Sobre as caravanas da República e a eficiência do Congresso
Alguém imagina Donald Trump chegando a Roma com uma caravana, dando carona no avião para presidente da Suprema Corte, deputados, senadores e amigos?

Quem fica tomando conta da loja quando Lula (PT) viaja e leva a República no bagageiro? A resposta é: ninguém. Ninguém vai dizer que o sepultamento do Papa não é um evento importante. É importante e o Brasil precisa estar representado, como estão representados os EUA pelo presidente Donald Trump.
Mas alguém imagina Trump chegando a Roma com uma caravana, dando carona no avião para presidente da Suprema Corte, deputados e senadores? A estética da comitiva oficial brasileira já é cafona de saída.
Sem falar no gasto de dinheiro do pagador de impostos que é embarcado nessas viagens. E este não é o único problema, porque o Brasil fica parado enquanto os principais agentes da República estão atravessando fronteiras em viagens oficiais, seja como protagonistas ou convidados.
A República viaja junto e as dificuldades ficam por aqui no colo do povo.
Passou?
O problema maior é o histórico de serviços prestados dos que estão embarcando. Sabe quando a criança quer ganhar um passeio de férias e você pergunta se ele “já passou de ano” para poder receber o prêmio? É isso.
A maioria dos que estão ali ainda não passaram de ano. Aliás, não fizeram nada este ano. Desde que assumiram seus cargos, Davi Alcolumbre (UB) e Hugo Motta (Republicanos) têm se esforçado bastante para não se esforçarem por nada.
Isso é evidente nas pautas do Congresso Nacional e na lista de obstáculos a serem transpostos e para os quais ninguém viu disposição ainda.
Números
O colega Fernando Castilho, deste JC, fez as contas numa coluna JC Negócios recente. Os dados são referentes aos primeiros meses deste ano em comparação com o presidente da Câmara anterior. Foram 197 propostas votadas no plenário e 257 em colegiados neste ano, número inferior ao registrado sob o comando de Arthur Lira (290 em plenário e 581 em comissões) entre fevereiro e abril de 2021, no primeiro ano do alagoano como presidente. O dado representa uma queda de cerca de 48% no volume de votações.
Falta problema?
Se estivéssemos falando de um país com poucos desafios a serem superados já seria muito ruim. Mas, para completar, trata-se do Brasil.
Desde que assumiram como presidentes da Câmara e do Senado, Motta e Alcolumbre já fizeram recessos brancos por feriados, viajaram para o Japão com a comitiva do Executivo, realizaram protestos por mais dinheiro de emendas interrompendo tramitação de projetos e agora estão todos juntos com a caravana de Lula em Roma, foram para o sepultamento do Papa Francisco.
Outra vez, a pauta parou.
Eficiência
Ao longo deste ano, cada deputado custou mais de R$ 1 milhão ao pagador de impostos, apenas em salários e verbas de gabinete durante os quatro primeiros meses do ano.
Multiplicado pelo número de parlamentares de Pernambuco, significa que já gastamos mais de R$ 25 milhões para sustentar os gabinetes da bancada pernambucana em Brasília. E nem estamos colocando aqui os gastos com os três senadores do estado. É muito dinheiro para muito pouco trabalho.
A reforma tributária, por exemplo, está com a regulamentação travada porque as reuniões não acontecem, porque não há pauta ou por falta de interesse mesmo.
Um deputado federal custa, por ano, o equivalente à renda de 133 brasileiros, em média. Se o princípio da eficiência fosse aplicado ao Legislativo, seria necessário mandar um monte de deputado de volta para casa, sem salário.