Cena Política | Análise

Igor Maciel: Se agora o Palácio aguenta demagogia é porque deu asas à oposição

Se a oposição estivesse aí para facilitar a vida do governo, seriam todos chamados de catalisadores. Ninguém é idiota para esperar que eles facilitem.

Por Igor Maciel Publicado em 06/05/2025 às 20:00 | Atualizado em 07/05/2025 às 6:50

Poucos meses atrás, quando o governo conseguiu a proeza inimaginável de perder a maioria em todas as comissões importantes da Assembleia Legislativa de Pernambuco, algumas pessoas chegaram a relativizar o problema como algo menor já que no plenário, o que importa, o governo teria ampla maioria.

Relativizar a derrocada do óbvio é abrir as portas para o imponderável. E tudo aquilo que não pode ser ponderado numa gestão pública termina, no mínimo, em demagogia, atraso ou desordem.

No pedido de autorização que o governo fez à Alepe para um empréstimo de R$ 1,5 bilhão, destinado ao Arco Metropolitano e às estradas do estado, o óbvio seria que os deputados aprovassem o mais rápido possível, para que o processo caminhasse com maior velocidade e a população pudesse usufruir da infraestrutura o quanto antes, em nome da economia. Ao invés disso, o caminho tem sido tortuoso.

Segura aqui

O empréstimo ficou travado na Comissão de Constituição e Justiça. Quando foi aprovado lá, foi tratado pelos parlamentares como um favor, uma esmola que estavam dando ao Palácio do Campo das Princesas.

Agora, quando chegou na Comissão de Finanças, o projeto foi modificado. A oposição resolveu que não gostou da destinação do dinheiro, mudou o texto para que metade do valor seja dado aos municípios e, por ser maioria, aprovou assim dentro do grupo.

Os projetos para fazer o Arco Metropolitano e recuperar estradas que “se explodam”, a oposição prefere fazer confusão, porque pode. Esse foi o recado.

Atrasa acolá

Os parlamentares do governo, na comissão de finanças, tentaram argumentar. Henrique Filho enfatizou que os recursos eram para o Arco Metropolitano. Débora Almeida (PSDB) lembrou que era necessário seguir o que foi acordado com o Tesouro. Joãozinho Tenório também reclamou. Mas a situação é minoria na comissão, por culpa das trapalhadas da articulação do início do ano, e ninguém foi ouvido.

Vale tudo para tumultuar e atrasar projetos do governo.

Demagogia

A ideia de dividir R$ 750 milhões para os municípios não passa de demagogia barata e espuma para espalhar no bigode de gestores municipais que ficam felizes com qualquer dinheiro que possa chegar para eles, mas se souberem que estarão impedindo obras estruturantes talvez pensem melhor. Alguém vai dizer isso a eles?

Pulverizados, os R$ 750 milhões significariam cerca de R$ 4 milhões para cada cidade, mas podem inviabilizar projetos importantes de recuperação de estradas e, principalmente, o Arco Metropolitano, necessário para melhorar a competitividade logística de todo o estado, garantindo indústrias e mais empregos.

Querer pulverizar esse dinheiro para os prefeitos diz mais sobre a intenção eleitoreira de seus autores do que sobre responsabilidade com o futuro dos pernambucanos. É bom lembrar que o Tesouro pode simplesmente barrar o dinheiro se ele não estiver de acordo com os projetos iniciais. Os autores da mudança sabem disso, mas insistiram para poder criar um problema. E conseguiram.

Quem se importa quando se está na oposição e tem maioria nas comissões?

Oposição é oposição

Se a oposição estivesse no Legislativo para facilitar a vida do governo, os deputados do grupo seriam chamados de catalisadores. Ninguém é idiota para esperar que eles facilitem e, por isso, ninguém deveria ser ingênuo o suficiente para permitir que eles dominassem as comissões mais importantes do poder que fiscaliza as ações do seu próprio governo, como aconteceu no início deste ano.

Feita a bobagem, é preciso consertá-la. Mas como as pessoas responsáveis pela articulação continuam no cargo e acreditando que não erraram, as consequências do erro nunca são realmente sanadas.

O resto do mandato será de batalha para que a oposição não seja tão oposição assim e "facilite" o andamento dos projetos. Parece piada, mas é a dura, trágica e quase cômica, realidade.

Lição

Na prática, agora o empréstimo vai ter que voltar para a Comissão de Justiça antes de ir para a de Administração. Nesta o Governo também é minoria, e resta esperar o que a oposição vai fazer mais para atrasar ou retalhar o empréstimo. Até que ele chegue em plenário e a tal maioria do governo consiga atuar, vai demorar bastante.

No futebol, time que deixa para jogar só no final, apostando no cansaço do adversário, vez por outra se surpreende com o fôlego de algum oponente e termina se complicando no campeonato pelo qual deveria passar com grande vantagem desde os primeiros minutos de todos os jogos.

Mas essa é uma lição que você só aprende quando tem humildade para aprender. Talvez não seja o caso, ainda.

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