Criança

Sérgio Mamberti, o querido Tio Victor

No Dia das Crianças, ator fala com o JC sobre o Castelo Rá-Tim-Bum, clássico dos anos 1990

Mateus Araújo
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Mateus Araújo
Publicado em 12/10/2014 às 6:05
Renato Rocha Miranda/TV Globo
No Dia das Crianças, ator fala com o JC sobre o Castelo Rá-Tim-Bum, clássico dos anos 1990 - FOTO: Renato Rocha Miranda/TV Globo
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A voz calma de Sérgio Mamberti – daquelas que ao telefone você imagina o sorriso do outro lado – é nostálgica para qualquer pessoa que tenha vivido a infância na década de 1990. Sérgio, eternizado no papel do feiticeiro e cientista Doutor Victor, é uma das figuras que habitam as nossas lembranças quando o assunto é o imaginário e lúdico universo da magia do Castelo Rá-Tim-Bum. Criado em 1994 (e gravado até 1997), o programa infantil era um deleite para meninos e meninas que se divertiam e, mais do que isso, aprendiam com as aventuras de Nino, Biba, Pedro e Zeca. 

“O programa atingiu, no mínimo, cinco gerações”, diz Sérgio. “Hoje, tenho pessoas de trinta e poucos anos que foram público desde pequenos. A gente pode falar do universo da criança antes e depois do Rá-Tim-Bum. Ele contribuiu de uma forma muito positiva para formação da cidadania brasileira”, completa. 

Tão grande ator como militante político dos mais engajados, Sérgio Mamberti é um dos artistas do Brasil que apostam na relação entre cultura e educação como alternativa para a construção de um País dos nossos sonhos. Por isso mesmo credita ao programa infantil um papel rico de formador de opinião das crianças hoje já (bem) grandinhas e pais e mãe de outras crianças. “Além de abordar a cultura, as identidades culturais do Brasil, o Castelo dava também uma margem no sentido de fazer com que a criança incorporasse o conhecimento de forma lúdica. As crianças do castelo (Nino, Biba, Zeca e Pedro) estavam sempre brincando. E isso mostrava que é brincando que as crianças aprendem”, afirma o ator. 

Com o Castelo Rá-Tim-Bum, as crianças brasileiras puderam aprender de forma criativa, lúdica e metafórica sobre os limites, regras, direitos e até uma nova maneira de ver a sociedade, antecipando inclusive a discussão sobre as contemporâneas estruturas familiares (diferente do padrão pai-mãe-filhos). Como lembra Sérgio Mamberti, Nino, o aprendiz de feiticeiro, era criado pelos tios Victor e Morgana (bruxa), após seus pais o deixaram porque precisavam viajar numa expedição ao espaço sideral.

“O Castelo despertou questões sobre o banho, a higiene, mostrando à criança como pode ser divertido tomar banho, ter uma relação com o meio ambiente, com a gastronomia, mesmo com as diferentes linguagens artísticas. Além disso, falou da relação com as gerações e como é importante o respeito pelos mais velhos, como os meninos tinham pelo Doutor Victor, que impunha limites”, lembra Sérgio Mamberti.

A prova da universalidade e atemporalidade do Castelo Rá-Tim-Bum está nos encontros de Sérgio Mamberti com o público. “Até hoje sou reconhecido na rua. Me param para pedir fotos, me chamar de Tio Victor”, brinca. Até hoje, 20 anos depois da estreia, o programa ainda está vivo na memória dos brasileiros. “Você vê uma média de duas mil pessoas por dia, visitando a exposição do Castelo no Museu da Imagem e dos Som, é quase um culto. Apesar de eu ter um rica carreira em TV, teatro, na militância política, Victor é o personagem mais bem resolvido de minha trajetória, que marca minha presença no cenário cultural do Brasil.”

Essa identificação e esse encanto que Sérgio Mamberti tem pela proposta do Castelo fica claro e evidente no envolvimento social que o ator desempenha na história do Brasil. Militante político (Sérgio esteve na equipe que formulou o plano do candidato a governo de São Paulo, Alexandre Padilha, do PT), o artista está sempre à frente ou em apoio a movimentos sociais importantes do País. “Minha geração se focou nos movimentos sociais, na transformação social e no plano político”, lembra ele que esteve no elenco de montagens antológicas como Calabar: o elogio da traição, de Chico Buarque e Ruy Guerra; e Toda nudez será castigada, de Nelson Rodrigues. “Estive recentemente no Recife, participando da parada do orgulho gay, manifestando meu apoio à diversidade sexual. E também estive no Ocupe Estelita (movimento contra a derrubada dos galpões do Cais José Estelita, no Bairro de São José), que é um espaço querido da cidade. Eu particularmente sou visitante do Recife, mas sempre achei que aquele Cais fosse um lugar ideal para se criar um espaço cultural. Não sou contra construir um condomínio, mas que grande parte seja reservada a população para o convívio cultural”, diz. “Quem sabe ali não se cria um espaço Rá-Tim-Bum. ‘Raios e trovões’ para quem quer derrubar o cais”, brinca o ator e dramaturgo, fazendo alusão ao bordão usado pelo Doutor Victor, para repreender os erros do sobrinho Nino.

Com Pernambuco, Sérgio tem uma relação de carinho e admiração. No Estado, ele mantém amigos de décadas, como o escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, que morreu em julho. “Frequento Pernambuco há muito anos, e tenho um carinho grande pela cidade. Tinha um carinho grande por Ariano, convivi com ele. E tenho admiração enorme pela qualidade artística que se faz nesse Estado”, recorda o ator que ainda aproveita para mandar um beijo para os pernambucanos. 

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