Cena Política | Análise

O que os números da pesquisa Quaest em Pernambuco não dizem sobre Raquel

Na pesquisa Quaest, apesar dos 54% de aprovação serem bons, o número que mais importa ao Palácio é o de 42%. Este precisa ser muito bem estudado.

Por Igor Maciel Publicado em 12/12/2024 às 20:00

Tanto no aspecto nacional quanto local, os números de uma pesquisa referentes a algo que só poderá acontecer daqui a dois anos, é uma peça de realidade com validade limitada ao dia da divulgação. No dia seguinte a realidade já pode ser outra.

Alguns institutos vêm, mesmo assim, fazendo levantamentos sobre as eleições de 2026. Parece ser parte do transtorno de ansiedade que acomete a sociedade nos últimos tempos, com foco nas eleições. E isso preocupa.

No plano nacional, a pesquisa ganha contornos que ignoram até mesmo a realidade jurídica, por exemplo.

Lula x Bolsonaro

Para dizer que Lula (PT) venceria Bolsonaro (PL) em 2026, se a eleição fosse hoje, é necessário um exercício de imaginação que ignore o fato de que Bolsonaro está inelegível, que Lula pode não disputar a reeleição, que o centrão pode lançar um candidato fora da polarização e que nenhum eleitor mudará de opinião ou morrerá pelos próximos 24 meses.

Isso sem falar em todas as mudanças partidárias que podem ocorrer. E o mesmo vale para os elegíveis, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ronaldo Caiado (UB) e Pablo Marçal.

Pernambuco

A mesma coisa vale para os números apresentados sobre a disputa de 2026 em Pernambuco confrontando a atual governadora Raquel Lyra (PSDB) e o prefeito do Recife, João Campos (PSB).

Tudo pode acontecer em dois anos, inclusive nada do que se espera atualmente. E mais: dos números apresentados, que mostram uma popularidade maior de João Campos neste momento, é preciso dizer que eles aumentam a pressão e a responsabilidade nos dois. Não é bom pra ninguém.

Meses de pressão

Em Campos a pressão será para manter o mesmo patamar dessa pesquisa, sem cair, e não fraquejar por dois anos carregando essa vantagem eleitoral por todo o estado enquanto cuida da gestão da capital que não poderá deixar de lado antes de abril de 2026.

Em Raquel a pressão é para conseguir fazer a máquina gigante do estado trabalhar, com ramificações em todas as regiões de Pernambuco, e garantir que a enormidade de recursos em cofre sejam gastos com a melhoria de vida da população.

Raquel tem um desafio a mais: garantir que sua comunicação atinja as pessoas e que elas percebam melhorias na vida delas e também na dos outros.

É bom, mas…

Daquilo que pode e deve ser analisado na pesquisa Quaest, o dado sobre a aprovação da governadora é atual e válido para hoje. Este sim, merece bastante atenção. Ele é bom por um lado e preocupa pelo outro.

Numa ponta, ter 54% de aprovação deve ser comemorado pelo Palácio do Campo das Princesas. Não é pouco quando você precisa lidar com as complexidades de uma gestão num estado com 9 milhões de habitantes, após sucessivos governos de um mesmo grupo político por 16 anos, tendo que quebrar paradigmas políticos e sociais.

É difícil mesmo e 54% reflete um percentual maior do que o nacional do presidente Lula, na mesma pesquisa. O petista está com 52%.

…preocupa

Na outra banda do mesmo gráfico publicado pela Quaest, há uma preocupação que deveria estar no centro das discussões estratégicas do governo que é a resistência da rejeição.

Em abril de 2024, no levantamento anterior, 42% dos eleitores pernambucanos desaprovavam o governo Raquel Lyra.

Passados oito meses de um ano que a própria governadora destinou para ser de entregas e grandes anúncios (e foi), o índice dos que desaprovam o governo continuou em 42%.

Estratégia?

Essa resistência precisa ser estudada e entendida para que ações da gestão cheguem até eles. É preciso conhecer bem um coração duro antes de tentar adentrá-lo. Estudar esses 42% é tarefa imprescindível à equipe dela. Algum motivo deve haver.

E não é uma resistência ideológica ou partidária, como existe com Lula no plano nacional. Lula enfrenta uma antipatia sistemática por lado político. Aqui, o maior adversário de Raquel hoje é do PSB, partido que estava no poder antes, mas que terminou em quarto lugar na eleição anterior com uma rejeição altíssima.

Na pesquisa Quaest, apesar dos 54% de aprovação serem bons, o número que mais importa ao Palácio é o de 42%.

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