“Laroié, Exu! (Salve, Exu!)”. A saudação dedicada ao orixá funciona também como um reverente pedido de licença, quando os jogadores de capoeira formam uma roda e avisam à entidade, sua protetora nos cultos afro-religiosos, que a brincadeira vai começar. Um assentamento no canto da parede com oferendas à divindade guardiã, disposto no Centro Cultural Correios, anuncia, à primeira vista, que o espaço é de capoeirista. E este é o cartão de visitas da exposição fotográfica Capoeira – luta, dança e jogo da liberdade, que desta terça-feira (10) até o dia 13 de maio ocupa o terceiro andar do centro cultural, no Bairro do Recife. As fotografias, assinadas pelo paulista André Cypriano, traduzem o valor e a história da tradição, ora dança, ora luta e jogo, criada pelo povo negro escravizado no Brasil, mantida e perpetuada pelos mestres País a dentro.
Nas 40 imagens expostas na mostra – em cores e em preto e branco – o fotógrafo André Cypriano reúne as várias nuances e particularidades da capoeira no Brasil e no exterior. A partir de viagens pelos Estados brasileiros, sobretudo Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, onde a tradição africana tem traços fortes, como um Pierre Verger da atualidade, André traduz nas fotografias as histórias e estilos de vida da tradição dos povos afro-brasileiros e suas marcas na cultura nacional. “Comecei há anos, traçando várias culturas e comunidades, em uma viagem em torno da cultura brasileira. E sempre havia grupos de capoeira entre esses personagens das minhas fotografias. Sugeri a Denise Carvalho (curadora da exposição) essa mostra e o livro, e também que fizéssemos as fotos mais contemporâneas, as que são coloridas”, explica André.
A coletânea expõe,entre outras coisas,os meninos que, à beira do rio, no Pará, divertem-se e jogam capoeira ao toque da conga, do pandeiro e do berimbau. Na Califórnia, nos Estados Unidos, o mestre Preguiça repassa a tradição africana. No Recife, a troca de experiências entre veteranos e iniciantes, na escola do mestre Mago. No Rio de Janeiro, na favela da Rocinha, adultos e crianças transformados pela capoeira. Um entrelace de tempo e de distâncias feito pela capoeira.
A exposição é fruto de uma pesquisa feita para a criação de um livro homônimo, que reúne, além das imagens expostas, textos de Rodrigo de Almeida e Letícia Pimenta. Na obra, mais de 50 mestres e contramestres de capoeira ajudam a reconstruir o perfil e a história da luta no Brasil. Tanto o livro quanto a exposição têm a curadoria de Denise Carvalho. “Uma exposição e um livro como estes são muito importantes, porque resgatam a tradição da capoeira, que é um patrimônio material e imaterial brasileiros, difundindo, assim, a nossa cultura para o mundo”, diz Denise.
Leia a matéria completa no Caderno C desta terça-feira (10)