
Os olhos da bailarina alemã Pina Bausch logo decifraram os passos de Maria Paula Costa Rêgo, em uma apresentação do Grial, no Teatro Hermilo Borba Filho, em 2002. “O interessante foi o cruzamento dos nossos olhares”, diz a pernambucana. Vinte e quatro anos antes, uma cena semelhante àquela já havia acontecido. Outro olhar encontrou os passos de Maria Paula no palco. O escritor e dramaturgo Ariano Suassuna descobriria na arte ainda amadora de uma menina, amiga de sua filha, a parceira para construir uma história de dança que conquistou os olhos dele, os olhos de Pina e tem conquistado os olhos do mundo por onde passa. Surgia assim, há 15 anos, o Grupo de Dança Grial. Efeméride que faz de 2012 um ano especial para a companhia, com apresentações e comemorações Brasil adentro.
“Eu frequentava a casa de Ariano, era amiga da família, desde nova. Certa vez, vi o Balé Popular do Recife se apresentar e comentei com Ariano que fiquei encantada”, conta Maria Paula, por telefone, direto do Rio de Janeiro, onde está em turnê com o Grial. A conversa foi suficiente para fazer Ariano levá-la até à diretora do grupo, e conseguir uma vaga de estagiária na companhia. Sete anos depois, Maria Paula foi embora para a França estudar dança contemporânea. E foi um convite de Ariano Suassuna que a fez voltar ao Brasil, em 1997, 12 anos depois, para assumir a direção do Grial – grupo de dança que ele estava criando, com base na estética Armorial. “Além da faculdade, fui para Paris numa história de amor. Tinha me apaixonado por um francês, e fui para lá. Mas o casamento já estava estilhaçado, e o convite de Ariano me fez decidir voltar de vez.”
Ali começava a história da companhia, que no ano seguinte, no dia 19 de março, levou ao palco do Teatro Arraial o seu primeiro espetáculo, A demanda do Graal dançado, “a busca de uma dança ideal brasileira”, na definição de Ariano. A história foi beber na fonte das novelas medievais. Na trilha sonora, músicas de Villa-Lobos, Antônio Madureira, Beethoven, Antônio Carlos Nóbrega e Mestre Salustiano. À frente da concepção coreográfica e da direção do grupo, Maria Paula dividia o palco com sua equipe. No balé, dois profissionais vindos da tradição popular, Pedro Salustiano, filho do Mestre Salustiano, e Jaflis Nascimento, filho de Nascimento do Passo, se juntavam às bailarinas com formação erudita, Fernanda Lisboa e Valéria Medeiros. Estava erguida a primeira formação do Grial.
O interessante foi o cruzamento dos nossos olhares
Maria Paula Costa Rêgo, sobre Pina Bausch.
Entre todas as plateias pelas quais o Grial foi visto, uma em especial marcou a trajetória do grupo. Convidada pela atriz Leda Alves, a companhia subiu ao palco do Hermilo Borba Filho, em agosto de 2002, para mostrar à coreógrafa e bailarina Pina Bausch o espetáculo Mulher Vestida de Sol – Romeu e Julieta. “Ela estava ali sentada olhando o meu olhar de dança. Eu tentei ao máximo mostrar uma dança brasileira, com outras referências corporais. Eu tenho pra mim que ela entendeu bem. Tanto é que no final ela me perguntou se era uma história de amor. E eu disse que sim, que era Romeu e Julieta. E ela disse que era maravilhoso.”
Em 2012, o Grial comemora seus 15 anos levando ao País os espetáculos A barca e Travessia, os dois primeiros da Trilogia uma história, duas e três. No Recife, dentro da programação do Festival Palco Giratório, eles são apresentados na próxima sexta-feira (25) e no sábado (26), respectivamente, na Praça de Santo Amaro e no Sesc Casa Amarela. Contemplado com Prêmio Pró-cultura, o grupo já prepara uma terceira criação, que deve mergulhar no universo da cultura indígena. A atual formação do grupo traz, além de Maria Paula, os bailarinos Emerson Dias, Fábio Soares, Aldene Nascimento, Joad Jó, Iara Agra, Dayse Marques e brincantes de maracatu e cavalo-marinho de Condado, na Zona da Mata de Pernambuco.






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