Cena Política | Análise

Sobre as alianças que não precisam ser boas para todos os lados

Aconteceu com Silvio Costa Filho agora, mas o histórico da relação de aliados com o PSB costuma ser conflituoso quando se trata de base eleitoral.

Por Igor Maciel Publicado em 02/05/2025 às 20:00

Nos últimos dias, o ministro Silvio Costa Filho (Republicanos) teria reclamado que um deputado do PSB teria invadido uma de suas bases de votação, levando o apoio de um prefeito. O caso fez com que a aliança entre ele e o prefeito do Recife, João Campos (PSB), ficasse abalada ao ponto de Campos dar explicações sobre o assunto. “A gente sabe que nesse momento de construção de candidaturas proporcionais, é natural ter enfrentamentos na base de uma cidade, um apoio, um voto e é normal isso, em certas circunstâncias, gerar um acirramento ali na disputa de voto federal”, tentou explicar o prefeito do Recife.

Atrito

A questão ocorreu por causa do município de Lajedo. O gestor de lá, Erivaldo Chagas (Republicanos), anunciou apoio ao deputado federal Felipe Carreras (PSB). Isso surpreendeu o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho (Republicanos), que também é deputado federal, tinha uma base de apoio no município e via Erivaldo como um aliado certo do seu grupo político para o próximo pleito. Silvio espera eleger o irmão, Carlos Costa, como deputado federal, quando se lançar para a disputa de senador em 2026.

Carreras falou ao JC durante a semana e foi pragmático. “Deputado, vereador, parlamentar não rejeita apoio. Então, eu encaro como algo natural do processo político”, explicou.

Não é raro

A tentativa de apaziguamento feita pelo prefeito João Campos até pode ter funcionado, mas deixou Silvio em alerta. Tanto que ele retomou o comando estadual do partido e vai ficar acumulando a presidência do Republicanos junto com o ministério, vai dar mais atenção às prefeituras.

O alerta poderia ter acontecido antes também, porque essa briga por espaço dentro de municípios que já são espaço de aliados não é algo raro de acontecer no PSB. Quando Raul Henry (MDB) era vice-governador e decidiu que voltaria a disputar um cargo de deputado federal em 2018, confiou em alguns socialistas e quase perdeu a eleição.

Como foi

Raul era vice de Paulo Câmara e não iria integrar a chapa para o segundo mandato. Decidiu voltar ao Congresso e avisou o PSB: ia disputar para deputado federal. Contava com espaços políticos e alianças formadas com prefeitos ligados a ele e a Jarbas Vasconcelos (MDB).

Deputados do PSB, na época, viram a oportunidade e começaram a tentar pegar esses votos. Chegavam nos municípios e diziam ter “certeza que Raul não seria candidato, que ficaria na vice de Paulo Câmara”. Argumentavam que era mais seguro os prefeitos fecharem acordo com eles e não ficarem esperando ou poderiam se prejudicar. Muitos embarcaram no discurso.

Quando o então vice-governador pegou a estrada em campanha descobriu que não tinha mais os votos esperados, muitos tinham se comprometido com o PSB. Raul precisou contar com muita ajuda de última hora para se eleger naquele ano.

Juntar e dividir

Nos últimos anos, o PSB foi muito criticado por aliados exatamente por ter dificuldade na hora de dividir espaços. Os aliados dos socialista são muito importantes pelo que oferecem e não pelo que esperam receber em troca.

Não é raro haver atritos por causa dessas “invasões de território” eleitoral. De um lado você tem a promessa de apoio para ser candidato a um cargo maior e do outro começa a ter suas bases estremecidas por socialistas em busca de votos. Cada partido aliado ou ex-aliado do PSB tem uma historinha desse tipo pra contar.

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