show

Maíra Freitas leva o piano para fazer batucada no Manhattan

Cantora e pianista, filha de Martinho da Vila, inicia turnê do novo disco no Recife

Karol Pacheco
Cadastrado por
Karol Pacheco
Publicado em 17/10/2015 às 8:30
Divulgação
Cantora e pianista, filha de Martinho da Vila, inicia turnê do novo disco no Recife - FOTO: Divulgação
Leitura:

M aíra Freitas, 30 anos, pianista desde os 7, se reafirma como cantora e arranjadora no seu segundo disco, intitulado Piano e Batucada (Biscoito Fino/Natura Musical). A turnê do álbum começa hoje, no Recife, em show – que tem o sanfoneiro Cezzinha e a dupla Racine & Ravel como convidados – no Manhattan Café Theatro, à 0h30.

Filha do sambista Martinho da Vila, Maíra era ainda criança – uns 9, 10 anos de idade – quando se deparou com o racismo que afirma existir até hoje na música erudita. Foi num concurso para pianistas no interior de São Paulo, onde estava acompanhada por sua mãe, Rita:

“E você tá participando de um concurso de piano?”, perguntou um homem.
- “Tô!”, respondeu a menina.

– “Mas você não tem cara de pianista”, retrucou ele. “Por que você toca piano? Você tem cara de quem toca tambor. O que você tá fazendo aqui?”

– “Mas eu não posso tocar piano, não, moço?”, treplicou, ainda confusa com as perguntas. “Deixa eu tocar piano!”

O episódio que Maíra hoje conta ao JC, às gargalhadas, é mais um dos motes desconstruídos no seu novo disco. Prova disso é a sua releitura para Feeling Good, de Nina Simone. “Eu gosto muito e sempre fui fã dela. Me identifiquei, claro: mulher, negra, que lutou pelos direitos civis dos negros norteamericanos, lutou pela igualdade racial e a importância disso pro mundo. E pianista, né? Ela queria ser pianista clássica, o sonho dela era ser pianista clássica, e não conseguiu entrar na faculdade porque era negra. Eu sempre achei muito forte essa história, me marcou muito. Sempre quis cantar uma música dela”, se orgulha Maíra, Bacharel em Piano pela Escola de Música da UFRJ, em entrevista a Ismaela Silva, no programa Notas Musicais, da Rádio Jornal (AM 780 e FM 90,3).

“Feeling Good é uma música que eu amo. Que fala de estar bem, de se sentir bem. Estou feliz, me sentindo bem agora. O sol tá brilhando, os passarinhos estão cantando”, se anima.

Para a gravação do disco, na Bahia, ela convidou o bloco carnavalesco Ilê Aiyê: “Eles colocaram uns atabaques, uns repiques. É como se eu tivesse levado a Nina Simone dentro do Ilê Aiyê, lá no Curuzu (bairro soteropolitano)”.

As participações especiais continuam com o gaúcho Filipe Catto (em Estranha Loucura); o carioca João Sabiá (em Pousa); e, na alegre Gargalhada, com o paraense Felipe Cordeiro e a sua irmã Mart’nália (produtora musical do disco de estreia). Piano e Batucada flerta com estilos como valsa, ska, samba, samba-reggae e jazz, sobretudo.

Se no homônimo Maíra Freitas (2011), ela interpretou clássicos do samba – entre eles, a Disritmia de seu pai, com participação do próprio Martinho; e prevista no repertório do show de hoje –, nas veias do novo CD corre mais sangue autoral. É só de Maíra o crédito das canções Não Sei, Sei Lá e Nua. Nesta, auto-adjetivos escorrem pelos versos: “bem maluca e teimosa / descabida e gostosa / escancarada e macia / firme, fresca, simples, livre, leve e solta”.

Acerca da música pernambucana, Maíra cita o Maestro Spok e os naipes de metal que agora chegam às fanfarras cariocas; além de relevar a cena pianista daqui: “Toquei num evento que o Vitor Araújo tocava; Zé Manoel, a mesma coisa. Já troquei mensagens aqui e ali, ouvi os discos deles. Acho bacana Pernambuco estar produzindo pianistas”.


O experiente tecladista Sacha Amback é o produtor musical do disco. Dos anos 1990 pra cá, o instrumentista tem se debruçado sobre o universo eletrônico, o que contribuiu muito com o viés que Maíra também vem experimentando – em 2013, por exemplo, num showcase do Porto Musical, no bairro do Recife, ela já namorava com uns loopings no palco.

“Sacha tem um background de sintetizadores, de sonzinhos, de engenharia de som. Ele tem muita bagagem, tocou com muita gente, produz todo mundo: Ney Matogrosso, Adriana Calcanhotto. Ele foi um canalizador, uma base. E também puxei muito dele essas coisas dos synths. Ele colocou uns synths maravilhosos”, revela Maíra, que ousou brincar com a sua própria voz, cantarolando ou assobiando em algumas músicas do disco. 

https://soundcloud.com/umapinoia/jc-entrevista-maira-freitas

Últimas notícias