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COP30 entra na fase decisiva com impasses sobre financiamento e fim dos combustíveis fósseis

A etapa política da COP30 começa nesta segunda (17), quando os 197 países passam a negociar os textos finais da Conferência que se encerra na sexta

Por Adriana Guarda Publicado em 16/11/2025 às 18:19

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Belém — A COP30 entra em sua semana decisiva a partir desta segunda-feira (17), em Belém, com o desafio de contornar tensões e interesses divergentes entre os 197 países signatários da Conferência. As negociações deixam o campo técnico e avançam para o terreno político, elevando a temperatura das discussões.

Os próximos dias definirão se a Conferência conseguirá construir consensos mínimos para temas sensíveis, como financiamento climático e eliminação dos combustíveis fósseis. Os líderes entram em cena, e cada palavra dos textos oficiais passa a ser disputada linha a linha.

O financiamento climático é um dos temas que deve dominar os debates nos próximos dias. Na prática, trata-se de discutir quem vai pagar a conta do aquecimento global. Relatório formulado pelas presidências da COP29 e da COP30 traz um conjunto de sugestões para que o mundo levante US$ 1,3 trilhão, anualmente, em financiamento climático.

O tema provocou divisão entre os países. Em uma reunião dedicada exclusivamente ao assunto, algumas delegações demonstraram apoio, outras se mostraram pessimistas e ainda há aquelas que sequer quiseram opinar. Japão e China, por exemplo, alegaram que não irão deliberar sobre um tema que não faz parte da negociação oficial da COP30.

Durante entrevista coletiva no sábado (15), o presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, minimizou a questão, afirmando que as resistências estão mais relacionadas à legitimidade de discutir financiamento climático no âmbito da Conferência do que ao conteúdo do documento. Ele avaliou positivamente o engajamento internacional em torno do tema e destacou que o roteiro apresentado integra um processo contínuo, que seguirá ao longo da presidência brasileira da COP — e não se limita aos dias do evento.

Segundo ele, o trabalho para viabilizar a meta de mobilizar até US$ 1,3 trilhão por ano continuará “da forma que for necessária”, em busca de aproximar esse objetivo da realidade. Mesmo diante das resistências de parte da comunidade internacional, delegações da Noruega, do Reino Unido e da União Europeia manifestaram apoio ao material apresentado.

Como surgiu o plano trilionário

O plano para mobilizar US$ 1,3 trilhão nasceu de uma ação conjunta das presidências da COP29 (Azerbaijão) e da COP30 (Brasil). Na conferência de 2024, cuja meta central era destravar as negociações sobre financiamento climático, o avanço foi limitado: chegou-se apenas a um compromisso de US$ 300 bilhões anuais — valor amplamente considerado insuficiente diante da escala dos impactos da crise climática.

Diante desse cenário, Brasil e Azerbaijão assumiram a tarefa de formular um roteiro capaz de orientar a trajetória até o objetivo de US$ 1,3 trilhão por ano. A construção do documento reuniu 227 contribuições de governos, organizações da sociedade civil, especialistas, instituições financeiras e empresas, resultando em uma proposta mais ampla e multissetorial.

Plano é aposentar os combustíveis fósseis

Outro ponto de tensão nas negociações é a implementação do “mapa do caminho” para abandonar os combustíveis fósseis. O termo “mapa do caminho”, ou roadmap, é utilizado na diplomacia para indicar um plano de ação que organiza os passos necessários para alcançar um objetivo comum. Em essência, funciona como um guia político e técnico que detalha responsabilidades, prazos e meios de execução — ou seja, define quais atores devem agir, em que sequência e com quais recursos disponíveis.

Desde a COP28, realizada em Dubai, em 2023, os países reconheceram a necessidade de promover uma transição que reduza progressivamente a dependência de combustíveis fósseis. Apesar do avanço simbólico, o acordo não especificou como essa mudança deveria ocorrer nem em que prazo, deixando uma lacuna importante no processo.

Marina Silva e o Mapa do Caminho

Durante reunião com delegações estrangeiras no sábado (15), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sugeriu que a COP30 formalize o compromisso global de elaborar um roteiro para a eliminação dos combustíveis fósseis. Caso a proposta avance, a discussão sobre o texto passaria a integrar oficialmente a agenda das próximas conferências do clima.

A semana será marcada por decisões e expectativas sobre os avanços entregues pela primeira COP realizada no Brasil e no coração da Amazônia. 

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