Igor Maciel: O efeito da estratégia de sombra e força na política pernambucana
Em primeira instância aliados são acolhidos. Na instância seguinte, a mão pesada de um estado com grande orçamento alerta os adversários

O governo Raquel Lyra (PSD) comemorou duas vitórias importantes nesta semana e a impressão é que as coisas começaram a mudar. Embora o “jeito Raquel Lyra” de fazer política ainda seja estranho para muitos, as atitudes do Palácio começam a se aproximar mais do que se espera vindo de uma máquina administrativa com um orçamento anual superior a R$ 50 bilhões: sombra e força.
A primeira acolhe aliados que possam contribuir para o desenvolvimento de Pernambuco participando da administração. A segunda lembra à oposição que tentar lhe menosprezar que a mão do estado é visível e pesada quando os interesses da gestão estiverem em jogo.
Dupla
A vitória dupla da terça-feira (7) diz respeito a isso, com a entrada de mais de 30 prefeitos que estavam no PSDB e seguiram a governadora na filiação ao PSD. O partido, agora, tornou-se o maior do estado, com mais que o dobro dos municípios comandados pelo PSB, do prefeito João Campos. No mesmo dia, deputados da oposição que tentaram aprovar um aumento injustificável nas emendas a que eles próprios têm direito, na intenção de criar um governo paralelo a partir de suas próprias rubricas, foram obrigados a recuar ao perceberem que iriam ser derrotados no plenário.
A derrota veio após pressão da imprensa, repúdio de instituições empresariais e uma reunião da governadora com a base aliada que se comprometeu a votar contra o reajuste absurdo.
Sem pix
Por falar nas emendas, o colunista de economia do Jornal do Commercio, Fernando Castilho, fez um levantamento de quanto cada deputado estadual destinou em “emendas pix” para suas bases eleitorais. Esses são repasses que não se sabe qual o uso que será feito deles. Na descrição, essas emendas aparecem apenas como “transferência especial” e quase não há outras informações. Fiscalizar o destino do dinheiro do pagador de impostos não é fácil nesse caso.
Dos 49 parlamentares, somente seis escaparam de usar o dinheiro dessa forma. Dani Portela (PSOL), Doriel Barros (PT), Henrique Queiroz Filho (PP), João Paulo Lima e Silva (PT), Rosa Amorim (PT) e Socorro Pimentel (União) foram os únicos que não usaram “emendas PIX”.
MDB
Depois do episódio lamentável e vergonhoso da última semana, quando dois grupos agora divergentes dentro do MDB estadual envolveram na briga o legado e a imagem do ex-governador Jarbas Vasconcelos, o MDB nacional chamou as partes para uma conversa. Oficialmente, a conversa teria sido para ajustar as regras e o procedimento da eleição para o diretório estadual que acontecerá em 24 de maio. Mas, a verdade é que Raul Henry, Jarbas Filho e Fernando Dueire receberam uma discreta bronca do presidente do MDB, Baleia Rossi.
A ordem é manter o respeito, evitar novos conflitos e não expor nem o partido e nem a figura de Jarbas no processo. A atitude da executiva nacional é corretíssima, tanto na pauta oficial quanto na extraoficial.
Trump e o mundo
Os efeitos das políticas tarifárias de Donald Trump começam a se mostrar catastróficos para o mundo, mas tendem a ser piores para os próprios EUA. Enquanto os outros países buscam alternativas para sobreviver sem depender dos americanos, os compatriotas do presidente alaranjado serão obrigados a enfrentar uma possível recessão e inflação crescente com as medidas anunciadas até o momento.
O planeta terá que passar por uma nova acomodação.
E depois?
É mais ou menos como um filho que faz planos para o salário enquanto mora com os pais, mas briga com eles e precisa procurar um outro lugar para viver. Ele terá que refazer os projetos, procurar um emprego melhor, economizar mais. No fim, vai sobreviver. Mas, o que será dos EUA quando a Europa, a China e países em desenvolvimento como o Brasil não precisarem mais dos americanos para fechar as contas?
No Brasil, inclusive, o Instituto Quaest fez uma pesquisa avaliando o sentimento dos brasileiros sobre Donald Trump. A opinião sobre o presidente americano é negativa para 43% dos entrevistados e só 22% tem opinião positiva.
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