Blog Dellas | Notícia

Primeira nas pesquisas, Marília busca outros diferenciais para tentar o Senado e um deles é o fato de ser mulher

Enquanto isso, discute-se no meio político, sobretudo após o Datafolha, que condições efetivas ela teria de figurar na chapa do prefeito do Recife

Por TEREZINHA NUNES do BlogDellas Especial para o JC Publicado em 02/11/2025 às 5:00

Clique aqui e escute a matéria

- “Sou a única mulher pré-candidata ao Senado”, confessou há poucos dias a um interlocutor, a ex-deputada federal Marília Arraes em ambiente onde se discutia suas reais chances de disputar o cargo em 2026. Embora saiba que há outra mulher em campo, a vereadora do PSOL no Recife, Jô Cavalcanti, e que outras podem surgir até as convenções que definirão as chapas majoritárias, Marília naturalmente se referia ao quadro geral dos oito principais postulantes ao cargo que têm dominado o noticiário, onde só ela é mulher e conserva a vantagem de aparecer bem à frente dos demais em todas as pesquisas, incluindo a do instituto Datafolha divulgada esta semana.

Na mesma ocasião, segundo apurou este blog, ela deixou claro que uma candidatura majoritária depende de muitos fatores, incluindo o quadro partidário – ela está no pequeno partido Solidariedade – e disse, após receber telefonemas de vários políticos e jornalistas, que a pressão sobre ela está crescendo a cada nova pesquisa divulgada.

- “O perigo é desagradar muita gente que torce por mim, caso essa onda continue e eu acabe não disputando o Senado”. Na verdade, a ex-deputada sabe que se, for candidata a deputada federal as pesquisas para o Senado e o grande recall que conserva no eleitorado, mesmo tendo perdido duas eleições majoritárias seguidas, vão ajudá-la a ter uma expressiva votação e chegar com força de volta à Câmara Federal.

Os desafios e as cobranças

Enquanto isso, discute-se no meio político, sobretudo após o Datafolha, que condições efetivas ela teria de figurar na chapa do prefeito do Recife, João Campos, e de contar com a solidariedade política para levar adiante seu propósito. Uma liderança de esquerda, muita antenada com os bastidores da política, afirma que vê alguns problemas para Marília na disputa, mesmo ela figurando como favorita. Pedindo anonimato, essa fonte explicou que alguns fatores são obstáculos no caminho que ela possa vir a trilhar no campo majoritário.

- “Ela sempre começa bem mas acaba caindo no final da campanha. Aconteceu em 2020 no Recife quando disputou a Prefeitura com João Campos e em 2022 quando perdeu para outra mulher, a governadora Raquel Lyra. Fora isso é prima do prefeito e uma chapa familiar pode não agradar o eleitorado. Depois ela teria que disputar no campo da esquerda com outro nome forte, o senador Humberto Costa, que tem a preferência do presidente Lula. A candidatura de Humberto é prioridade absoluta no PT que não deseja dividir votos com Marília. Prefere, até para tornar mais largo o campo para a reeleição do presidente Lula, um nome mais ao centro, claro que comprometido com Lula mas de centro”.

Neste próprio espaço, Marília já mostrou que tem resposta para todas as colocações acima, incluindo o parentesco com João Campos que, segundo ela, é bem assimilado pelas pessoas, segundo pesquisas internas do seu partido. As restrições do PT a seu nome vêm da eleição de 2022 quando ela se lançou candidata a governadora pelo Solidariedade, mesmo sabendo que o PT apoiaria Danilo Cabral para manter a aliança com o PSB. E acabou se sobrepondo aos dois, vencendo o primeiro turno quando disputou com Raquel e perdeu. Isso nunca foi assimilado, tanto que neste terceiro mandato de Lula ela não foi chamada para ocupar nenhum cargo na administração federal, mesmo tendo sua irmã Maria Arraes deputada federal na base do presidente.

João pode precisar dela?

Há quem imagine, no entanto, que se a governadora Raquel Lyra continuar crescendo nas pesquisas, como se presume, João Campos acabe priorizando Marília em sua chapa para torná-la mais consistente. “Se Raquel crescer muito não é Marília que vai precisar do prefeito para disputar mas o próprio João que vai ter todo interesse nisso e até convidá-la para ser um dos seus candidatos ao Senado” – afirma um deputado estadual de linha independente mas simpático ao projeto do PSB.

Já o fato de ser mulher pode não pesar tanto quanto em 2022 quando, de forma surpreendente, Pernambuco elegeu uma governadora, uma vice governadora e uma senadora de uma só vez. “Neste barco ela está chegando com quatro anos de atraso”- comentou com sorriso irônico esta semana uma liderança feminina que, como está claro, não morre de amores por Marília.

Diferencial feminino não vai ser o mesmo

A cientista politica Priscila Lapa, no entanto, tem pensamento semelhante: “a presença da mulher na política de forma mais competitiva, transpõe os partidos e hoje é uma exigência da sociedade. Se não tem mulher cobra-se a representatividade feminina. Se valer desse quesito, no entanto, tem seus efeitos mas não necessariamente pode ser um diferencial. Com cada vez mais mulheres disputando e vencendo, isso não é mais tão essencial na visão do eleitor. O fato de ser mulher é um elemento mas não é o único. Tem se ver também a questão partidária, os apoios, o posicionamento político, os serviços prestados”.

Para ela “em 2022 havia um clima de mudança no estado e a população apostou na mudança via mulheres. Já quebramos esse tabu, elegendo governadora, vice e senadora. Agora, pelo contrário, vai se julgar as mulheres que já foram eleitas pois a mudança já ocorreu. Antes não se conhecia a performance de uma mulher em cargo majoritário no estado. A população pode fazer uma pergunta que não fazia antes, como a seguinte: “qual a diferença entre uma mulher e um homem no poder? Isso não significa que o eleitor não vá repetir o voto de 2022 mas ele vai se questionar ”.

- “ Essa situação – conclui Priscila - demonstra que uma candidatura precisa existir independente do sexo do pretendente. É legítima a representação proporcional na política mas não é só isso que vai estar em jogo em 2026”.

Quem tem razão? É esperar pra ver.

 
 
 

Compartilhe

Tags