HISTÓRIA DE GOVERNADOR

João Campos foge ao padrão dos governadores estaduais e busca se diferenciar de Raquel

Se for mesmo candidato a governador em 2026, o prefeito João Campos, que foge ao estilo tradicional aqui exposto, será uma exceção à regra

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TEREZINHA NUNES do BlogDellas Especial para o JC

Publicado em 04/01/2025 às 18:24
João Campos (PSB), que pode concorrer ao governo do Estado - BETO DLC/JC IMAGEM

O ex-governador Jarbas Vasconcelos contou, certa vez, aos risos, o que Dona Madalena Arraes lhe dissera, após a volta do exílio, sobre o primeiro encontro que ele tivera com Arraes em 1977, em uma casa nos arredores de Paris. Segundo Dona Madalena, depois de receber Jarbas e conversarem, Arraes foi a outro cômodo da casa, onde ela se encontrava, e disse: “você fala que eu sou chato mas vamos lá fora tem um político pernambucano que consegue ser mais chato do que eu”.

Jarbas se referia, ao revelar esta observação de Arraes, ao fato de Pernambuco gostar de políticos sérios e, em certo sentido, carrancudos. No momento das conversa eram citados os casos de Agamenon Magalhães, Roberto Magalhães, o próprio Jarbas e Arraes.

Outro de estilo semelhante foi João Lyra, pai da governadora Raquel Lyra ,mas que surgiu como governador mais recentemente. Já exceções foram Marco Maciel, de um riso contido mas menos carrancudo, o próprio governador Eduardo Campos e, em certo sentido, Gustavo Krause, Mendonça Filho e Joaquim Francisco, que não era de rir mas sabia contar causos e provocar gargalhadas.

Não se pode dizer que os “carrancudos” não riam. Arraes dava gargalhadas ao ouvir uma piada em recinto fechado e Jarbas - muito tímido - sempre foi fotografado sorrindo no meio do povo ou após tomar uma dose – bastava uma – de whisky.

O desafio de João Campos

Se for mesmo candidato a governador em 2026, o prefeito João Campos, que foge ao estilo tradicional aqui exposto, será uma exceção à regra estando desafiado a romper com o lugar comum. Com 31 anos, tornou-se um fenômeno de comunicação no tik tok, fazendo passinho, e até nevando a cabeleira no carnaval do ano passado. Não fugiu ao tradicional divulgando tudo que realizou de obras e serviços mas caiu no gosto da juventude que com ele se identifica. Atribui-se a isso, muito mais do que ao êxito administrativo, o fato de ter chegado aos 78% dos votos na eleição de 2024, batendo recorde no Recife.
O grande enigma é saber se esse estilo despojado e brincalhão que agradou a Região Metropolitana tem o mesmo efeito no interior, embora as pesquisas antecipadas demonstrem que, em comparação com a governadora Raquel Lyra, João teria mais que o dobro das intenções de voto, se as eleições fossem hoje.

Fugindo do tradicional

As declarações dele reforçam que pretende se mostrar exatamente assim, se for mesmo enfrentar as eleições de 2026. Se lá atrás fustigou a governadora afirmando – “não tenho medo de sombra”, referindo-se ao fato de ter colocado políticos em sua equipe o que Raquel resiste em fazer, ele disse no dia da posse para o segundo mandato esta semana que “ política com entregas também se faz brincando, juntando trabalho e coração, leveza e resultado”.
Seria essa uma vacina, caso venha a ser acusado de não ter suficiente maturidade para governar o estado, ou uma forma de, mais uma vez, fustigar sua possível adversária que qualificou, em outra declaração no mesmo dia, como de cara fechada? “Quem divide mais, entrega menos. Ninguém muda uma cidade ou um estado de cara fechada” – pontuou.

Jovens, Raquel e João estão longe do tradicionalismo

A cientista política Priscila Lapa observa que “não se pode negar que João Campos virou um fenômeno de comunicação pelas redes sociais, sendo uma referência nesse sentido na política não só em Pernambuco mas no Brasil”. Acha, porém, que ele sabe dosar isso ao fazer entregas constantes de obras, fugindo da superficialidade. “ O sucesso dele não decorre apenas da boa performance digital, seria injusto dizer isso”. Ela acredita, porém, que ele enfrenta um desafio para chegar ao interior, que têm outros interesses, e para conectar-se com as pessoas de mais idade. “ Vai precisar através dos jovens chegar aos demais segmentos”.
Nesse aspecto ela diz que a governadora Lyra também tem bom desempenho nas redes e usa bem o instrumento digital mas não tem a mesma facilidade do prefeito. “Ela tem melhorado nesse sentido pois também entendeu a importância das redes mas essa é uma habilidade inata em João Campos”. Priscila enxerga outro viés na eleição “ da mesma forma que Raquel, por ser uma política interiorana, tem dificuldades na Região Metropolitana, João Campos terá no interior, tanto que ele já está se juntando a partidos e a políticos de credibilidade no interior para chegar lá”.

Entregas e comunicação atreladas

Outra diferença entre os dois é, segundo ela, que João, como prefeito, tem mais facilidade de começar e concluir obras dando um outro ritmo a seu trabalho. “Raquel tem consciência das necessidade do estado, se articula bem, conta com recursos, é bem intencionada, mas os desafios são maiores para entrega de obras. Ela vai depender muito disso para entusiasmar o eleitor metropolitano”. No interior ela acha que é mais fácil pois a governadora tratará também de obras que beneficiam diretamente a população dos municípios, o que João não pode fazer.
- “ Raquel tem boa oratória, é também uma política jovem mas tem jeito mais fechado. Mas até nisso a mulher enfrenta mais desafios. Se sorrir demais é criticada, se sorrir de menos também”. Ela entende que os dois líderes são de uma nova geração que se diferencia em gestos e em linguagem dos políticos tradicionais e como tal a questão dos políticos carrancudos de tempos atrás não tem mais sentido. Nem mesmo em Pernambuco. Quem viver, verá.

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