Bolsonaro tenta usar frango com farofa para fingir que não gastou R$ 29 milhões no próprio cartão. Comunicação do presidente é muito ruim
A ideia foi tão ruim que o próprio ministro das Comunicações, Fábio Faria, apagou a foto depois de postar. O leite condensado com pão (ou frango com farofa) já não funcionam mais.

Na comunicação política, criar agendas positivas é uma estratégia para momentos de crise e de baixa popularidade. Normalmente é uma forma de construir alguns elementos sob a impressão coletiva e controlar o roteiro.
Você marca o anúncio de uma medida que beneficie os mais pobres, por exemplo, quando o noticiário estava explorando números ruins da economia. Ou, simplesmente, marca uma viagem do político para um lugar onde se sabe que ele é adorado, para mostrar imagens das pessoas abraçando o sujeito.
Com Bolsonaro, que agora foi fotografado comendo frango e farofa, a história do pão com leite condensado já deu certo antes. Sempre que alguém falava, na eleição, que ele gastava demais no gabinete de deputado, alguém rebatia com ele colocando leite condensado num pão francês ou sentado no chão, com a roupa suja depois de um jogo de futebol.
O problema é que isso é vendido como criação de agenda positiva, mas não é.
O nome disso é tentar brigar com os fatos. Às vezes dá certo mas, na maior parte do tempo, dá errado.
Collor fazia muito isso. Quando as notícias diziam que ele estava prestes a perder o cargo, o então presidente saia para correr pelas ruas, com seguranças, fotógrafos a postos e alguma camisa "engraçadinha". Queria passar a ideia de que estava tudo sobre controle.
Dilma Rousseff, às vésperas do impeachment, andava de bicicleta.
Há um erro extra na estratégia de Bolsonaro. Se os antecessores tiveram pouco resultado, o atual presidente acabou ainda piorando a própria imagem. Uma coisa é você tentar aparentar que está tudo bem para despistar a opinião pública do fato. Outra coisa, completamente diferente, é usar isso para tentar dizer que os fatos não existem.
Foi o que aconteceu com o episódio da farofa. Se o impeachment estava no calcanhar dos antecessores, hoje o problema era a divulgação de que o presidente gastou R$ 29 milhões no próprio cartão corporativo. São gastos pessoais, sabe-se que o cartão é utilizado nas férias de moto aquática e churrasco do presidente. É usado para comprar comida entre outras coisas que são mantidas em sigilo por "segurança".
O custo, porém, em três anos, já é maior do que Dilma e Temer gastaram em quatro anos do mandato anterior. É o equivalente a quase R$ 800 mil por mês. É isso mesmo. A fatura do cartão do presidente dá, em média, R$ 800 mil por mês. E ele não usa o salário pra pagar. Quem paga somos nós.
A imagem dele comendo farofa, postada logo após as notícias dos gastos com o cartão corporativo, repercutiram mal, foram logo associadas a uma desculpa esfarrapada. Foi questionado quantos frangos com farofa ele comeu para chegar em R$ 29 milhões, por exemplo.
Com a repercussão ruim, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, que havia postado a imagem, correu para retirá-la. Era tarde. Além da revolta com a tentativa de enganar fatos, questionou-se a higiene do presidente da República, todo melado de farofa.
Outro sujeito que costumava fazer isso e chegou a presidente também, colocava amido de milho no paletó para fingir que tinha caspa e passar por pobre. Era Jânio Quadros, que renunciou à presidência.
Você deve ter notado que todos os exemplos aqui são de presidentes que não tiveram condição técnica, política ou moral para terminar seus mandatos.
Não deve ser apenas coincidência.