CHUVAS | Notícia

Moradores do Córrego da Bica, no Recife, enfrentam incerteza após deslizamento que matou duas pessoas

Após a tragédia, 45 famílias foram obrigadas a deixar suas casas, enquanto auxílio moradia e falta de opções geram preocupação na comunidade

Por Thiago Freire Publicado em 07/02/2025 às 13:26

Moradores do Córrego da Bica, no bairro do Passarinho, no Recife, estão apreensivos com a interdição de suas casas depois das fortes chuvas que provocaram o deslizamento de uma barreira no local, que matou duas pessoas, nesta quinta-feira (6).

O deslizamento atingiu a parte de trás de uma casa, onde dormiam a técnica de enfermagem Maria da Conceição, de 51 anos, e sua filha Nicolle Kelli, de 23 anos, que morreram soterradas.

Ao todo, 45 famílias da região próxima ao deslizamento tiveram que deixar suas casas, que receberam uma sinalização de interdição pela Defesa Civil. Técnicos continuam na região para avaliar o terreno, cadastrar moradias e acompanhar a mudança dos moradores.

Sidney Lucena fotos
Após fortes chuvuas, deslizamento de barreira matou mãe e filha no Córrego da Bica - Sidney Lucena fotos
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Após fortes chuvuas, deslizamento de barreira matou mãe e filha no Córrego da Bica - Sidney Lucena fotos

Moradores relatam que não têm para onde ir

Na manhã desta sexta-feira (7), algumas pessoas tentaram retornar ao local, mas descobriram que os imóveis continuam interditados por tempo indeterminado. Elas falaram com TV Jornal.

José Severino, que é repositor de lojas e era vizinho das vítimas, disse que está apreensivo com a situação, porque não tem para onde ir com a família.

“Infelizmente a gente não tem para onde ir, só tem as casas de parentes para dormir. Mas e o cotidiano, como fica? A gente vai sair e deixar tudo dentro de casa?”, questionou Severino.

A situação é parecida para Taylor das Neves, que mora na parte de cima da barreira, conhecida como Crista do Talude, e não quis sair de casa, mesmo com a recomendação da Defesa Civil, por não ter para onde ir.

“A barreira da casa da minha vizinha caiu, que é a mesma barreira da minha. Aí agora, com essas chuvas, ficou preocupante”, desabafou.

A casa da irmã da empregada doméstica Taciana Francelina também foi interditada. Ela diz que o sentimento é de preocupação, porque o auxílio-moradia de R$ 300 recebidos pelas famílias desalojadas é insuficiente para pagar o aluguel em um local seguro.

Reprodução/Tv Jornal
Famílias reclamam que auxílio-moradia é insuficiente - Reprodução/Tv Jornal

“Um aluguel em área protegida, sem barreiras, é de 600, 700 reais, fora água e luz”, reclamou Taciana. “Não dá para fazer nem a feira, quem dirá [pagar] um aluguel.”

Ela lamentou o que aconteceu com as vítimas do deslizamento, que eram suas amigas de longa data, e afirmou que a região do Córrego da Bica é negligenciada pelo poder público.

“Não tinha nada, não tinha paliativo, nunca vieram fazer nada na barreira. Como se diz, só vêm quando a tragédia acontece. Então é muito lamentável, a gente fica muito sentida por essas duas mortes. Lamentável terem ido embora nessas condições”, afirmou.

Segundo a gerente geral de Engenharia da prefeitura do Recife, Elaine Hawson, a barreira que deslizou vinha sendo monitorada, mas não havia indícios de que ela poderia cair.

“Nas últimas vistorias que tinham sido feitas, o talude não apresentava instabilidade”, afirmou a gerente.

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Prefeitura diz que vai pagar auxílio às vítimas

Em nota enviada ao JC, a Prefeitura do Recife, através da Defesa Civil, informou que os moradores do Córrego da Bica que tiveram as casas interditadas terão direito ao Auxílio Moradia no valor de R$ 300 mensais, conforme previsto na Lei Municipal nº 18.936/2022.

Segundo a gestão municipal, a Secretaria-Executiva de Defesa Civil (Sedec) irá dar entrada no processo administrativo para concessão do benefício, o qual inclui relatórios técnicos elaborados pelos setores social e de engenharia do órgão, além de cópia da documentação dos titulares dos imóveis.

De acordo com a Defesa Civil, geralmente o pagamento do auxílio ocorre no último dia útil de cada mês. Assim, a previsão é de que os moradores afetados no Córrego da Bica recebam o depósito no dia 28 de fevereiro. O saque poderá ser efetuado em qualquer agência do Banco do Brasil.

Já as duas famílias do imóvel atingido pelo deslizamento receberão Auxílio Moradia, donativos emergenciais e auxílio funeral. Além disso, será providenciado o encaminhamento para concessão do benefício de pecúnia, uma vez que houve perda total dos pertences.

Na nota oficial, a Sedec informou que "a residência afetada no Córrego da Bica era constantemente monitorada e não representava um risco considerado alto". Segundo a pasta, 346 edificações estão cadastradas na localidade e, como parte das ações preventivas, 38 famílias já haviam sido incluídas anteriormente no programa de auxílio-moradia devido ao risco geológico.

"Além disso, 40 pontos da área estão cobertos com lona plástica, protegendo 161 edificações, totalizando cerca de 9.711 m² de área coberta. Nos últimos 10 anos, foram aplicados e repostos 1.486 pontos de lonas plásticas, cobrindo um total de 443.720 m² na localidade. A Prefeitura do Recife reitera que a Defesa Civil do Recife segue monitorando a situação e prestando o apoio necessário às vítimas e moradores afetados pela tragédia", finaliza o texto.

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