A escolha do novo administrador do Arquipélago de Fernando de Noronha deve passar por um acordo que envolve a entrada do partido Avante na base de apoio ao governo estadual.
Na última segunda-feira (10), Raquel Lyra desistiu de indicar o biólogo Walber Santana para o posto, um dia antes da sabatina dele na comissão de Constituição, Legislação e Justiça da Alepe, procedimento necessário para a investidura ao cargo.
A gestão não informou o motivo da desistência. No ofício enviado ao Legislativo, o governo do estado se limitou a pedir a desconsideração da indicação, o que não fere qualquer norma.
O que se sabe sabe é que Walber, que também é secretário executivo de Meio Ambiente, foi deixado de lado para dar espaço ao partido comandado pelo ex-deputado Sebastião Oliveira, o “Sebá”, que atualmente integra o grupo do prefeito do Recife, João Campos (PSB).
Embora o Avante não tenha uma bancada tão extensa em Pernambuco, com somente um deputado federal, oito prefeitos, um vereador no Recife e nenhuma cadeira na Alepe, a medida é uma clara demonstração do interesse de Raquel em ampliar o grupo para desidratar o entorno de Campos no pleito de 2026.
Atualmente, o Avante tem somente um cargo no Procon, o que estaria desagradando a cúpula estadual. A ida para o governo teria como contrapartida a ocupação de novos postos, começando pela administração de Noronha.
A decisão passou pelas mãos do deputado federal Waldemar Oliveira, irmão de Sebá. Em dado momento, os dois teriam divergido da ideia, mas teriam chegado a um consenso para ingressar na base governista por insistência de Waldemar.
Na última segunda-feira (10), durante o ato de filiação da governadora ao PSD, no Recife, vários aliados confirmaram que a escolha passará por Waldemar, mas não quiseram detalhar como andam as negociações.
Nesta quarta, o que se sabe é que o partido está apenas aguardando o anúncio da governadora, que é responsável pela oficialização do nome.
No pleito de 2022, vale lembrar, o Avante conseguiu espaço na chapa de Marília Arraes com o próprio Sebá sendo candidato a vice-governador do estado. O grupo foi derrotado pela governadora Raquel Lyra no segundo turno.
Deputados reagiram
A desistência da indicação do novo administrador de Noronha foi pauta na sessão ordinária da última terça-feira (11) na Assembleia Legislativa de Pernambuco.
O deputado Waldemar Borges (PSB), que já vinha criticando a demora na substituição de Thallyta Figueirôa após a ex-gestora pedir exoneração, em janeiro, intensificou o descontentamento após o ofício da última segunda. O arquipélago vem sendo gerido de forma interina por Nathalie Mendonça, gerente-geral de Noronha.
“Há rumores de que a indicação tenha sido retirada para ser usada como moeda de troca, a fim de atrair um partido para a base do Governo. Me parece grave, porque isso seria a institucionalização do descaso”, disse o parlamentar.
Waldemar Borges é autor de uma PEC que prevê a eleição direta para o cargo de administrador de Noronha. Ele acredita que a indefinição sobre a pessoa indicada reforça a necessidade da iniciativa.
“A ilha ainda é vista sob um olhar colonizador. Os ilhéus não participam da escolha do dirigente. É preciso dar esse salto para que Fernando de Noronha seja administrada pelos moradores”, acrescentou.
O presidente da CCLJ, deputado Alberto Feitosa, entende que o caso atrai ainda mais atenção à sabatina do novo administrador.
“Isso acende um alerta sobre o que levou à retirada da indicação. Vamos aguardar para saber se a próxima pessoa será tão qualificada quanto se mostrava o senhor Walber, ou até alguém ainda mais qualificado, para atender às necessidades que Noronha apresenta”, disse.
O líder da oposição, Diogo Moraes (PSB), demonstrou preocupação. “Não vimos progresso na última gestão do arquipélago. Espero que a próxima pessoa sabatinada seja alguém capacitado e com conhecimento prévio sobre a ilha, caso contrário será mais uma administração de Noronha sem resultados neste governo”, apontou.
Deputados da base governista minimizaram a desistência da indicação de Walber. “É legítimo que a governadora mude a indicação, se considerar outro nome mais apropriado”, afirmou o deputado João Paulo (PT).