SAÚDE

Dois transplantes, uma vitória

Há 35 dias, diabético agarrou chance de receber rim e pâncreas e tornou-se 1º no Estado a não rejeitar órgão produtor de insulina

Cláudia Vasconcelos
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Cláudia Vasconcelos
Publicado em 15/09/2012 às 6:02
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A diabete chegou devagarinho: primeiro roubou quilos do jovem recém-saído da Aeronáutica. Dez anos depois, já o obrigava a tomar três comprimidos por dia para regular a produção de insulina. Mais sete anos e os rins sucumbiram à hiperglicemia, o coração parou duas vezes e um acidente vascular cerebral levou embora movimentos de braços e pernas por um tempo. Para sobreviver, Jadilson Salvador Damasceno, recifense de 42 anos, precisava de uma cirurgia que nunca havia obtido êxito em Pernambuco. O transplante de rim e pâncreas era a única e arriscada solução para quem estava fadado a viver conectado às máquinas de hemodiálise e às injeções cada vez menos eficazes de insulina. Ele agarrou a chance. Há 35 dias, saiu do bloco cirúrgico do Hospital Pedro II e tornou-se o primeiro a superar a recepção de um pâncreas no Estado.

Filho e sobrinho de diabéticos do tipo 1, Jadilson foi o único dos 11 irmãos a desenvolver a doença crônica. Aos 18 anos, começou a perder peso e a sentir uma sede insaciável – sintomas de quando o nível de glicose no sangue dispara por causa de disfunção na secreção de insulina, hormônio produzido pelo pâncreas. Passou oito anos sem ter ideia do que acontecia. Com 18 anos, pesava 96 quilos. Quando se casou, aos 24, eram 20 a menos. Ao receber o diagnóstico, aos 26, já tinha que tomar comprimidos e logo passou a usar insulina injetável. Até então, o técnico de informática morador da Torre, Zona Oeste, convivia com a diabete. Mas cinco anos atrás veio a insuficiência renal.

Terças, quintas e sábados passaram a ser dias perdidos nas salas de diálise de hospitais públicos. Jadilson entrou para a fila de transplante do Hospital Pedro II, que faria pela primeira vez transferência simultânea de pâncreas e rim. Em 11 de agosto, o chamado aconteceu. “Me lembro perfeitamente. Era sábado e eu estava fazendo diálise. Chorei muito, meus colegas me abraçaram. Foi emocionante, porque nesses cinco anos vi amigos desistirem de esperar ou morrerem sem conseguir.” Três semanas depois, outro paciente foi operado e também não apresenta sinais de rejeição. Nenhum deles precisa tomar mais insulina nem filtrar o sangue em máquinas.

Nas duas vezes em que se tentou transplantar pâncreas em Pernambuco, pacientes foram a óbito ainda no pós-operatório, nos anos de 2003 e 2005. “Foram casos isolados, tanto que tivemos que receber uma equipe de fora do Estado. A demanda é pequena, e a fila de espera não é grande como a dos que precisam só do rim ou de fígado, por exemplo”, ressalta a coordenadora da Central de Transplantes de Pernambuco, Noemi Gomes.

No Pedro II, vinculado ao Instituto de Medicina Integral de Pernambuco (Imip), a equipe da Unidade Geral de Transplantes se preparou seis meses para realizar a primeira cirurgia de pâncreas e rim no Estado, sete anos após a última tentativa frustrada. Hoje, quatro pessoas aguardam na fila para receber os dois órgãos. “Por causa da diabete, esses pacientes desenvolvem insuficiência renal secundária. Vão três vezes por semana às sessões de diálise, o que significa que a cada sete anos eles perdem um ano dentro do hospital. Imagine o que é esse tempo perdido para uma criança”, lamenta Cristiano Souza Leão, um dos cirurgiões da Unidade Geral de Transplantes do Imip.

O primeiro ano é a fase mais crítica pós-transplante. Jadilson está no início dessa etapa, porém a equipe médica diz que o pior já passou. Ele deve somente enfrentar um ou dois episódios em que o organismo tenta expulsar o corpo estranho, crises comuns em transplantados e facilmente controladas com remédios. “O risco maior, que ele já superou, é o da perda imediata do órgão. Isso ocorre quando há queda de pressão arterial, que provoca trombose dos vasos que o irrigam. Após a primeira semana, esse risco cai”, esclarece Paulo Borges, outro cirurgião do hospital.

 

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