Não foi simples, como poderia parecer diante da nova fase de independência da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), a articulação de bastidores para impor à bancada governista uma derrota jamais imaginada que levou a oposição a exercer o controle de 14 das 17 comissões temáticas da casa esta semana.
Este blog levantou nos bastidores o desenrolar da crise que impôs à governadora Raquel Lyra a convivência com um ineditismo na história do Estado, onde até hoje nenhum governador deixou de exercer controle sobre as comissões, sobretudo as de Justiça, Finanças e Administração. A ação contou por fora com a interferência até do ex-presidente Bolsonaro e do ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, agora presidente estadual do União Brasil.
Não à toa, o PL, com cinco deputados apenas, acabou fazendo Alberto Feitosa presidente da Comissão de Justiça e ocupou ainda as presidências das comissões de educação e segurança. Já o União Brasil, também com cinco deputados, elegeu o deputado Antonio Coelho, irmão de Miguel, presidente da comissão de Finanças e os vices de Justiça, o deputado Edson Vieira, e de administração, o mesmo Antonio Coelho.
O PSB, com receio de perder a eleição de Justiça e Finanças, pretendida pelos dois partidos considerados fiéis da balança – PL e UB - se contentou com Administração, pois como confessou um parlamentar da legenda, “nosso objetivo era mesmo derrotar o Palácio”.
Emendas parlamentares foram a causa
Deputados dos dois lados que participaram dos bastidores da operação concordam com a versão de que a coisa chegou a esse ponto por conta das emendas parlamentares não pagas até o dia 31 de dezembro, como prometera a governadora, inclusive em conversa com o presidente Álvaro Porto. “Álvaro ficou indignado pois acreditamos na sua palavra e deixamos de protestar a tempo” – disse um deputado da oposição.
Com viagem de férias marcada para o exterior, o presidente viajou e deixou no seu lugar o vice eleito no início de fevereiro, Rodrigo Farias, do PSB, encarregado de conduzir a escolha das comissões. Isso desanimou os governistas que não se afinam com Rodrigo. Há também queixas de demora do Palácio em se articular para formar as comissões deixando para agir, como tem sido praxe, em cima da hora.
Bolsonaro, Miguel e João Campos ajudaram
O objetivo deveria ter sido, na opinião de dois deputados governistas, focar no União Brasil e no PL, onde o Palácio tinha o apoio, em cada um, de três dos cinco deputados. Mas aí veio outra surpresa: o ex-prefeito Miguel Coelho assumiu a presidência do União Brasil e, logo depois, fez as pazes com o deputado Edson Vieira que, insatisfeito com a pouca atenção recebida do Palácio, como confessou aos colegas, foi para a oposição.
Outro deputado na mira do Governo, Romero Albuquerque, do mesmo partido, foi também para o exterior. De lá e instigado pelos dois lados em disputa, mudou três vezes de opinião e acabou, com a interferência do prefeito João Campos, fechando com a oposição.
No PL, a operação contou até com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Convencido por Gilson Machado e Alberto Feitosa, com os quais costuma fazer lives como este blog constatou, de que era hora do partido se sobressair na casa, Bolsonaro abraçou a tese da união partidária convencendo os deputados Renato Antunes e Joel da Harpa, favoráveis ao governo ao lado de Nino de Enoque, a marchar com a oposição.
PP teria se precipitado
Há um sentimento entre os governistas de que a decisão do PP de deixar o blocão para tentar atrair o Republicanos em um bloquinho que asseguraria duas vagas nas principais comissões – o que acabou não acontecendo – criou o sentimento nos demais partidos de que não havia problema em sair também, como fez o União Brasil, fugindo do controle do Palácio.
O problema só não foi maior porque a Federação PT/PV/PCdoB se manteve fiel ao blocão mesmo com dissidências do PV, mas o que valia era o bloco em si para conquistar vagas e não opiniões isoladas.
Em que vai dar tudo isso? Essa era a indagação que faziam deputados esta semana em rodas de conversa. Montadas as comissões, se imagina que a volta do presidente Álvaro Porto pode apaziguar os ânimos dentro da casa. “Álvaro tem força para encontrar saídas“, lembrava um parlamentar da oposição. Mas o clima não é dos melhores, ao ponto da bancada governista ter se ausentado das comissões nas reuniões da semana passada.
Deputados buscam se recompor com o Palácio
O Governo, porém, já começa a receber acenos de deputados do PL, dizendo que a questão foi partidária mas pretendem continuar governistas. No União Brasil, o governo agora tem minoria com o apoio apenas de Socorro Pimentel, que a governadora mantém como sua líder na casa, e de Romero Sales.
Na verdade, mesmo tendo passado pelo constrangimento de ser minoria nas comissões, o Palácio, como mostrou a carta assinada por 26 parlamentares se contrapondo ao comportamento do presidente interino, Rodrigo Farias, conta com a maioria dos votos em plenário. O receio de deputados governistas é de que cada votação mais delicada de projetos se transforme em “uma agonia”, como definem o estresse para garantir a presença e permanência em plenário.
Como até a hoje a governadora não fez base sólida e só conta com a totalidade dos parlamentares do PP, do Solidariedade do PT vai precisar conquistar um a um dos recalcitrantes. Vai ser um Deus nos acuda.