ORLA

Praias urbanas: Paulista carece de infraestrutura, mobilidade e limpeza

Apesar da beleza das praias, banhistas, comerciantes e pescadores convivem com demandas como a infraestrutura básica e a mobilidade insatisfatórias

Cadastrado por

Laís Nascimento

Publicado em 29/01/2025 às 16:51 | Atualizado em 31/01/2025 às 11:38
De acordo com comerciante de Paulista, população fez um buraco na areia pela falta de banheiros públicos - Artur Borba/JC Imagem

Quilômetros de extensão contornados por coqueirais, com piscinas naturais e águas tranquilas. As praias do município de Paulista, na Região Metropolitana do Recife (RMR), são um refúgio para quem deseja relaxar e aproveitar o litoral pernambucano.

Mas, apesar da beleza das praias, banhistas, comerciantes e pescadores precisam conviver com demandas como a infraestrutura básica e a mobilidade insatisfatórias. Seja em Maria Farinha ou no Janga, a população sofre com o descaso e o abandono da orla.

Desde 2022, um movimento tem tentado melhorar a infraestrutura de acesso e de hospedagem de praias no litoral Norte de Pernambuco, como Maria Farinha, em Paulista. Encabeçado pelo trade turístico da região, o chamado Mapa Estratégico prevê iniciativas como a requalificação dos pontos turísticos, a engorda da faixa de areia e a capacitação da mão de obra local.

A estimativa é de que a região receba R$ 10 bilhões em investimentos nos próximos dez anos.

Orla de Paulista tem quilômetros de extensão contornados por coqueirais, piscinas naturais e águas tranquilas - Artur Borba/JC Imagem

Mas a realidade ainda é precária e um dos problemas enfrentados por quem deseja frequentar a área é a mobilidade. Na orla, não há acesso exclusivo para ciclistas e em alguns trechos, a água do mar destruiu o calçadão - que ainda não foi requalificado.

Para Jesiel Lira, morador de Paulista e administrador da página De Olho no Janga, a orla da praia do Janga precisa passar por uma requalificação. “Está muito deteriorada. Acredito que ela precisa ser ampliada até Maria Farinha e que precisamos de uma orla pensada no ciclista, no comerciante, no pedestre e no veículo, assim a gente teria uma orla mais digna”, diz.

?

Falta dignidade para trabalhadores

Trabalhadores da orla de Paulista sofrem com a falta de banheiros públicos - Artur Borba/JC Imagem

Miriam Ferreira é comerciante e conta que não existe banheiro público na orla, que tem movimento mais intenso no período da manhã, quando são ofertadas aulas coletivas de dança e ginástica.

A falta do equipamento prejudica também os trabalhadores locais, que ficam desamparados e sem infraestrutura. “Eu fico até 11h sem ir ao banheiro porque não tem onde. Ali tem um buraco na praia, que é onde a gente vai fazer as necessidades”, explica.

Ali tem um buraco na praia, que é onde a gente vai fazer as necessidades
Miriam Ferreira, comerciante na orla de Paulista

De acordo com ela, a falta de banheiros públicos na orla é minimizada pelos banheiros químicos que outros comerciantes disponibilizam para os clientes. Miriam reitera que é preciso um banheiro principalmente para as idosas que praticam atividades físicas na orla de Paulista.

De acordo com comerciante de Paulista, população fez um buraco na areia pela falta de banheiros públicos - Artur Borba/JC Imagem

Outro problema relatado pelos pescadores José Henrique da Silva e Carlos Alberto Muniz é a proximidade das construções da areia, que tem prejudicado a pesca.

“Com os avanços das casas, daqui a uns dias estão tirando o espaço da gente para pescar e tomar banho. Cada vez estão aumentando mais as construções na beira da praia e a gente vai perdendo os espaços”, lamenta José Henrique.

A faixa tinha mais uns cem metros nos anos 1980
Carlos Alberto, pescador

Pescadores reclamam de proximidade das construções da areia na orla de Paulista, problema que tem prejudicado a pesca - Artur Borba/JC Imagem

Poluição

O abandono também é da limpeza urbana: o lixo não fica muito longe do local onde os banhistas ficam e o esgoto é, em muitos trechos, despejado direto no oceano.

“É muito mais barato tratar o esgoto e evitar que ele chegue no oceano, inclusive obedecendo à legislação, do que tratar o desdobramento que esse esgoto pode ter com a saúde pública, com as cadeias produtivas e com a economia local”, explica Geraldo Moura, diretor de Monitoramento Ambiental e Inovação da Agência Estadual de Meio Ambiente do Estado de Pernambuco (CPRH).

Ele destaca, ainda, que a liberação de esgoto no oceano sem tratamento prévio pode apresentar três tipos de malefícios: a mudança da paisagem - desde transformações no cheiro, na coloração do oceano e na areia; a absorção dos derivados desse esgoto pela biodiversidade marinha; e a contaminação direta da população.

Em Paulista, esgoto é despejado no oceano e lixo está próximo ao mar - Artur Borba/JC Imagem
Em Paulista, esgoto é despejado no oceano e lixo está próximo ao mar - Artur Borba/JC Imagem

O despejo de esgoto, além de ilegal, é mais um retrato do descaso com a população na região. Já em 2021, a CPRH buscava identificar e solucionar o problema de lançamento de água suja na areia da praia da Conceição, próxima a Maria Farinha. A agência intimou um condomínio situado na orla do município de Paulista para prestar informações sobre a limpeza das fossas e o tratamento dos efluentes produzidos pelo estabelecimento.

Quase quatro anos se passaram e a limpeza na orla continua sendo um problema. Geraldo Moura explica que a fiscalização é de responsabilidade tanto das Secretarias de Recursos Hídricos quanto dos órgãos de meio ambiente e afirma que “atualmente existem várias iniciativas que buscam amenizar essa problemática”.

Tags

Autor

Veja também

Webstories

últimas

VER MAIS