BAHIA

Fumacinha: a quase sagrada e mais desafiadora cachoeira da Chapada Diamantina

Para chegar na imponente queda d´água de 100 metros de altura é preciso encarar uma longa e difícil trilha

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Cadastrado por

Leonardo Vasconcelos

Publicado em 01/10/2023 às 7:00
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A palavra que denota algo que evapora e ainda mais usada no diminutivo não dá conta daquilo que deixa marcas eternas e no aumentativo. Assim é a Fumacinha. Sem dúvida uma das mais belas e desafiadoras cachoeiras da Chapada Diamantina, na Bahia, que de tão especial possui uma áurea quase sagrada. De fato, depois de uma longa e árdua trilha de 9 km, no leito de um rio em terreno muito acidentado, adentrar um imponente e estreito cânion e se deparar com uma linda queda d’água de 100 metros de altura é uma experiência que chega a ser divina. Um verdadeiro e intocado santuário da natureza onde se entra com muito esforço e respeito.

A Cachoeira da Fumacinha é um verdadeiro mito entre os amantes de trilhas do mundo inteiro. Ela é citada por todos. Porém não é para todos. Realmente é necessário um certo preparo físico e muita disposição para encarar uma trilha bastante técnica, pulando e escalando pedras, durante quatro horas em média. Justamente por ser muito longa, ela é iniciada logo cedo, por volta das 6h, para quem faz o bate e volta. Por isso, o indicado é pernoitar já em Ibicoara, cidade onde a cachoeira está localizada, de preferência em alguma pousada o mais perto possível do ponto de início da trilha, para economizar tempo e deslocamento. Algumas pessoas optam por fazer o percurso em dois dias, acampando no meio do caminho, na ida ou volta. Daí você começar a se dar conta de que a queda d’água, estampada nos postais da Chapada Diamantina, exige bastante para quem deseja ter um registro lá.

Por questões de segurança, a trilha da Cachoeira da Fumacinha não costuma ser realizada durante o ano inteiro. Em períodos chuvosos a passagem pelo leito do rio fica ainda mais arriscada. Mas em época de estiagem o percurso se torna mais viável. Importante destacar que a contratação de um guia é obrigatória e extremamente importante para mostrar os melhores caminhos para transpor os inúmeros obstáculos naturais. Também são recomendáveis boas botas ou tênis de caminhada, além de bastões de trekking.

“A gente deixa bem claro antes que é preciso estar com um bom condicionamento físico para fazer a trilha da Fumacinha. Afinal são 18 quilômetros no total, andando sobre as pedras e com pequenas escaladas. Mas quando se chega de frente pra ela você vê que todo esforço vale a pena”, afirmou Simone Moura, guia da Chapada Adventure Daniel, com a qual a equipe de reportagem fez a trilha.

Dados todos os avisos é hora de finalmente colocar as pernas para trabalhar, até porque elas serão muito exigidas. Além delas, os braços também são desafiados nas escaladas. O equilíbrio é posto à prova durante quase todo o tempo na passagem pelas pedras e ao atravessar de um lado para o outro do rio. Ao longo do trajeto são feitas algumas paradas para hidratar e recuperar o fôlego ou quem quiser se refrescar nos inúmeros poços e cachoeiras, como a do Encontro. Mas a sede pela tão falada Fumacinha era maior e seguimos direto.

Até que quatro horas depois os cânions gigantes que nos seguiam desde o início de repente se estreitam tanto que formam uma enorme fenda. De longe, a escuridão ao fundo esconde a cachoeiras, dando um certo ar de mistério para o que, finalmente, há de vir. Para tornar essa conquista ainda mais especial a parte final da trilha de entrar na fenda é a mais difícil. É preciso ir margeando as laterais dos paredões rochosos, segurando firme nas pedras com limo para não escorregar.

Quando enfim a Cachoeira da Fumacinha se descortina bem na sua frente você entende porque dizem que ela é quase sagrada. Observar a queda d’água de quase 100 metros de altura surgindo em meio aos cânions quase duas vezes maiores é como se estar realmente em um santuário cuidadosamente desenhado pela natureza. Nesse momento você se dá conta do quanto nós, seres humanos, somos tão pequenos diante da grandiosidade de Deus. Aí é só sentar e agradecer. A oração, no silêncio do barulho da cachoeira, é regada por gotas. De orvalho. De lágrimas.

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