
No Dia Internacional da Mulher, comemorado neste domingo, 8 de março, presentes e mensagens de parabéns tradicionais entram no centro do debate. Para uma boa parte das mulheres, flores e cosméticos já não agradam. Até incomodam, quando não vêm acompanhados de atitudes verdadeiras no resto do ano.
Para entender o porquê, é necessário relembrar o significado da data, que nasceu da luta política das mulheres por mais direitos. É associada a um evento trágico nos Estados Unidos, em meio ao processo de industrialização que precarizou as condições de trabalho para os operários. Em 1908, um incêndio em uma fábrica têxtil da Cotton, em Nova Iorque, matou 146 pessoas, sendo 125 mulheres e 21 homens.
Ao longo do tempo, o dia que simboliza resistência foi reduzido a brindes, como detalha a ativista do movimento Marcha Mundial das Mulheres em Pernambuco, Elisa Maria Lucena: “Foi muito captado por uma perspectiva comercial que esvazia o verdadeiro conteúdo da data. Tem essa ideia de homenagear sempre essa pretensa delicadeza das mulheres”, disse.
Segundo ela, a partir dos anos 2000, elas passaram a voltar às ruas no 8 de março. “É no sentido de denunciar as diversas violências e apresentar esse projeto que corresponda à valorização da vida e do trabalho das mulheres”, afirmou.
A resposta é escutá-las para saber o que elas querem - e não querem. E respeitar sempre.
O que elas não aguentam mais receber
Ainda de acordo com Elisa, certas frases reafirmam obrigações que foram atribuídas às mulheres. “Obrigada, mulher, por existir, você é a flor da vida; mãe de todas”, destacou.
A estudante Julia Siqueira, 22 anos, citou as mensagens que enaltecem a mulher por se dividir em mil e cuidar do trabalho, da casa, do marido e filhos. “É muito chato, porque é como se fosse sua obrigação, como se você tivesse que dar conta de tudo sozinha”, criticou.
“Chocolate e flor representam uma coisa muito feminina, delicada. A gente está cansada de receber isso, não só pelo simbolismo, mas também porque não tem o que se parabenizar. Tem a nossa luta e a resistência, mas a gente quer ver atitude”, fala a publicitária Gabriela Alencar.
O que elas querem
Elas pontuam uma coisa em comum: o desejo de receber de presente mudanças efetivas e verdadeiras. “A gente quer que os homens façam autocrítica, que reflitam que a luta das mulheres é uma luta para toda a sociedade”, declarou Elisa.
“Mais que um brinde de uma empresa, que elas mudem suas políticas para que a gente se sinta bem. Dar mais voz, criar programas, ou presentear com uma palestra ou um curso legal”, sugeriu Julia.
“Eu gostaria de ver alguma marca - seja banco, indústria de cosmético, engenharia, direito, medicina - aumentar em 50% as vagas de emprego para mulheres. Afirmarem publicamente que estão colocando a questão da licença-maternidade como prioridade”, exemplificou Gabriela.
Reivindicações
Uma caminhada está sendo organizada para esta segunda-feira, 9 de março, com concentração no Parque 13 de Maio, em Santo Amaro, área central do Recife. Elisa elenca como pontos do protesto a denúncia contra o avanço do conservadorismo e o impacto da questão econômica sobre os papéis sociais.
“A gente está mais atenta ao desemprego, aos menores salários e a tudo empurrando a gente para essas tarefas domésticas e de cuidado, que não são remuneradas nem socializadas com homens e o Estado”, ponderou. “No contexto de ausência do Estado, quem cuida dos idosos, crianças e doentes são as mulheres.”
Outros atos acontecerão no Agreste pernambucano. Em Caruaru, será no dia 12 de março, às 8h, em frente ao prédio do INSS. Em Garanhuns, no dia 7 de março, a partir das 9h, também em frente ao INSS.
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