Cena Política | Análise

Igor Maciel: O custo do Congresso é inversamente proporcional a sua eficiência. E vai piorar

Deputados vão ampliar o número das vagas que eles próprios ocupam, ao custo de R$ 70 milhões por ano, justo no ano em que eles menos trabalharam.

Por Igor Maciel Publicado em 07/05/2025 às 20:00 | Atualizado em 08/05/2025 às 9:48

Se o objetivo dos deputados que aumentaram o número de cadeiras para eles próprios era corrigir distorções, seria interessante começar pela parte financeira do tema, pelo princípio da eficiência no trabalho dos parlamentares, o custo benefício da existência deles ou até sobre a necessidade de se ter uma estrutura tão grande já que ultimamente eles têm trabalhado tão pouco.

Por exemplo, que tal falar sobre a dificuldade para sustentar 513 gabinetes, cada um ao custo de R$ 273 mil por mês, para os deputados terem dois recessos por ano e pararem por uma semana ou duas toda vez que tem um feriado ou quando o presidente da Casa viaja em alguma comitiva oficial? Tudo isso aconteceu bastante neste primeiro semestre, ao ponto de os deputados não terem conseguido nem finalizar as votações da reforma Tributária.

Nem greve

Os deputados estão trabalhando tão pouco que está difícil até programar uma greve de fome. Sim, porque o deputado Glauber Braga (PSOL) ficou sem comer, em protesto pela sua cassação iminente, mas a Câmara parou em recesso branco por causa dos feriados e todo mundo viajou para seus estados. Tiveram que fazer uma trégua para o parlamentar não ficar muito mal, enquanto se esperava que os trabalhos fossem retomados, porque começou a demorar muito.

Ainda assim, no mês de abril em que os deputados quase não trabalharam, porque teve três feriados, o pagador compulsório de impostos gastou R$ 140 milhões para sustentar a estrutura deles, incluindo salários que chegam a R$ 46 mil e uma cota parlamentar que varia por estado mas praticamente dobra o rendimento pessoal deles.

Aumenta aí

Esse custo de R$ 140 milhões por mês, com as 18 cadeiras a mais aprovadas por eles próprios, deve aumentar a despesa em R$ 5 milhões. Por ano, a estimativa dos próprios responsáveis pelo texto que aumenta o número de deputados é que os custos aumentem em algo perto de R$ 70 milhões, juntando outros gastos necessários para adequação dos novos gabinetes. Numa empresa privada, quando você implanta um setor e ele não dá resultado, o natural é que você reavalie seu tamanho e reduza para adequar à realidade.

No Congresso Nacional é o contrário, quanto menos eficiente, mais você amplia os custos.

Cocem os bolsos

A medida foi tomada, é importante lembrar, por provocação da Justiça. Acontece que o IBGE apontou crescimento da população em alguns estados que precisam ter suas bancadas parlamentares readequadas. É o caso de Santa Catarina, que vai ganhar quatro novas cadeiras. Mas a ordem era consertar a proporcionalidade, aumentando de alguns e reduzindo de outros, que perderam população.

A Câmara aproveitou para faturar, aumentou de um lado e manteve o número do outro. Por que deixar um colega deputado triste se tem dinheiro do cidadão para garantir a felicidade de todos?

Lógica

É importante registrar que nem todos os deputados votaram a favor dessa farra. Em Pernambuco, Mendonça Filho (UB), Clarissa Tercio (PP), Coronel Meira (PL) e Túlio Gadêlha (Rede) foram contrários. O estado deles, é bom lembrar, perderia uma cadeira caso a lógica fosse levada em consideração.

Os quatro sofreram pressão de todo tipo, principalmente Mendonça que é do partido do relator da mudança e deve ter ouvido de tudo para votar a favor. Todos foram firmes no que é correto e precisam ser lembrados. Mas são quatro numa bancada de vinte e cinco.

Pobre e triste

O fato é que o Brasil seria um país pobre, mas seria feliz no caso de atitudes estúpidas como esse aumento de cadeiras serem apenas fruto da burrice mais franca e ingênua.

Como não é burrice pura e simples, mas malandragem da pior espécie, acaba que nós, brasileiros, somos pobres e mal humorados com o futuro.

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