“A figura do homem provedor e com boas condições financeiras sempre foi muito comum e tradicional no Brasil. E como os dois lados estão cientes do tipo de relação que procuram, porque existe muita transparência e honestidade, funciona”. É assim que a empresária meio estadunidense, meio brasileira, Jennifer Lobo, CEO do site Meu Patrocínio - plataforma online que conecta homens financeiramente bem sucedidos a mulheres jovens e ‘ambiciosas’ -, justifica o sucesso de seu negócio no Brasil.
Atualmente, a empresa conta com mais de 200 mil usuários cadastrados em menos de dois anos de criação. Para participar, os homens bem sucedidos, conhecidos como sugar dadies (doces papais, em tradução literal), pagam mensalidades de R$ 200 ou R$ 1 mil, a depender dos recursos que desejam obter no site. Já as moças participam gratuitamente.
A CEO do Meu Patrocínio não revela o faturamento mensal do projeto, mas caso todos os usuários pagantes (32 mil, de acordo com o próprio site), optassem pelo plano mais simples, cuja mensalidade é de R$ 200, o faturamento mensal da plataforma seria de R$ 6,4 milhões.
Ela própria uma sugar baby (como são chamadas as mulheres que se relacionam com homens maduros em troca de estabilidade e experiência), Jennifer conheceu o modelo de relacionamento nos Estados Unidos, onde morou grande parte de sua vida, e decidiu exportá-lo para o Brasil, onde as atividades começaram em novembro de 2015.
“O mercado de aplicativos já era forte aqui, mas não havia nada parecido, então conseguimos reproduzir do jeito que nós gostaríamos, de uma forma muito honesta e transparente entre os participantes”, comenta. Foi o próprio sugar daddy de Jennifer que patrocinou a fundação da empresa.
Quando perguntada se o Meu Patrocínio é um site de prostituição, ela explica que não, e aponta que as pessoas acreditam nisso por desconhecerem o relacionamento tipo sugar. “É um preconceito. Existem milhares de pessoas no mundo, e se você pode unir amor e dinheiro em um relacionamento, por que não? O site te dá a chance de escolher os dois”, afirma. As críticas de machismo também são rebatidas pela CEO, que afirma promover relações igualitárias porque há também a chance de mulheres bem sucedidas buscarem homens mais novos, além de relacionamentos gays.
Entre os homens participantes, a média de idade é de 42 anos com renda mensal próxima dos R$ 50 mil. Já as mulheres têm, em média, 24 anos. O número de usárias femininas é cerca de seis vezes maior que de usuários masculinos. Em menor número, há também a presença de sugar mommies (mulheres mais velhas e com boas condições financeiras a procura de homens mais novos) e relacionamentos gays.
A diferença entre as assinaturas regular (R$ 200/mês) e premium (R$ 1 mil/mês) é o número de informações disponibilizadas e a exposição para as sugar babies. Quem paga o pacote mais caro fica em uma ‘vitrine’ mais exposta para as mulheres, pode preencher um perfil mais completo e tem seus antecedentes criminais disponibilizados, o que garante mais segurança para as sugar babies.
Participante da rede de relacionamentos, Paulo* conta que, por trabalhar e viajar com frequência, escolheu a rede social para procurar relacionamentos. “É uma forma de conhecer pessoas em um nível social parecido, já que as sugar babies também vêm de boas famílias. A maioria precisa de ajuda para pagar a faculdade, mas diferente do que todo mundo pensa, não existe uma obrigação do homem bancar nada automaticamente. É um relacionamento, as pessoas saem para jantar, se conhecerem melhor, e a partir daí veem o que vai acontecer”, diz o empresário, que há seis meses está na rede.
RELAÇÕES LÍQUIDAS
Na opinião do professor de Sociologia do Direito e mestre em Filosofia do Direito da Faculdade dos Guararapes (UniFG), Isaac Luna, o site Meu Patrocínio faz parte de uma lógica da pós-modernidade. “É um novo padrão de comportamento cada vez menos reprovável do ponto de vista da ética, as pessoas se importam cada vez mais com a estética e com a manutenção de relacionamentos que sejam estéticos, então faz todo sentido o homem bem sucedido e a mulher jovem e bonita”, considera.