Por Gustavo Krause*
Amigo torcedor, amigo secador (crédito para autoria de Xico Sá), aos quais acrescento por conta e risco, corneteiros, ondeiros profissionais, fofoqueiros, cafajestes digitais, aconteceu o indesejável para vocês: o Náutico permanece na série A do campeonato brasileiro de 2013. Uma sentença imutável da matemática; um prêmio ao mérito respaldado na contratação do melhor jogador do Brasil que, mais adiante, revelo o nome.
Noves fora a babaquice de comemorar o “fico” antes da certeza matemática (e não é a primeira vez, ano passado foi assim, e eu espero que a lição não passe em branco), os números da probabilidade estatística sempre estiveram a nosso favor.
Porém, o futebol tem várias lógicas: a lógica do mérito que deveria ser soberana e não é. Tem a lógica do imponderável (o montinho artilheiro); tem a lógica da onipotência, da oniciência, monopólio da cambada de árbitros a serviço dos times poderosos e cada vez mais impunes; tem a lógica transcendental, metafísica, operada por satanás nos detalhes e pela ação inexplicável dos personagens de Nelson Rodrigues, Sobrenatural de Almeida e Gravatinha.
Esta confluência de “lógicas”, contaminada pela emoção devastadora do espetáculo do futebol que faz rir, chorar, agredir, abraçar, gritar, submergir em profundo silêncio e, no limite, morrer por explosão cardíaca, é o que me leva a afirmar com inabalável convicção: a mais complexa, a mais imprevisível, a mais arriscada empreitada que me foi dada a conhecer e viver, foi a gestão de um Clube de Futebol.
Não entrarei em detalhes para não fugir do tema central do texto. No entanto, merece destaque uma peculiaridade na gestão clubística: todos, cartolas e jogadores, são julgados severamente, em média, duas vezes por semana. Não conheço atividade tão exposta e vulnerável. As glórias transformam-se, logo, logo, em relíquias de museu; as derrotas permanecem vivas, falantes com a voz lúgubre de uma consciência impiedosa.
Agora, vamos à permanência do Náutico na série A. Dez em dez analistas, não tinham dúvidas: era um time marcado para morrer. Previsão nada genial. Aliás, nesta competição entre desiguais e, sob a batuta de espertos personagens, o ano começou com uma certeza Náutico, Ponte Preta, Portuguesa, Figueirense, Atlético de Goiás, e mais, remotamente, Coritiba e Sport, fariam o campeonato da morte. Uma surpresa: o Palmeiras (a imprensa nacional pariu um rolo de arame farpado). Uma certeza: o Flamengo seria protegido como foi e ficaria salvo. Portanto, nenhuma novidade.
Senhores torcedores, secadores etc..., foi um ano inteiro de tensão. Noites mal dormidas. Taquicardia. Apreensão. Para a imensa torcida, o jogo termina quando o juiz aponta para o meio do gramado. Para os que têm a responsabilidade de dirigir, recomeça outro jogo. É um nunca acabar. E desta vez, permanecer na primeira divisão tem vários significados, entre eles, o mais concreto que é manter, em dia, todos os acertos com passivos históricos e chegar, se Deus quiser, para jogar na Arena Pernambuco de cabeça erguida e com um time competitivo.
Acreditem, vi e vivi de perto a entrega dos dirigentes. A ansiedade, a angústia, o drama da incerteza, tudo, felizmente recompensado no dia 25 de novembro de 2012 na batalha de Pituaçu. Um time mutilado. Contra a respeitável tradição baiana e o eco de 40 mil vozes. E aí vale um comentário: o menor orçamento e um dos mais reduzidos elencos do campeonato foi superado por um time organizado em campo que privilegiou o futebol coletivo e, à exceção de três ou quatro jogos, suou e honrou a camisa, foi valente, brioso, raça, muita raça, o que supriu deficiências individuais. É preciso valorizar a permanência o que não é uma conquista simples. Não apenas neste quadro de adversidades, mas sendo vergonhosamente garfado contra o Inter, contra o Atlético Mineiro, contra o Vasco, contra o Fluminense e o Flamengo (escândalos).
Agora, a contratação do melhor do jogador do Brasil e o mais importante para nossa conquista: SALÁRIOS EM DIA. Esta renovação de contrato e reafirmação de compromisso são peças-chave para qualquer planejamento. E se define esta “contratação” a partir do tamanho da receita. Presidente, mão de ferro! Não abra como não abriu este ano. Nada de pressa. Nem ansiedade. O sucesso traz o paradoxo de valorização e do aumento de gastos. Todos foram e são importantes, menos para comprometer o equilíbrio orçamentário. Espero que esta semana os “donos do dinheiro” não mais adie a conversa sobre a renovação do nosso contrato.
Abrindo parêntesis: a Caixa Econômica patrocinará o Corinthians no valor 31 milhões com surpreendente comentário favorável do meu respeitável amigo Juca Kfouri; o Flamengo sugou anos a fio a Petrobras que, depois das estripulias lulistas, está valendo menos do que empresa de cerveja; o Vasco mamou por muito tempo nas tetas da Eletrobras, tudo como o meu, o seu, o nosso dinheirinho porque são empresas públicas ou sociedades de economia mista. Pergunta se estes Clubes apresentaram o SICAF ao burocratas. Uma vergonha!!! Fechando parêntesis.
A verdade é que 2010 por caminhos dolorosos, 2011 e 2012 por caminhos mais seguros ensinaram bastante.
Para finalizar, uma súplica do fã: cala boca Kiezinha!
* Gustavo Krause é conselheiro do Náutico.
Nota: O texto não reflete, necessariamente, a opinião do Blog do Torcedor.