
Se você nunca foi aos Lençóis Maranhenses, então vá. A lista de motivos é extensa. Basta olhar as fotos para ter vontade de arrumar as malas e partir. Imagine-se naquele mundo de areia fina esticando o olhar por sobre as dunas, mesmerizado com a paisagem surreal. Afinal, escondidas naquela mundo de areia branca, lagoas translúcidas colorem a paisagem. Algumas delas em tom azul. Outras, em esmeralda. Entrar na água é inevitável. Até mesmo para se ter a prova de que aquele oásis é de vera, e não uma miragem.
Em segundos, ficam para trás os 60 minutos de sacolejos nas jardineiras 4x4. Apenas os parrudos veículos são capazes de passar ilesos pelas poças fundas d’água ao longo do arenoso trajeto, que começa às margens do Rio Preguiças e vai até a entrada do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.
A área de 155 mil ha está sob a proteção de leis federais desde 1981. Não à toa, os veículos só vão até perto da subida dos montes de areia. Para dar vez ao seu lado Lawrence da Arábia e escalar as dunas, só mesmo a pé e com o corpo besuntado de protetor solar, chapéu e água. Pronto. Suba e desça até as canelas aguentarem. Afinal, há montanhas de areia que chegam a 40 metros de altura.
Mas antes de desbravar os Grandes Lençóis e ficar boquiaberto com a beleza da Lagoa Azul – a mais cobiçada não apenas pelo cenário natural, mas também pelo fácil acesso –, voltemos à pacata Barreirinhas. É lá que começa a expedição no surpreendente recanto brasileiro. É lá também onde se encontram hotéis, pousadas e ótimas opções de restaurantes para se provar a gastronomia local, entre eles o A Canoa e o Barlavento.

















Considerada o portão para os Lençóis Maranhenses, a cidade fica a 265 quilômetros da capital São Luís. Após quatro horas de estrada, chega-se ao município, que serve de ponto de apoio e partida para os passeios pela região. Diariamente, saem lanchas “voadeiras” (nome provavelmente inspirado na velocidade que as embarcações desenvolvem) em direção à foz do Rio Preguiças, com paradas nas comunidades ribeirinhas de Vassouras (porta de entrada para os Pequenos Lençóis), Mandacaru e Caburé.
No caminho, o guia chama a atenção para as mudanças na vegetação. A princípio, entram em cena buritizais e pés de juçara (açaí na versão maranhense), as matérias-primas usadas pelas talentosas mãos dos artesãos. Das películas retiradas das folhas do buriti, eles tecem quase tudo, de colares a tapetes e até redes. As peças são coloridas com a tinta extraída do mangue vermelho, à mão e em fartura no cenário seguinte rio abaixo.
E antes de chegar a Atins, onde ocorre o encontro do Preguiças com o oceano, uma parada no barracão de dona Maria das Graças, para que os expedicionários refresquem a garganta antes de subir nos Pequenos Lençóis. A artesã de 52 anos, acompanhada dos filhos e de uma horda de macacos-prego dão as boas-vindas aos visitantes, ansiosos para ver de perto as lagoas menores da Área de Proteção Ambiental (APA).
As maiores e mais encantadoras estão nos Grandes Lençóis. Entre os dois santuários ecológicos, corre sinuoso e lentamente o Preguiças. É daí que vem o nome do mais maranhense dos rios – ele nasce e morre no Estado natal de Gonçalves Dias. O poeta, aliás, está na boca da garotada que recepciona diariamente dezenas de turistas que desembarcam em Mandacaru.
Lembrando o passado olindense, os meninos disputam a atenção de todos. Declamam Canção do exílio (“Minha terra tem palmeiras / Onde canta o sábia / As aves, que aqui gorjeiam,/ Não gorjeiam como lá ...” , lembrou?) e contam a história do charmoso farol, enquanto tentamos vencer cada degrau que leva ao topo do importante patrimônio da vila. Bruno Santos, 12, há seis anos atuando como guia, jura que o navio em que viajava Gonçalves Dias naufragou ali perto.
Mas o melhor é ver a cara de orgulho dele mostrando a generosa vista do topo dos 54 metros da edificação. De lá, avista-se o mar, recebendo as águas do Preguiças. A visão em 360º é tudo que qualquer desbravador deseja ter à sua frente. Linda!
A expedição rio abaixo segue. Chega-se à parada derradeira, na singela península de Caburé. Sua posição geográfica, permite os fregueses do restaurante Porto da Lua escolherem: molhar o corpo esquentado em água doce ou salgada. Ou nas duas.
O mar é calmo e a paisagem de ambos os lados do vilarejo é bonita de se ver. Em especial, após saborear um delicioso peixe fresco. Ah, depois das 22h as estrelas brilham soberanas por lá. É que o gerador de energia elétrica é desligado a essa hora. Não restam dúvidas, Caburé é refúgio ideal para se desconectar do mundo. É por estas e outras que os Lençóis Maranhenses convidam a se perder e se achar pelas dunas e pelos caminhos sinuosos do Rio Preguiças.