Quem passou nos últimos dias entre as ruas professor Augusto Wanderley Filho e Motocolombó, no ‘pé’ da ponte de mesmo nome, que liga os bairros de Afogados e Imbiribeira, divisa entre as zonas Oeste e Sul no Recife, já deve ter se deparado com uma cena incomum: atletas usando dobok e pedindo dinheiro no sinal de trânsito. A causa é para lá de nobre e demonstra que esporte é muito mais do que competir em quadras, campos ou tatames. A briga é também para ter o direito de realizar sonhos, como os de três jovens, que contam com a ajuda pedida no sinal para conseguirem representar Pernambuco na Copa do Brasil de Taekwondo, que ocorre entre 19 a 25 de novembro, em São José, distante 15 quilômetros de Florianópolis, em Santa Catarina.
Valdeck Bruno da Silva, de 16 anos, e Wallace Apolinário, 23, fazem parte do time da Academia Anjos do Taekwondo, que tem, no total, 11 atletas classificados para lutar no Sul do País. O terceiro integrante que arrecada dinheiro nos semáforos é Anderson Cristiano Neves, 23. Diferente dos dois, ele está de fora da competição por ter lesionado os ligamentos dos dois joelhos durante um treino, em março de 2016. Mais de dois anos se passaram e Anderson conta com essa arrecadação para tentar fazer a cirurgia que ainda não foi realizada.
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A ideia do ‘pedágio’ veio do treinador Valdomiro Amorim, 42, reconhecendo a dificuldade de financiar a viagem para todos os classificados. Eles não querem ‘luxo’ para viajar. Só de estar em Santa Catarina será a realização de mais um sonho para esses jovens lutadores acostumados a derrotar oponentes muito mais difíceis daqueles encontrados nos tatames: falta de apoio e dinheiro.
Sem patrocínio, eles já tentaram arrecadar fundos com bingos e rifas, mas a maior parte do montante foi levantada mesmo com a ajuda dos motoristas nos semáforos. Na última semana, a reportagem do Jornal do Commercio flagrou os três jovens carregando um cartaz que dizia: “Ajude um atleta a participar da Copa do Brasil Taekwondo”. Eles têm 45 segundos do semáforo vermelho para sensibilizar quem passa apressado rumo aos seus compromissos. Nem a chuva tira a determinação deles em levantar o necessário para alçar voos mais altos Pernambuco afora. “Estamos treinando diariamente, ainda que meio nervosos por não saber como se portar no sinal. As pessoas perguntam para onde vamos, ajudam, mas o gasto de hospedagem, alimentação e transporte ainda é muito alto”, explica Bruno.
O sacrifício do trio é tão grande que por pouco não terminou em tragédia. Após cinco dias seguidos arrecadando dinheiro para dividir igualmente entre os três, Wallace foi assaltado e perdeu tudo que tinha nos bolsos, aproximadamente R$ 580. Passando pelo bairro da Ilha do Retiro, também na Zona Oeste do Recife, após mais um dia de arrecadação, dois homens armados efetuaram o assalto. O atleta tentou proteger a mochila, mas perdeu a quantia, documentos e a faixa preta que o acompanhou por oito anos.
Diante desse novo obstáculo, o trio reservou um dia inteiro para Wallace, na tentativa de suprir aquilo que já era escasso. “A luta é um trabalho de transformação de índole e personalidade. Eles são meninos extremamente amorosos dentro e fora do tatame”, disse o treinador. Resultado disso são as dezenas de medalhas estaduais, regionais e nacionais dos atletas.
Quem puder colaborar pode depositar qualquer quantia na conta poupança de Bruno (0046 013 65941-2, da Caixa Econômica) ou entrar em contato através do telefone (81) 98457-5106.
Fundada há 19 anos, a Academia Anjos do Taekwondo é praticamente a segunda casa de Bruno, Wallace e Anderson, que cresceram e treinam lá de segunda a sexta-feira. Além deles, mais nove atletas de lá também foram classificados na última seletiva, realizada em Limoeiro, para representar Pernambuco no campeonato. “Além dos nossos, outros atletas das demais academias foram classificados para compor a equipe. A Federação Pernambucana de Taekwondo (FPETKD) arca com a inscrição de todos, mas não tem condições de garantir hospedagem, alimentação e transporte”, esclarece Valdomiro, que, além de técnico, também preside a FPETKD.
Posicionamento do Governo do Estado
Procurado pelo Jornal do Commercio para saber de que forma ajuda os atletas a disputarem os campeonatos fora de Pernambuco, o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Esportes, Turismo e Lazer, explicou que clube, federação ou associação podem dar entrada pelos atletas para fazer a solicitação de ajuda até 35 dias antes de qualquer competição. Porém, até a última quarta-feira (1º), pedido algum foi realizado.
Como ajudar os atletas
Caixa Econômica Federal
Depósito na conta poupança: 0046 013 65941-2
Nome: Valdeck Bruno Ferreira da Silva
CPF: 71184081409
Telefone: (81) 98457-5106
