Política

Nova geração de dirigentes se prepara para assumir o poder em Cuba

Processo de renovação geracional deve culminar com a sucessão do presidente Raúl Castro

Da AFP
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Publicado em 16/07/2015 às 13:22
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Processo de renovação geracional deve culminar com a sucessão do presidente Raúl Castro - FOTO: Foto: AFP
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Em apenas oito meses, dirigentes mais jovens começarão a substituir os líderes históricos da Revolução Cubana, dando início a um processo de renovação geracional que deve culminar com a sucessão do presidente Raúl Castro, em fevereiro de 2018.

Têm entre 45 e 60 anos, são chamados de "filhos de Guilherme Tell" e seu desafio não será fácil, já que deverão se legitimar ante uma sociedade que se abre aceleradamente ao mundo, e busca maior participação e prosperidade, segundo analistas. "Os imperativos que terão que enfrentar (...) são muito maiores que reforma constitucional e outra lei eleitoral previstas" pelo governo, afirma à AFP o sociólogo Luis Suárez.

"Não apenas é uma geração diferente, mas é uma realidade diferente. Muitas mudanças são e serão necessárias", afirma à AFP o cineasta Ernesto Daranas (53 anos). Os líderes em fim de carreira superam os 80 anos, ao que se soma o limite de 10 aos para desempenhar um cargo, estabelecido em 2012 por Raúl Castro (de 84 anos).

Fidel, que completará 89 anos em um mês, já deixou seus cargos no governo e o Partido Comunista (único) agora é gerido pelos demais líderes históricos. Os "filhos de Guilherme Tell" liderarão o governo a partir de fevereiro de 2018, quando Raúl Castro deixar a presidência.

Mas antes, em abril de 2016, devem chegar aos principais postos no Partido, que em seu VII Congresso deverá lançar uma reforma política que harmonize com a nova realidade econômica de maior abertura ao setor privado e aos investimentos estrangeiros.

Esta geração cunhou seu nome de uma canção do cantor cubano Carlos Varela (52 anos), que menciona o herói lendário suíço: "Guillermo Tell, seu filho cresceu, quer atirar a flecha, cabe a ele provar seu valor, usando sua balestra".

Chegaram à juventude em meados dos anos 70, quando Fidel adotou uma constituição comunista, que marcou uma rota diferente dos "tempos heroicos e românticos" dos anos 60. Esta é a terceira geração da revolução, depois dos históricos e de uma segunda, de 60 a 80 anos, que está começando a se aposentar sem ter chegado ao poder.

Figuras visíveis

Esta geração conta com três homens em postos chave: o vice-presidente Miguel Díaz-Canen (de 55 anos), o chanceler Bruno Rodríguez (57) e o ministro da Economia, Marino Murillo (54), todos membros do seleto Burô Político do Partido.

Outras três figuras a levar em conta são os chefes do Partido em províncias: Lázaro Expósito (60 anos, Santiago de Cuba), Jorge Luis Tapia (52, Camagüey) e Mercedes López Acea (51, Havana).

Alguns apontam a importância do coronel Alejandro Castro, filho do presidente, assim como dos cinco agentes liberados pelos Estados Unidos após mais de 15 anos de prisão, que lhes deram legitimidade, com idades entre 50 e 59 anos.

Nestes dirigentes "é apreciado o pragmatismo e uma elevação da importância econômica", afirma o analista Arturo López-Levy (46), que vive nos Estados Unidos. "Há uma posição menos hostil (...) ao mercado, mas sem abandonar os valores de igualdade social e soberania política", acrescenta.

"Terão que governar e satisfazer as necessidades de uma sociedade muito mais complexa em relação à que cresceram (...) empregando novos saberes que não foram ensinados na etapa 'dogmática' de sua educação", opina Suárez.

A sexóloga Mariela Castro (52), filha do presidente cubano e parte desta nova geração, disse recentemente: "Sinto-me no dever de dar a este processo meus conhecimentos, meu aprendizado, minhas reflexões, meu olhar crítico ao que foi feito; mas também minha proposta e acredito que esta geração está trabalhando fortemente nisso".

Traumas e desafios

Membros desta geração foram à guerra de Angola (1975-91) como sargentos e soldados, e representaram a maior quantidade de mortos, feridos e mutilados. Foi "sua prova de fogo", disse Suárez.

"O clímax do altruísmo da revolução, e ao mesmo tempo o do desengano. Depois de Angola, nada foi igual", indica o artista plástico René Francisco Rodríguez (54 anos), prêmio Nacional de Artes Plásticas. Foi "uma experiência heroica e um trauma", afirma López-Levy.

Dar uma nova interpretação a este ocorrido forma parte de sua legitimidade. Ainda assim, terão que enfrentar seus desafios. "É uma geração bem preparada, mas que na hora de concretizar suas aspirações encontrou poucas opções de futuro", afirma Daranas.

Caberá a eles "a criação de instituições para dirigir de modo mais persuasivo e menos vertical, com uma relação mais sancionada do poder civil sobre os militares. Se esta realidade não se expressar na Assembleia Nacional e em outros órgãos representativos, se manifestará nas ruas", conclui López-Levy. 

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