Lula vai ficando mais encurralado e as federações aumentam a pressão

O centrão tem olhado para Lula (PT) como um presidente que está “encurralado”. A situação dele seria parecida com a de Jair Bolsonaro (PL) no meio da pandemia, embora o contexto seja bastante diferente.

Enquanto o ex-presidente ficou emparedado durante uma crise aguda que atingiu absolutamente todos os aspectos de normalidade do país, o atual sofre com a inflação dos alimentos, segurança e, ultimamente, a sombra da corrupção. Mas o país segue funcionando em sua normalidade capenga de sempre.

Ainda assim, Lula está tão encurralado quanto Bolsonaro por causa do tanto que tem a perder. E a tendência é que acabe fazendo exatamente o que o antecessor fez, entregando o governo de vez ao centrão, assumindo uma espécie de papel simbólico, enquanto a gestão é partida e repartida entre personagens chave do próprio PT, de aliados de esquerda e de outros partidos que hoje já estão no governo e querem protagonismo maior.

O que o PP e o PL representaram para Bolsonaro em 2020 e 2021 é o que PSD e MDB poderão fazer por Lula neste ano e no próximo.

Movimentos

Um primeiro ensaio foi feito nos últimos dias. Ao menos duas fontes confirmaram à coluna que houve uma conversa entre Gilberto Kassab (PSD) e o presidente Lula (PT).

Um dos assuntos foi a reforma ministerial, na qual o partido de Kassab quer ter maior espaço, apoiado no resultado eleitoral de 2024 em que ultrapassou a casa das mil prefeituras, como o maior partido do país. A ideia é ter ministérios com maior lastro e visibilidade.

Mas teve um outro assunto que surgiu na conversa. A hipótese de Geraldo Alckmin sair do PSB e migrar para o PSD. Assim ele continuaria como vice de Lula, voltaria para suas origens já que muitos dizem que o PSD é o novo PSDB, além de colocar o partido numa posição de maior força.

No meio dessa conversa surgiu uma alternativa: o próprio Kassab poderia ser o vice do petista. Nada ficou acertado.

Pressão

Ao mesmo tempo, está acontecendo uma movimentação para formar uma federação que envolveria o MDB, o PSD e o Republicanos. Se isso acontecer, haverá ainda mais pressão sobre Lula, com uma força ainda mais concentrada entre partidos aliados.

Vale lembrar que União Brasil e Progressista formaram uma federação recentemente. As duas siglas têm ministérios no governo Lula e, juntas, terão mais força para exigir mais ou rumar para a oposição de uma vez por todas.

É mais fácil negociar com os partidos separadamente, porque sempre dá para usar o interesse de um como pressão contra o outro, dentro de uma concorrência.

Se todos começarem a se federar, unificando exigências, promessas e ameaças, o governo ficará mais refém do que já está. Lula está emparedado.

Federação

E pensar que as federações, um problema na vida de Lula para os próximos meses, foram criadas por um partido da esquerda para tentar sobreviver junto ao PT. Foi o PCdoB que inventou isso, com Renildo Calheiros (PCdoB), quando o partido se encaminhou para a extinção por ausência de votos e lutou muito para integrar a federação junto com PT e PV.

O PP, por exemplo, era contra a federação. Ciro Nogueira (PP) falava horrores do dispositivo, mas hoje lidera a federação entre seu partido e o União. Virou uma grande oportunidade de monopolizar dinheiro e espaço no Congresso e nas eleições.

Virou também o pesadelo de Lula para 2026.