
Em 19 de outubro de 2012 a Rede Globo encerrava um ciclo que marcou a teledramaturgia nacional recente: neste dia o Brasil conheceria o desfecho da história de Nina e Carminha. Com 50,9 pontos no Ibope, Avenida Brasil, de João Emanuel Carneiro, chegou ao fim com a maior audiência registrada na TV brasileira naquele ano. O número, embora grandioso, não chegou a ser um recorde para um capítulo final de novela: Passione (2010), de Silvio de Abreu, marcara 52 pontos no Ibope e Caminho das Índias (2009), de Glória Perez, se encerrou com 55 pontos. A cobertura, no entanto, era digna de Copa do Mundo: no Jornal Nacional, o Globocop sobrevoou São Paulo; outras imagens mostravam grandes avenidas do Rio de Janeiro e Salvador vazias. Nos bares e restaurantes, o público se reunia em torno do grande mistério: “Quem matou o canastrão Max?”
O enigma, aliás, sempre foi um bom filão para as tramas das 20h e 21h. Em 1988, o país parou para saber quem matou Odete Roitman, em Vale Tudo, de Gilberto Braga. William Bonner chegou a encerrar o Jornal Nacional, em 2003, lembrando que finalmente descobriríamos quem matou Lineu, no capítulo final de Celebridade, também de Gilberto Braga. A já comentada Passione também chegou ao fim embalada em suspense.
Para a emissora, Avenida Brasil ainda renderia por anos: foi uma das tramas mais vendidas para o exterior, a primeira novela brasileira a ser traduzida para o dialeto árabe, e levou os atores Murilo Benício e Débora Falabella para Lisboa, onde apresentaram uma categoria na premiação Globos de Ouro. Por aqui, o sucesso continuou na internet, com bordões como “Me serve, vadia”, que rendeu até um funk. A própria Globo chegou a brincar com uma possível continuação da novela.
Ao anunciar o último folhetim das 21h, também de João Emanuel Carneiro, a emissora vendeu A Regra do Jogo como a sucessora de um triunfo. As chamadas destacavam: “do mesmo autor de Avenida Brasil”. JEC já tinha um currículo admirável: eram também de sua autoria os sucessos A Favorita e Da Cor do Pecado. Para enriquecer o produto, A Regra do Jogo ainda trazia em seu núcleo principal o nome de outro fenômeno, Alexandre Nero. O ator, que caiu nas graças do público como o Comendador da novela Império, apareceu no primeiro teaser arrebatador da novela. Era a chance da Globo de se levantar de dois desastres seguidos: Babilônia, última novela de Gilberto Braga, cercada de polêmicas, tendo a pior audiência da história da emissora, e sua antecessora, Império, que apesar do furor em torno do personagem de Nero, fora a segunda pior audiência até então. As coisas não estavam fáceis no horário nobre da maior emissora de TV do país.
Logo no primeiro capítulo de A Regra do Jogo, o telespectador levou seu primeiro baque. Ao som de Vem Dançar com Tudo (Kuduro), Avenida Brasil teve uma das melhores aberturas da história da teledramaturgia nacional. O novo folhetim, porém, que tinha como foco principal uma facção criminosa, teve seu primeiro alento com a incoerente canção Juízo Final, na potente voz de Alcione. Apesar do desagrado na abertura, a estreia do folhetim se apresentou à altura das expectativas do público: no Morro da Macaca, onde vive boa parte do núcleo, o jogador Neymar ferveu na boate de Adisabeba (Suzana Vieira), enquanto Romero (Nero) e Atena (Giovana Antonelli) se mostraram maus caráteres de primeira linha, sem perder o tom irônico que parece fisgar o brasileiro - vide o sucesso do casal de vilões Laura (Claudia Abreu) e o michê Marcos (Márcio Gárcia), em Celebridade.
Contudo, A Regra do Jogo não conseguiu segurar o nível esperado pelos espectadores e acabou se perdendo durante a exibição. Na reta final, a novela, que vinha registrando 29 pontos em dezembro, finalmente engatou e atingiu a média de 43 pontos no Ibope. O folhetim chega ao fim nesta sexta-feira (11) cheio de reviravoltas, encostado no mesmo suspense (agora sobre quem matou Gibson, interpretado por José de Abreu, o ex-pai da Facção), mas sem um pingo do carisma que a Globo tanto vendeu e valoriza.
Relembre a cobertura do último capítulo de Avenida Brasil: