
Chegam em boa hora – mas ainda não no tempo que seria desejável – as obras de requalificação da Segunda Perimetral do Recife, corredor com avenidas ligando a Zona Oeste à Zona Norte da cidade. Quando olhamos no retrovisor a intervenção remodeladora para a cidade do Recife proposta pelo arquiteto Nestor de Figueiredo em junho de 1930, no IV Congresso Pan-Americano de Arquitetos, o que se pode dizer é que nesse enorme lapso de tempo – 89 anos - o que se fez foi insuficiente para de fato atualizar as carências urbanas de uma cidade que viu crescer sua população de 300 mil para mais de 1 milhão e 600 mil habitantes, ficando longe, assim, do ideal de uma cidade humanizada.
No meio desse percurso, lá pelos idos dos anos 1970, dava-se como vital para nossa cidade o que veio a ser uma das mais expressivas mudanças urbanas do Recife, o prolongamento e alargamento da Avenida Dantas Barreto, apresentadas como fundamentais para enfrentar o cenário caótico do trânsito do centro e para a ligação entre o centro e zona sul. No entanto, o caos aí está, fazendo do Recife o pior trânsito do Brasil e o 10º pior do mundo, de acordo com a edição 2018 do ranking Traffic Index.
Certamente a chamada “requalificação da Segunda Perimetral” deverá contribuir para atenuar um pouco essa imagem de uma cidade que a cada ano anda mais devagar e complica o cotidiano de centenas de milhares de pessoas, mas não basta. As lições de todos os grandes centros urbanos do mundo nos mostram que é preciso cobrar mais, algo como uma reforma urbana que dê à cidade a expectativa de modernização preconizada há quase um século por Nestor de Figueiredo e retomada por Antônio Bezerra Baltar no início dos anos 50, através do trabalho Diretrizes de um plano regional para o Recife, tese para o provimento da cadeira de urbanismo e arquitetura paisagística na Escola de Belas Artes.
Cenário caótico
Tão grave continua o cenário caótico da cidade do Recife que não será demais enxergar no que se faz hoje apenas um arremedo das profundas transformações urbanas que uma megalópole precisa para se tornar um espaço humanizado. Alguma coisa bem mais à frente do que apregoa o presidente da URB, Joao Alberto Costa, quando diz em relação à Segunda Perimetral que a população será beneficiada com pavimentação das vias, faixa exclusiva para ônibus, iluminação em LED, recuperação das calçadas, rota para bicicletas, ao que acrescenta “mais conforto para andar de ônibus, para caminhar e se sentir mais segura”.
Se essa perspectiva é atribuída a uma pequena parte da população, torna-se compreensível. Mas não pode ser aplicada a todos os recifenses, muito menos ao cenário metropolitano que faz mais complexa e urgente a intervenção através de transformações mais profundas e mais radicais, tanto no espaço urbano como está posto agora quanto no processo de ocupação que está associado à conurbação e ao agravamento das condições sociais como se dá, por exemplo, com o desemprego.
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