
Com quase 120 anos, a siderúrgica Gerdau vai ter uma mulher à frente de uma de suas operações industriais pela primeira vez, dentro de um setor ainda predominantemente masculino. Aos 43 anos, a engenheira Michele Robert acabou de assumir o cargo de presidente da Gerdau Summit, localizada em Pindamonhangaba, interior de São Paulo. O setor tem foco no fornecimento de peças para a geração de energia eólica e tem o poderio dividido com as japonesas Sumitomo Corporation e Japan Steel Workd (JSW).
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Com presença expressiva no exterior, Gerdau é uma das poucas empresas brasileiras a abrir seus dados relacionados à agenda ambiental, social e de governança (ESG, pela sigla em inglês), antes mesmo de o assunto ganhar holofotes no Brasil, com o aumento de pressão por parte dos investidores.
Além da transparência, a empresa trabalha em paralelo com programas internos para ajudar na formação de profissionais em busca de diversidade, incluindo de gênero. A decisão foi atrair Michele para a chefia da Summit, já que estava há 18 anos na General Electric (GE), ocupando um cargo de liderança.
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Por sua vez, Michele ressaltou o fato de a empresa ter pela primeira vez uma mulher no comando de um setor. "Finalmente a Gerdau terá uma mulher à frente de uma de suas operações industriais, o que é coerente com a transformação da empresa, que está a todo vapor. As empresas precisam ter mais exemplos (de diversidade) dentro de casa. É necessário ter referência", pontuou.
Michele Robert é mãe de duas filhas, sendo uma de 13 e outra de 15 anos. Aos 18, a executiva foi morar em Buenos Aires, capital da Argentina, quando seu pai trabalhava na Ford e foi transferido. Lá, cursou engenharia mecânica no Instituto Tecnológico, em uma sala onde a maioria dos estudantes eram homens, existia apenas ela e mais três mulheres. Os estudos foram finalizados nos Estados Unidos.
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Na equipe de 700 pessoas da Gerdau Summit, cerca de 90% são homens. Sendo assim, Michele irá encarar, 25 anos depois, uma situação semelhante ao que passou na universidade. Agora, no comando.
Com o objetivo de ajudar a dar um impulso na diversidade, um dos planos de Michele na Gerdau Summit é "dobrar ou triplicar" a operação, que busca diversificar sua atuação - coisa que a pandemia mostrou ser necessário. Com foco em cilindros para energia eólica, hoje a unidade já está em processo de homologação de produtos para atender outros setores, como mineração, açúcar e álcool.
Pirâmide
A Gerdau aposta em programas nas suas bases com o foco de alavancar a diversidade na companhia, que possui atualmente 30 mil funcionários, o número de mulheres diretoras que reportam diretamente ao presidente Gustavo Werneck - que há quase três anos, quando assumiu o posto, coloca o assunto na mesa ESG tanto dentro quanto fora da empresa - passou de zero para três. De 2019 até agora, o percentual de mulheres em cargos de liderança passou de 18% para 20,4%.
Além de iniciativas que buscam trazer mais diversidade, como um programa de trainee no qual 50% das contratações foram mulheres, e um programa de estágio destinado a negros, a Gerdau deve atrelar metas relacionadas ao tema ESG ao bônus de longo prazo dos executivos da companhia.
A diretora global de Pessoas e Responsabilidade Social, Caroline Carpenedo, que iniciou sua carreira na empresa há 15 anos como trainee, contou que alguns dos processos de recursos humanos foram alterados na busca de mais diversidade na empresa. "Temos trabalhado em dar ferramentas", disse, ao explicar que foram retiradas informações como nome e endereço dos candidatos na seleção para parte dos cargos, e uma outra medida foi deixar de exigir inglês para todos os postos em que o uso não é necessário diariamente, e oferecer cursos nos casos em que a língua seja necessária para movimentar a carreira.
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Segundo Carpenedo, é preciso planejamento na busca de uma empresa mais diversa e, para esse tipo de progresso, além do preparo na base de profissionais, a Gerdau estabeleceu à liderança da empresa a meta de indicar ao menos uma mulher na hora de preparar o mapa de sucessão. Se a leitura for de que nenhuma executiva está pronta, é preciso colocar a mão na massa para preparar as candidatas para que, desta forma, os números do setor comecem a mudar.
No Brasil, a indústria siderúrgica emprega 112 mil pessoas, sendo 66,7 mil de efetivos, conforme dados do Instituto Aço Brasil (IABr). Do total, apenas 9% são mulheres.
A analista de Research especializada em ESG da XP, Marcella Ungaretti, afirmou que questões ESG estão ganhando mais relevância. "Um avanço nessa agenda por parte das empresas, além de fazer-se necessário, tem sido monitorado de perto pelos investidores".
Por sua vez, a professora da FGV, Claudis Yoshinaga, apontou que ver mulheres assumindo posições de liderança em setores historicamente tido como masculinos é um marco importante. "São inúmeras pesquisas que confirmam o benefício da diversidade, não só de gênero, trazendo diferentes perspectivas, mais produtividade e inovação para as empresas".
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