora de Pernambuco? Que o estado é uma piada e que os deputados são figuras caricatas de um fazer político pequeno e mesquinho. É triste, porque a maior parte dos parlamentares desta legislatura é muito bem preparada, alguns na área jurídica, outros em políticas públicas. É justo que fiquem marcados como fanfarrões?

Este técnico que conversou com a coluna esteve recentemente reunido com pares da mesma área de gestão pública num encontro nacional. Contou que era procurado pelos colegas de outras regiões aos risos. A informação sobre a dificuldade para aprovar o investimento é se espalhou.

Segundo ele, tentavam entender que maluquice era aquela: “Então vocês conseguiram dinheiro para investimento que é tão difícil de conseguir, estão com o planejamento para investir em infraestrutura que é tão complicado para realizar e os próprios deputados, do próprio estado em que o dinheiro vai ser investido, estão travando o empréstimo?”. A questão sempre terminava com mais risadas.

Absurdo

Sim, são os próprios deputados de Pernambuco, tentando de todas as formas atrapalhar que o estado de Pernambuco se beneficie de investimentos que vão desenvolver Pernambuco. A repetição é proposital, para que o absurdo e o ridículo fiquem bem evidentes.

E isso porque nem estamos falando sobre a sabatina com o indicado do Palácio para administrar a Ilha de Fernando de Noronha. É outra pauta que não anda por birra entre oposição e governo, enquanto o território mais importante para o turismo do Estado fica abandonado.

Préstimos

Você poderia até dizer que “essa oposição do PSB é implacável”, mas nem é o caso. Nenhum desses problemas está sendo causado diretamente pelos socialistas, mas por parlamentares de outros partidos que atuam em benefício de seus próprios grupos políticos, tradicionais, ou em busca de vantagem pessoal e eleitoral através do repasse de emendas. O PSB com toda a sua oposição está, na verdade, apenas usufruindo do serviço prestado.

Travas

Do outro lado, o Governo tenta reagir com medidas que parecem ter sido criadas com o fígado e não com o cérebro. Travar a pauta da Assembleia, por exemplo, é algo que ao invés de resolver apenas acirra ainda mais os ânimos. A atitude é comparável ao sujeito que fecha uma estrada para fazer um protesto e fica preso do lado errado da via, sem conseguir voltar ele próprio para a casa. O Palácio interrompeu uma via da qual precisa, ele próprio, para funcionar. Não faz nenhum sentido, além de provocar novos atritos. Somente pontes aceleram o fluxo. Pneus e gasolina são para atrapalhar.

Parem

A pergunta mais importante que precisa ser feita agora sobre a atuação política neste estado, diante de todas essas birras e entraves ridículos, é: qual foi a última vez, em termos políticos, que a Alepe e o Palácio foram às manchetes aprovando algo de interesse dos pernambucanos e não brigando por emendas ou fazendo confusão? Faz dias? Semanas?

Essa estratégia “atrapalho, logo existo” utilizada pela Alepe é cansativa e depõe contra os interesses dos pernambucanos.

Ao mesmo tempo, o Executivo precisa começar a pensar que não há democracia sem diálogo entre os poderes, não há liberdade sem respeito mútuo e não há paz onde as obrigações não são cumpridas dentro de suas previsões legais.

Alguém com juízo precisa resolver a questão.

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