As redes sociais que elegem também derrubam candidatos
Tem quem use as redes para desabafar, tem gente que usa pra contar vantagem e esquece que um dia pensamentos despejados ali comprometem o pensante.

Uma avaliação de muitos que trabalharam nas duas campanhas de Olinda neste segundo turno é a de que um dos principais fatores para a derrota de Vinicius Castello (PT) foram as postagens que os adversários dele colheram das redes sociais, com expressões chulas e de conotação sexual. É difícil dizer se foi isso um fator tão preponderante assim. Mas convenhamos que não é a primeira candidatura a ser prejudicada por causa de postagens do próprio candidato nas mídias sociais.
Aconteceu em 2020, no Recife, com a Delegada Patrícia e sua “brincadeira” com a cidade que pretendia governar usando a expressão “recífilis”. A divulgação do tweet aumentou a rejeição e prejudicou seu resultado final. Ela nunca se recuperou, perdendo eleição para deputada estadual dois anos depois e sumindo da vida política. Vários outros fatores influenciaram nisso, lógico. Mas a postagem foi uma mudança de rota quando ela ainda surfava na onda de delegados, juízes e promotores entrando para a política.
O caso de Vinicius em Olinda é ainda mais significativo porque havia muitas postagens ao ponto de a conta inteira ter sido tirada do ar quando as publicações começaram a ser exploradas.
Sem filtro
As redes sociais têm sido utilizadas sem nenhum tipo de filtro por usuários que não percebem o óbvio na palavra “publicação”. É tornar público, jogar ao mundo para ser apreciado. Tem gente que usa as redes para fazer terapia, tem gente que usa pra contar vantagem e, seja como for, esquece que um dia, pensamentos despejados ali podem se voltar contra o pensante.
Além disso, impressiona que as equipes de campanha e os partidos não façam uma varredura nas redes sociais dos candidatos para avaliar se publicações fora de contexto eleitoral podem ser exploradas pelos adversários e preparar uma forma de lidar com isso em resposta. Fica a lição. Que já deveria ter sido aprendida com as experiências de 2020 do Recife e não foi.
O líder
Em São Paulo, durante o seu discurso da vitória, Ricardo Nunes (MDB) arranjou uma forma de desabafar sobre a ausência de Bolsonaro (PL) em sua campanha, sem precisar citar diretamente o nome de Bolsonaro. Bastou exaltar o que ele chamou de “nosso líder maior”, repetindo a expressão três vezes, fazendo todos esperarem que ele iria chamar o nome do ex-presidente da República, para arrematar: “Tarcísio Gomes de Freitas”.
Mão amiga
Nunes lembrou que no momento em que mais precisou, quando a eleição parecia estar perdida, foi o governador de São Paulo quem lhe deu a mão. Na época, para quem não lembra, Bolsonaro percebeu o crescimento de Marçal e ficou em dúvida se já não era hora de pular do barco. Preferiu não ajudar Nunes e foi considerado covarde pelos aliados de São Paulo.
Tarcísio literalmente colocou o prefeito debaixo do braço e foi às ruas. Nunes foi reeleito e só citou Bolsonaro no discurso quando foi fazer menção ao vice, que é do PL bolsonarista.
Lançou
Mais do que um desabafo que tomou conta do noticiário no dia da eleição, o gestor paulistano acabou lançando Tarcísio nacionalmente para 2026. Resta saber se o governador de São Paulo vai topar enfrentar a eleição à presidência.
O “lançamento” foi reforçado por uma postagem de Michel Temer (MDB). Do mesmo partido que Nunes, o ex-presidente fez questão de agradecer a Tarcísio, afirmando que venceu a moderação. Nunes já havia exaltado o equilíbrio e comemorado a derrota dos extremos. A fala de Temer foi considerada, também, um recado a Bolsonaro pela ausência dele nos momentos difíceis do seu correligionário.
Queda impressiona
A implosão do PSDB que se vê nacionalmente é ainda mais significativa e impressionante na Região Metropolitana de São Paulo onde dominava todas as eleições há anos. Em 2020, o partido tinha eleito 11 prefeitos nas 39 cidades da Grande São Paulo. Agora, os tucanos comemoraram uma única vitória. A sigla perdeu 10 municípios de uma vez.
Em todo o estado paulista, onde também era hegemônico, o PSDB saiu de 176 eleitos em 2020 para apenas 21 neste ano de 2024. O ninho tucano caiu da árvore e ganhou ares de tragédia.