Não deve ser assim tão fácil ser Bárbara Eugênia. Num País que tem mais cantoras que palmeiras, a moça, paulistana, interessada no Brasil, surge numa profusão de novas vozes que ampliam gals, bethânias, elises. Mas, voz rouca, doce e sutilmente sinuosa, cabelos curos e ruivo fogo à Rita Lee, carinha de musa da nouvelle vague, a moça chega e não sai mais.
Foi com direito à plateia de letras decoradas no gargarejo que a cantora, a "nova queridinha da MPB" (sempre os rótulos frágeis) fez o show de seu segundo disco - É o que temos - na noite de um garoento domingo no Palco Pop do Festival de Inverno de Garanhus. À excessão de uma ou outra letra pueril demais, acne demais (desculpem, mas "ficar na porta da escola fumando mil cigarros, bebendo Coca-cola..." ainda não parece poeticamente maduro para alguem que, como ela, sabe esquadrinhar os amores com a naturalidade de um copo de água em suas canções e tem feito a juventude conciliar o pop com o samba-canção).
Sempre de mãos ocupadas, às vezes pandeiros, às vezes bastões percussivos, Bárbara faz do corpo um prolongamento natural de sua voz. Transborda felicidade e uma ansiedade suave no palco. Sim, ela concilia. Como nos disse o cronista Xico Sá, esse exegueta das alcovas contemporâneas, se o primeiro disco "fossa" é para o depois dos relacionamentos, esse é para os durantes.
Os riffs pesados, vez por outra, a bateria mais nervosa, não nos deixavam esquecer, contudo, que seu bolero é rock n roll. E assim, ela faz justiçamento ao Ô meu amado, o outrora hino da cafonice que Bárbara Eugênia emoldura com a elegância de Jane Birkim. A Estrada de Santos, de Robertão, também ganha curvas deliciosas na voz da moça. "Salve a música romântica do Brasil", gritava, meio susurrando, Bárbara do palco, um coração azul pintado na bochecha.
Era a deixa para que o público migrasse para a Praça Guadalaja, onde Augusto César, Adilson Ramos e José Augusto entretessem a multidão com suas baladas atemporais, às vezes mais, às vezes menos aceitas por aqueles que se outorgam os donos do bom gosto. Se Augusto César subiu ao palco com arranjos dignos de churrasqcaria da 232, o outro Augusto, José, trouxe uma cama musical afinadíssima, clara, para lhe apoiar diante do público - visivelmente local. Nos sentimos numa espécie de Globo de Ouro dos 80. A classe média urabana que, vez ou outra, alavanca os "bregas" para a gaveta dos cults, não compareceu. Já estava satisfeita com Bárbara Eugênia.