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Sob pressão, governo lança plataforma de hospedagem e descarta plano B para COP-30

Hospedagem em Belém segue como maior desafio logístico da conferência do clima da ONU, a COP-30, prevista para novembro

Por Maria Clara Trajano Publicado em 02/08/2025 às 10:36

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*Com informações de Estadão Conteúdo

Com pouco mais de três meses para o início da COP-30, o governo federal lançou, nesta quinta-feira (1º), a plataforma oficial de hospedagem para a conferência climática da ONU, prevista para acontecer entre os dias 10 e 21 de novembro em Belém (PA). O site entrou no ar sob forte pressão internacional e com mais de 2 mil acessos simultâneos, o que causou instabilidade no sistema.

A ferramenta reúne 2,7 mil leitos em hotéis, casas e apartamentos privados, com diárias que variam entre US$ 100 e US$ 600. Em alguns casos, o custo pode ultrapassar os US$ 8 mil por imóvel, segundo buscas feitas pelo Estadão.

Para ampliar a oferta, o governo anunciou ainda o uso de navios cruzeiro atracados no Porto de Outeiro, a cerca de 20 km do evento, com até 6 mil cabines extras.

A plataforma deveria ter sido lançada entre março e junho, mas enfrentou atrasos. O custo elevado das hospedagens já havia gerado reações diplomáticas e motivado uma carta assinada por 29 países e blocos internacionais, como o Grupo Africano de Negociadores e o grupo de Países Menos Desenvolvidos, pedindo providências.

“Não há plano B”, afirma embaixador

Diante da crise, o presidente da COP-30, embaixador André Corrêa do Lago, negou a possibilidade de transferência total ou parcial do evento para outro local. “Não há plano B”, afirmou. A CEO da conferência, Ana Toni, reforçou que o governo segue comprometido com a realização do evento em Belém.

“Se a gente não acreditasse que tem soluções, sim, logicamente se passaria para um plano B. Não estamos nesse momento”, disse Toni.

A preocupação, segundo Corrêa do Lago, é que a crise logística passe a interferir nas discussões de conteúdo da conferência. “Ganhou dimensão ao ser formalizada pelos países na reunião do birô e, ao virar uma discussão na imprensa, que é totalmente legítima, tem um impacto sobre a negociação”, afirmou.

Delegações pedem hospedagens mais baratas

O ponto central da insatisfação é o custo das acomodações, que supera, em muitos casos, o valor diário de subsistência (US$ 143) estimado pela ONU. Delegações de países menos desenvolvidos solicitaram tarifas entre US$ 50 e US$ 70, mas o governo brasileiro afirma que essas ofertas não estão sendo aceitas.

De acordo com a Secretaria Extraordinária da COP-30, vinculada à Casa Civil, a plataforma atual oferece:

  • 2,5 mil quartos individuais com tarifas entre US$ 100 e US$ 600;
  • Para países menos desenvolvidos: 15 quartos individuais por delegação, com diárias de US$ 100 a US$ 200;
  • Para os demais países: ao menos 10 quartos por delegação, com diárias de US$ 220 a US$ 600.

Hotelaria local responde críticas

A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Pará (ABIH-PA) rebateu as declarações do embaixador e afirmou, em nota, que foi oficialmente solicitada a disponibilizar 500 quartos subsidiados para delegações de países economicamente mais vulneráveis.

Nova reunião deve discutir permanência em Belém

Uma nova rodada de negociações está marcada para o dia 11 de agosto. A expectativa é de que o Brasil apresente respostas concretas às queixas das delegações internacionais. Embora o governo reitere a permanência do evento em Belém, ainda não está claro se a ONU poderá reavaliar, parcial ou totalmente, o local da conferência diante das pressões logísticas e diplomáticas.

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