Comércio justo

Roupas do Nepal e das Olindas

Peças produzidas artesanalmente fazem sucesso entre os descolados

Mariana Mesquita
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Mariana Mesquita
Publicado em 29/11/2015 às 0:03
Foto: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
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Quem fez a roupa que você está vestindo, neste momento? Não importa se custou muito ou pouco, se foi vendida em butique de luxo ou em loja de departamentos: você tem certeza de que a pessoa que costurou sua roupa foi remunerada dignamente, dentro de um esquema consciente de produção? As roupas comercializadas por Christian Cunha, de 47 anos, trazem a consciência limpa como brinde para o consumidor. “É errado fomentar, ainda que de forma inconsciente, o trabalho escravo e infantil. Por isso, muita gente antenada vem optando por comprar conosco”, conta o dono da loja Pure Nepal, em Olinda.

A ideia surgiu há dois anos. Presidente da organização não-governamental Atelier Multicultural, após uma viagem à Europa Christian trouxe peças nepalesas para a irmã e a namorada. Depois, fazendo uma pesquisa sobre cooperativas que trabalhavam de forma justa, foi pessoalmente ao Nepal, pequeno país asiático próximo à Índia, à China e ao Tibete. Lá, passou um mês hospedado na casa de nepaleses e aprendeu muito sobre a cultura local. “Me tocou ver que, apesar de ser um país muito pobre, o Nepal é pleno de dignidade. Não há violência nem assaltos. Até o convívio entre religiões é harmônico. Lembro que uma vez apontei sem querer para um templo budista e o guia que estava comigo, que era hinduísta, brigou dizendo que meu gesto era falta de respeito, e me mandou morder o dedo”, ri o brasileiro. Na volta, trouxe algumas roupas e fez o primeiro bazar, só para amigos. “Vendi tudo”, confessa. Animado, criou uma página no Facebook e voltou ao Nepal para buscar mais peças. Não parou mais.

As roupas que a Pure Nepal vende são étnicas e, na opinião de algumas pessoas, “estranhas”. “Tem gente que não está acostumada com a estética”, admite Christian. Ele não tem catálogo, porque os produtores têm liberdade para criar modelos diferentes e de forma artesanal, o que faz muitas peças serem únicas. “Não há controle rígido, e a relação com a cooperativa se faz ainda melhor por conta disso. Cada remessa é uma surpresa positiva”, confessa.

Foto: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
Bom acabamento e garantia de origem atraem consumidores preocupados com a produção justa das roupas - Foto: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
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Loja física está localizada na rua de São Bento, 179, no centro histórico de Olinda - Foto: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
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Christian Cunha comemora o sucesso da iniciativa - Foto: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
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Colorido agrada aos consumidores - Foto: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
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Peças agradam a um público descolado e ligado às artes - Foto: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
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Saias e colares femininos atraem frequentadoras da Pure Nepal - Foto: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
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Calça saruel é um dos carros-chefes da loja - Foto: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
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Peças masculinas custam, em média, R$ 100 - Foto: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
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Peças masculinas custam, em média, R$ 100 - Foto: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
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Peças masculinas custam, em média, R$ 100 - Foto: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
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Peças masculinas custam, em média, R$ 100 - Foto: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
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Pure Nepal também investe em bijuterias e peças de decoração - Foto: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem
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- Foto: Ricardo B. Labastier/ JC Imagem

“As peças que vendo não são exatamente baratas, mas valem cada centavo”, destaca Christian. A média de preço fica por volta dos R$ 100, no caso de calças e camisas masculinas. Já os vestidos variam entre R$ 80 a R$ 150. Ele também está investindo na compra de peças infantis e nem a alta do dólar o faz desanimar. “Isso gera alguma dificuldade”, admite. Mas o problema maior, segundo ele, é a Receita Federal. “O Brasil é um dos poucos países que taxam roupas artesanais. Na Europa e nos Estados Unidos, este tipo de produto não paga imposto. Já aqui, depois de pagar o imposto sobre produtos industrializados (IPI) e outras taxas, o custo dobra”, critica. 

Apesar das dificuldades, o lojista explica que está “muito feliz de ajudar a quebrar o paradigma da roupa barata”. “Temos notícia de escândalos envolvendo marcas famosas, que comercializam peças produzidas na China e na Índia por crianças e trabalhadores escravos. Nossas peças são feitas com dignidade de produção, com material 100% algodão e acabamento com qualidade infinitamente superior”, defende. A proposta é bem aceita pelo seu público, “mais preocupado com conforto e procedência do que com moda”. “São pessoas antenadas, ligadas à ioga, à arte e à dança”, descreve.

Desde sua criação, a loja vem se expandindo. De virtual, com mais de seis mil seguidores na internet, ela tornou-se física. Em vez de bazares bimensais, as vendas tornaram-se mensais e, agora, todo sábado e domingo, das 15h às 21h, Christian abre seu espaço, na Rua de São Bento, 179, para receber os amigos. O lugar já virou ponto de encontro em Olinda e, a partir do ano que vem, vai se tornar uma loja de verdade, comercializando também bijuterias e objetos de decoração. “Funcionamos dentro de um esquema diferente, onde as pessoas são recebidas pelo dono e fazem amizade”, revela. 


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