COMPORTAMENTO

Livro de colorir para adultos é o mais novo fenômeno editorial de vendas

Colorir para descontrair: A ideia surgiu por acaso e a autora se tornou milionária

Talita Barbosa
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Talita Barbosa
Publicado em 17/05/2015 às 14:45
Divulgação Johanna Basford
Colorir para descontrair: A ideia surgiu por acaso e a autora se tornou milionária - FOTO: Divulgação Johanna Basford
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O grande sucesso das livrarias no momento não é nenhum livro de autoajuda, romance erótico ou o volume de alguma saga. Livros de colorir para adultos são as publicações mais vendidas no mercado atualmente, e ganham fama como um passatempo que relaxa e estimula a criatividade. Para o público adulto, os desenhos apresentam um padrão mais complexo a ser colorido, com temas que variam de mandalas e imagens eróticas a jardins e florestas, como as do livro pioneiro no segmento, O jardim secreto.

A antiga prática, antes encarada como algo exclusivamente infantil, ganhou novos ares e virou um fenômeno editorial. Além da proposta especial, muito do fascínio exercido vem da combinação de refinamento, simplicidade e saudosismo da atividade e das ilustrações. Diferentemente dos livros infantis, os livros de colorir para adultos têm como marca um estilo cheio de arabescos e desenhos que não pedem somente cor, mas propõem também um desafio, já que a ideia das publicações é interagir com quem estiver lendo. Nos livros, além de pintar, o leitor deve encontrar determinadas imagens à medida em que colore. No final, há uma folha de respostas indicando onde estão os desenhos escondidos. 

“Não conhecia esse tipo de livro até pouco tempo, e não esperava me encantar tanto pela atividade. Eles têm muitos desenhos, que são superdetalhados e, por isso mesmo, demoro a pintá-los. Achei estranho no começo, mas vi muita gente fazendo e resolvi testar. Eles relaxam, te desligam do mundo, você passa horas e horas ocupada com a atividade e não vê o tempo passar”, comenta a blogueira Daiane Barbosa. 

O Jardim secreto já despachou mais de 1,5 milhão de exemplares e foi traduzido para 24 idiomas. A edição nacional já foi reimpressa 12 vezes, sendo o preço médio dos livros, R$ 29,90.

A ideia começou com a ilustradora escocesa Johanna Basford, que já trabalhou para marcas como Starbucks, Sony e Nike. Johanna foi convidada por um agente que estava em busca de desenhistas para obras infantis e, diante da proposta, apresentou o projeto do livro de colorir voltado para adultos. A ideia foi aceita e ela passou nove meses dedicando suas horas vagas à produção da obra. “As pessoas estão realmente empolgadas em fazer algo criativo, mesmo em uma época em que estamos nos importando tanto com telas e com a internet. Colorir não é tão assustador como ter um papel ou uma tela em branco. É uma ótima forma de desestressar”, contou ela ao jornal The New York Times. Todos os traços dos desenhos de Johanna são feitos à mão, no papel. 

A ideia inusitada da ilustradora virou best-seller e ela, milionária. Tudo começou com o Jardim secreto, primeiro livro dela, lançado em 2013, que atualmente figura na lista dos mais vendidos do jornal americano The New York Times e da Amazon. No Brasil, o número de vendas dos livros de Johanna ajuda a dimensionar o sucesso desse tipo de publicação. De acordo com o ranking da Publishnews, publicação voltada para o mercado editorial, as obras Jardim secreto e a sequência Floresta encantada lideram a lista dos mais vendidos do site. A primeira vendeu 122.654 exemplares em abril, enquanto a segunda vendeu 109.224. A edição nacional já foi reimpressa 12 vezes, sendo o preço médio dos livros, R$ 29,90. No mundo todo, O Jardim secreto já despachou mais de 1,5 milhão de exemplares e foi traduzido para 24 idiomas. No Facebook, há diversos grupos nos quais são compartilhadas diariamente dicas de como pintar ou sobre qual seria o melhor lápis. Um deles, já conta com mais de 15 mil membros.

FALTA DE PRESSA E CONTROLE DO TEMPO GERAM SATISFAÇÃO

O público interessado neste tipo de livro não se limita a pessoas que querem rememorar a infância. Adultos tensos, facilmente atraídos pelas palavras “antiestresse” e “arteterapia” presentes nas capas, são os principais consumidores. Pintar envolve reconhecimento de cores, limites de espaços, sequência e planejamento. Para os adultos, representa um momento de desligamento das preocupações e incentiva as pessoas a terem um espaço somente seu, desligando o pensamento das preocupações. “A sensação que sinto quando estou pintando é tão boa, que acho que nem sei decifrar. Só sei que é a única coisa que faz com que minha cabeça pare de trabalhar e pensar. Além disso, sou notívaga e eles têm ajudado em minhas insônias permanentes”, conta a leitora Nize Rolim.

Habilidades como atenção, coordenação fina e percepção visual são trabalhadas durante a pintura e estimuladas no processo terapêutico. A terapeuta ocupacional Ana Leite, autora do site Reab.me, afirma que a terapia ocupacional vê os livros de colorir como um recurso terapêutico valioso porque, com essa atividade, são favorecidas habilidades cognitivas, motoras, sociais e emocionais.

O efeito calmante do colorir deve-se à identificação do sujeito com uma atividade prazerosa para ele, que para outros pode ser o futebol no final de semana ou tocar um instrumento.

Ana Leite, Terapeuta Ocupacional

“Colorir faz bem porque, além das habilidades de estimulação às funções cerebrais e até sociais e emocionais, quem se interessa pela atividade tem uma oportunidade preciosa de, num mundo tão voltado pra tecnologia, se envolver em uma atividade analógica que pode ser feita na velocidade que o sujeito deseja, da forma que quer e ainda com cores e estímulos nos quais ele controla e obtém um resultado, um produto final”, afirma ela. A profissional comenta ainda que a dupla lápis e papel ressurgiu para os adultos num momento ideal, esse no qual estamos imersos, cheio de excessos e muitas exigências.

“O efeito calmante do colorir deve-se à identificação do sujeito com uma atividade prazerosa para ele, que para outros pode ser o futebol no final de semana ou tocar um instrumento. Estamos constantemente sendo exigidos e poder realizar uma atividade livre, sem cobranças e com estímulos que você controla, gera para o cérebro sensações e emoções que culminam nesse efeito calmante”, afirma a terapeuta. Desse modo, os leitores são cativados pela proposta e se entregam aos desenhos e à pintura. 

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