URBANISMO

Famílias desafiam o poder público e vivem às margens ou sobre canais

São muitos exemplos no Recife e Região Metropolitana. Ocupações dificultam ações de limpeza nos canais

Margarida Azevedo
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Margarida Azevedo
Publicado em 24/04/2018 às 10:30
Foto: Filipe Jordão /  JC Imagem
São muitos exemplos no Recife e Região Metropolitana. Ocupações dificultam ações de limpeza nos canais - FOTO: Foto: Filipe Jordão / JC Imagem
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Moradias construídas às margens ou em cima de canais do Recife e da Região Metropolitana desafiam o poder público. De um lado, famílias que ocuparam esses espaços por não terem outras opções de residência sofrem com o perigo constante de viver em situação de risco. Do outro, prefeituras que precisam corrigir erros de gestões anteriores que negligenciaram o controle urbano. Problemas que se tornam mais evidentes neste período de chuvas, quando a limpeza dos canais é dificultada pelas ocupações irregulares, resultando, muitas vezes, em ruas e avenidas alagadas.

Na Comunidade Escorregou Tá Dentro, em Afogados, Zona Oeste do Recife, vivem 176 famílias em imóveis às margens do Canal do ABC. Para entrar nas casas há uma passarela de meio metro de largura. É preciso se equilibrar para não cair no canal. E conviver com ratos e baratas, além do lixo que frequentemente é arrastado pela água suja.

“Perdi as contas das vezes que pinotei nesse canal para tirar meus filhos. A casa é pequena, imagine sete crianças sem espaço para brincar”, comenta Maria José Ribeiro, 67 anos. Sua residência tem uns quatro metros de comprimento por menos de dois metros de largura. “Vivo lutando com os gabirus. Cada um maior que o outro. Quando vejo um, pego a vassoura para tanger”, afirma Maria José.

A ocupação existe há 27 anos. Quase oito anos atrás, em dezembro de 2009, veio a notícia de que 96 famílias seriam transferidas para um conjunto habitacional no bairro do Cordeiro. “Não tenho a menor esperança disso acontecer. Aqui não é lugar para ninguém viver. Mas infelizmente não temos outra opção”, lamenta Analu Silva, 34. Ela e o marido estão desempregados e têm duas filhas. Sobrevivem do Bolsa Família.

Segundo a Secretaria Estadual de Habitação, o residencial ficará pronto em outubro. A obra teve o ritmo reduzido porque a construtora espera receber R$ 200 mil do governo. A promessa é pagar esse valor ainda este mês. “A conclusão do conjunto, que está em fase de acabamento, tem prazo de até seis meses após o pagamento, ou seja, outubro deste ano”, explica a secretaria.

A Prefeitura do Recife informa, em nota, que monitora as margens das linhas d’água que cortam a cidade e constituem Áreas de Preservação Permanente, com o objetivo de evitar a ocupação irregular dessas áreas. E que leis e decretos municipais punem quem cometer infrações contra o meio ambiente. “No caso de impermeabilização de área alimentadora de aquíferos, unidades de proteção, áreas de drenagem e locais sujeitos a alagamentos e enchentes, a multa pode chegar a R$ 50 mil”, explica a gestão.

NOTIFICAÇÃO

Em Olinda, no Grande Recife, não faltam exemplos de construções irregulares. Ontem, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente notificou proprietários de 20 imóveis dos bairros de Jardim Brasil 1 e 2 para que retirem estruturas que estão atrapalhando o escoamento d’água da Lagoa do Artol e nas Ruas Pará e Paraná. “Também tiramos muros, cercados e barracas, por exemplo, de 10 casas”, relata o secretário da pasta, André Botelho.

“Acredito que 80% dos problemas de alagamentos em Olinda são provocados por causa de ocupações irregulares”, estima o secretário de Serviços Públicos de Olinda, Evandro Avelar. Ele esteve ontem com o prefeito Lupércio Nascimento no bairro de Peixinhos, perto do Canal da Tripa. Uma casa construída em cima do canal estava dificultando a passagem da água.

“Vamos desobstruir emergencialmente o canal e em breve remover a casa. Por causa de uma família, dezenas de outras são prejudicadas com ruas alagadas”, diz Evandro. No Canal do Azeitona, próximo dali, o mesmo problema: passarelas, pequenos comércios, garagens e até casas edificadas em cima do canal.

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