
O clima de tensão no Centro do Recife, diante de protestos em tom de ameaça por parte de ambulantes retirados das ruas Direita e da Penha, pode se agravar, mas por uma justa causa: a revitalização do bairro de São José. Além da velha promessa de ordenamento dos camelôs e melhoria da mobilidade, os planos do município incluem serviços de limpeza, iluminação, infraestrutura e segurança. Nesta quarta, dezenas de lojistas da Rua Direita se viram obrigados a fechar as portas de seus estabelecimentos.
Leia Também
“Há um projeto maior a ser apresentado nos próximos dias. Os 130 ambulantes da área cadastrados serão realocados para o Centro Comercial do Cais de Santa Rita, mas não há lugar para os que chegaram de última hora e não vamos abrir mão do projeto por conta de um pequeno grupo de desordeiros que vai responder pelos crimes que está cometendo”, afirma o secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga.
Segundo a prefeitura, 30 camelôs foram retirados das ruas Direita e da Penha (cujos acessos receberam estacas de ferro para impedir a passagem de carroças) e os demais tiveram locais demarcados, provisoriamente, até que a obra do Cais seja concluída. Por volta das 10h30 de ontem, parte desse pessoal saiu em frente das lojas gritando para fecharem as portas e até soltaram bombas para intimidar os comerciantes, além de atear fogo em pneus, fechando a Avenida Nossa Senhora do Carmo. Alguns clientes pensaram que se tratava de arrastão e saíram correndo. A Polícia Militar acompanhou tudo.
À tarde, muitas lojas permaneceram fechadas, ou com as portas parcialmente abertas. “Assim fica mais fácil fechar caso eles voltem”, explicou um segurança. Guardas municipais e fiscais se espalhavam em vários pontos, para evitar danos ou possíveis conflitos.
BAGUNÇA
O presidente do Sindicato do Comércio de Vendedores Ambulantes do Recife (Sindambulante), Roberto França, se diz contra o protesto. “Estamos tentando conversar com Braga, pois queremos todos trabalhando, mas somos contra esse tipo de bagunça de soltar bomba, tocar fogo em pneu”, afirma.
“A prefeitura é responsável pelo que acontece porque deixou o comércio informal chegar a esse ponto e hoje os clientes se afastam do centro pois não há segurança. Algo tem que ser feito e com o apoio da polícia. A reação já era prevista, mas a ação é necessária”, disse o empresário de uma tradicional loja da Rua Direita que preferiu não se identificar temendo retaliações. “Do jeito que está prejudica a todos, os ambulantes não entendem isso. Já são dois dias de prejuízo e isso precisa acabar”, afirmou a gerente de outra loja.
Conforme a Semoc, há 4,1 mil ambulantes cadastrados no Recife, mas não há informação sobre quantos atuam sem cadastro. Desde 2013, o município vem fazendo o ordenamento desse pessoal em vários pontos. No Centro, além do Cais de Santa Rita (que está em obras há quatro anos, devendo ficar pronto até dezembro) a prefeitura reformou um anexo ao Mercado de São José para receber vendedores de ervas, sementes e bombons (faltando apenas a aquisição dos quiosques). Outros dois shoppings populares anunciados não têm previsão de ficarem prontos, só um entrou em obras (na Rua da Saudade) mas parou por falta de verbas.