Igor Maciel: O novo ministro pernambucano e o meio termo entre desejo e lógica
Wolney era a primeira opção de Lula como nome vindo do PDT, desde a época da transição. Lupi, é que queria ser ministro de qualquer forma e barrou.

Há um equívoco na maneira como alguns estão classificando a escolha de Wolney Queiroz (PDT) para o ministério da Previdência. Como se fosse apenas a continuidade de um erro que começou com Carlos Lupi (PDT) no cargo, ou como se Wolney fosse apenas uma maneira desesperada de manter o PDT no governo.
O ex-deputado federal por Pernambuco tem dificuldade com a política quando precisa pedir voto em grande quantidade. Quem o conhece um pouco mais de perto sabe disso. Está na lista daqueles que não nasceram para disputar cargos majoritários, mesmo que um dia, por obra do destino, ocupem algum. Isso não é demérito. A gente é para o que nasce.
Wolney é bom formando chapa proporcional (quando não lhe atrapalham muito como Ciro atrapalhou em 2022), fazendo articulação política e é reconhecido por todos como um ótimo administrador, bom de panejamento e ação.
Já a pecha de estepe que tentam colocar não lhe cabe no caso do ministério, porque ele era a primeira opção de Lula para a pasta, desde o início. Lupi foi quem não deixou que acontecesse.
Lupi
É preciso lembrar que Ciro Gomes (PDT) foi candidato no primeiro turno contra Lula e o partido dele só apoiou o petista no segundo turno.
Quando o PDT foi convocado para participar da transição, ainda no fim de 2022, logo depois da eleição, Ciro não tinha clima para ter qualquer voz ativa no planejamento do novo governo. Diferente de Simone Tebet, que foi sempre respeitosa com o atual presidente, Ciro Gomes chegou a ser agressivo na campanha.
Carlos Lupi, presidente nacional do partido, não tinha (e nem tem) condições de planejar coisa nenhuma. Lupi é um animal político, no melhor e no pior dos sentidos que essa expressão possa ter. Ele é bom dizendo qual cargo vai querer e imaginando que benefícios terá com o espaço. É bom usufruindo do poder também. Mas planejar o funcionamento da pasta é esperar um pouco demais do antigo auxiliar de Brizola.
Por isso, quem cuidou da transição pelo PDT, junto a Lula e aos petistas, foi Wolney.
Paulo
Durante a transição, Lula conviveu em alguns momentos, em algumas reuniões, com o pernambucano. E gostou dele.
Dentro dos partidos, por causa da transição e do convívio rápido com alguns personagens, o presidente eleito tinha algumas preferências, mas não podia interferir. Foi o caso de Paulo Câmara.
Na época, o presidente tentou por inúmeras vezes fazer com que João Campos (PSB) incluísse o ex-governador de Pernambuco na lista de indicados para alguma pasta. Por vê-lo como um concorrente na sigla, Campos evitava a todo custo.
Sempre que Lula mencionava Paulo, João mudava de assunto. Ao ponto de o presidente decidir colocar o preferido no Banco do Nordeste e pedir que ele se desfiliasse do PSB. A justificativa era que não queria ouvir reclamações de outros aliados dizendo que o PSB teria mais um cargo. Mas soou como “eles não merecem você”. Paulo deixou os socialistas e faz uma gestão bem reconhecida no BNB.
Wolney
Com Wolney aconteceu algo parecido. Sempre que ia conversar com Lupi, Lula elogiava o pernambucano e conversava sobre a necessidade de o presidente do PDT “cuidar do próprio partido”, de viajar o Brasil, e de como é “mais complicado acumular a direção nacional de um partido e um ministério”. Deixou mais do que claro que ficaria muito melhor se Wolney assumisse o ministério e Lupi tratasse de fortalecer o PDT. Era uma forma de renovar e era a lógica.
Carlos Lupi, que não nasceu ontem, entendeu o recado e fez o que faz de melhor, ofereceu um meio termo entre a lógica e o que ele queria. Disse que ficaria como titular do ministério e Wolney seria o Executivo. Na prática, Lupi ficava com a parte boa da pasta, teria tempo para tocar o partido, e o ex-deputado pernambucano trabalharia no pesado. Lula respeitou e assim foi por mais de dois anos.
Fidelidade
Por isso, só quem não conhecia a história ficou surpreso quando Lupi pediu demissão (porque sabia que seria demitido) e Wolney foi escalado para lhe substituir.
Foi a maneira de o PDT não encarar isso como uma derrota, de o governo não constranger Lupi e, principalmente, uma ponte para manter a fidelidade pedetista na Câmara intacta.
O PDT é hoje o partido mais fiel ao governo entre os aliados. Dos 17 votos possíveis, é habitual que o partido entregue sempre 17 votos.
Assim como um dos fatores para Silvio Costa Filho (Republicanos) assumir o ministério de Portos e Aeroportos foi a capacidade de articulação dele dentro do Congresso (e do próprio partido), Wolney tem grande amizade, boas relações e uma imensa capacidade de articulação com diversos setores políticos da Câmara Federal. Pode garantir os votos do PDT e até buscar mais em outras siglas.
O governo está precisando, e muito.