Tudo começou com um monte de alunos loucos com ideias loucas na cabeça”. É assim que o fundador da D’Accord, Giordano Cabral, lembra do tempo em que começou a estudar computação musical, uma área de pouca tradição no Brasil, e percebeu que o computador poderia ser usado para ensinar música de uma forma interessante.
Hoje, passados quase 12 anos, os sócios da empresa mostram o quanto evoluíram. Jovens, mas já cheios de experiência, eles aprenderam na prática a conciliar criatividade e diversão com visão de negócios. No início, a ideia era criar um método de ensino de música mais dinâmico que o tradicional e mais aprofundado do que os vendidos em bancas de revistas. “Como usuário, achava o método clássico muito chato.
Pensamos em algo parecido com o que faz um professor particular, que te mostra como tocar a música e vai ensinando a teoria por trás”, explica Giordano. Mas a gama de produtos da D’Accord não ficou restrita aos softwares de ensino de música. Logo em seguida, desenvolveram ferramentas como afinador e dicionário de acordes para vários instrumentos e, em 2007, criaram a marca Musigames.
Através dela, a empresa lançou títulos de sucesso como o Drums Challenge, o jogo musical para iPad mais vendido nos Estados Unidos e na Grã Bretanha em 2010.
EDUCAÇÃO
A empresa chegou a lançar dez produtos no mesmo ano, mas apesar do êxito Giordano e seus sócios decidiram não se acomodar. “Evoluímos muito desde então. Temos hoje um processo de concepção dos produtos muito mais sólido do que no início, quando ainda estávamos explorando e queríamos montar um portfólio”, observa. Atualmente, a intenção é focar em uma proposta: educar de forma divertida.
O objetivo é preencher uma lacuna decorrente da Lei 11.769, que determina a obrigatoriedade do ensino de música em todas as escolas do País a partir deste ano. “Esse é um problema sério, porque as escolas não têm professores suficientes e é difícil ter instrumentos para os alunos. Achamos que a tecnologia pode contribuir muito para viabilizar o ensino de música de qualidade em larga escala”, afirma Giordano.
Como resultado, surgiu o maior projeto desenvolvido pela empresa atualmente: o Turma do Som. Ele explica que a ferramenta, que ensina conceitos de musicalização para alunos do ensino fundamental 1, reúne três aspectos que possuem apelo junto às crianças no universo da computação: em primeiro lugar, trata-se de uma rede social. Além disso, os conteúdos são explicados através de desenhos animados.
Por fim, são usados jogos para praticar os conceitos aprendidos. “Também pensamos o produto para que fosse supersimples de usar, inclusive para professores generalistas, e para que permitisse ao gestor da escola obter estatísticas em tempo real sobre o rendimento dos alunos”, acrescenta. Com lançamento oficial programado para a feira Educar, que será realizada em maio em São Paulo, o Turma do Som já está sendo usado em 10 escolas de Pernambuco, Minas Gerais e São Paulo.
Os resultados, garante o sócio Américo Amorim, estão sendo positivos. “Essa lei foi sancionada porque se sabe que quem estuda música tem mais atenção, mais facilidade com português e matemática, fica menos agressivo e se envolve mais com a escola. Nossa preocupação é fazer com que esses benefícios sejam garantidos”, diz. O desenvolvimento de uma ferramenta que não servisse apenas para cumprir uma exigência legal, conta Américo, não foi nada simples.
“Começamos a pensar o projeto em 2008. Conversamos com professores, gestores e secretarias de educação e procuramos os melhores especialistas do Brasil”, relata, ressaltando que não se faz inovação às cegas. “Não podemos ter uma empresa sisuda, até porque trabalhar com jogos atrai pessoas com um pensamento mais livre. Mas para fazer algo de qualidade, é preciso que existam processos”, argumenta Américo.
Com uma bateria ao lado da sala de reunião e uma equipe multidisciplinar formada por músicos, técnicos em áudio, game designers, pedagogos e designers gráficos, entre outros profissionais, a D’Accord não é uma das empresas mais tradicionais.Mas, assim como muitas outras, vive diariamente em busca de um equilíbrio: “Música e educação; criatividade e foco. Estamos sempre tentando conciliar esses aspectos para obter o melhor resultado possível”, completa Giordano.