
Já faz algum tempo que a internet encontrou um muso para idolatrar sem peso na consciência: Keanu Reeves. Este ano, especificamente, o ator parece ter conquistado os corações dos internautas com uma mitologia crescente em torno de sua vida pessoal. Há de teorias de que ele seria imortal à afirmação de que o artista seria o protótipo do homem ideal, longe da masculinidade tóxica. Não à toa, está sendo chamado de “Namoradinho da Internet”.
Um dos rostos mais conhecidos do cinema com participações em blockbusters desde os anos 1990, a exemplo de Velocidade Máxima (1994) à trilogia Matrix, iniciada em 1999, Keanu sempre manteve sua vida pessoal resguardada. Apesar de ser um símbolo sexual desde o início de sua vida adulta, seu status como “crush” começou a se desenhar com uma foto nada glamourosa.
Em 2010, um paparazzo clicou o astro libanês (ele nasceu no Líbano, mas tem cidadania canadense) sozinho, comendo um sanduíche, em um banco de um parque. Com expressão abatida, ele gerou comoção na internet e se transformou em um meme. A imagem gerou até a criação do Cheer Up Keanu Reeves Day, celebrado dia 15 de junho, em um esforço coletivo de “animar” o ator.
Notícias sobre eventos trágicos da vida do ator começaram a ser associadas à fotografia, como espécies de indícios de seu sofrimento. Em 1999, ele e sua então namorada Jennifer Syme esperavam o primeiro filho quando, aos oito meses de gestação, receberam a notícia de que a criança estava morta no útero. O casal se separou algum tempo depois, mas Jennifer entrou em depressão profunda, morrendo em um acidente de carro alguns anos depois, após dirigir medicada. A morte da ex-namorada afetou muito Keanu, que adiou as gravações das sequências de Matrix para cuidar de sua saúde mental.
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Apesar de se declarar alguém solitário, Keanu não abraçou a imagem soturna que criaram. Quando lançou o livro Ode To Happiness (Ode à Felicidade, em português), muitos perguntaram se tinha traços autobiográficos. Ele afirmou que pelo contrário: a ideia surgiu quando ouviu uma música deprimente no rádio e, com amigos, resolveu brincar com esse fetiche em relação à tristeza.
Desde então, outras imagens comoveram os internautas: Keanu deitado no chão enquanto conversava com uma pessoa em situação de rua; Keanu andando de metrô e cedendo seu lugar para uma mulher que carregava uma bolsa pesada. Enfim, o ator virou sinônimo de gentileza e longe da imagem de inacessível dos astros hollywoodianos.
Recentemente, viralizou uma série de imagens nas quais ele aparece com fãs mulheres e, em todas as fotos, percebe-se que ele não encosta as mãos nelas, o que foi visto como um sinal de respeito. Em tempos de #MeToo, foi um recado bem-vindo. A euforia em torno de suas atitudes, inclusive, pode ser lida como uma tentativa de enaltecer uma masculinidade fora dos padrões tóxicos que prevalecem na sociedade machista.
Sabia que quando o Keanu Reeves vai tirar foto com mulheres ele não encosta muito pelo respeito que ele tem pelas pessoas? pic.twitter.com/lmgkw8lv4e
— Gabriel (@LevitatePilot) 27 de junho de 2019
Como em toda construção de mitos, é claro que há uma série de criações fantasiosas. Uma delas, que foi dada como verdade por muito tempo, é a de que ele teria doado para a equipe de efeitos especiais 80 milhões de dólares lucrados com a franquia Matrix.
A informação foi negada pelos supostos beneficiários. Recentemente, surgiu uma imagem dele cercado de gatinhos (outra obsessão da internet), amplamente divulgada. Era uma montagem.
'KEANUÍSMO'
O “keanuísmo”, como foi classificado o culto ao ator, não para de crescer: só este ano, o ator já deu voz ao personagem Duke Caboom, de Toy Story 4, voltou a viver o fenômeno de filmes de ação John Wick (e um novo filme deve sair em 2021), e irá aparecer como personagem no jogo Cyberpunk 2077, ano que vem.
Ator, músico (ele fez parte da banda Dogstar até 2002), ativista, filantropo (apoia várias causas sociais), gente fina, discreto e meme: Keanu, ainda que despretensiosamente, virou o protótipo do homem ideal em 2019.