Indivíduos são diferentes. A diferença é positiva: ressalta a alteridade, chama a empatia, estimula a solidariedade. Diferença, no entanto, não precisa ser desigualdade, no âmbito coletivo. A desigualdade é negativa: ressalta o egoísmo, chama a intolerância, estimula a exclusão. Como sabem os brasileiros, acostumados à história perversa de gerações e gerações num dos mais desiguais países do mundo, a diferenciação que salta da desigualdade provoca fossos sociais, e emperra o desenvolvimento econômico que poderia gerar benefícios para a coletividade, sem graves distinções. Não por acaso, nas nações mais desenvolvidas, a diferença persiste, enquanto a desigualdade se reduz.
Relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado esta semana, aponta que mais da metade da população mundial conta com algum tipo de proteção social. Visto pelo lado bom, o dado realça, contudo, a necessidade crescente de proteção em um planeta hospedado por populações que enfrentam, em suas fronteiras e além delas, situações de vulnerabilidade, em muitos casos, insuperáveis. A entidade aproveita para sinalizar que as mudanças climáticas devem ampliar a necessidade da proteção social, sugerindo que, embora não resolvam o problema – e de fato, mal o abordam – os instrumentos legais e financeiros de compensação para as parcelas de baixa renda podem suavizar os impactos dos efeitos da emergência climática que se desenha em nível global.
O avanço detectado no percentual de cobertura social não minimiza a falta de proteção para quase 4 bilhões de seres humanos. A maioria, em lugares pobres, já que a maior porção relativa de proteção social se encontra nos países ricos. A proteção social, paradoxalmente, aparece como indicador de desenvolvimento: quanto menos proteção, menos desenvolvido é um país. Três quartos das crianças sobre a superfície terrestre não dispõem de proteção, segundo a OIT. No atual ritmo de evolução da cobertura, a universalização da proteção deve levar ao menos meio século. Quase uma vida inteira de espera para a maioria dos desprotegidos na atual geração.
Mais de 90% da população dos 20 países mais pobres não possui qualquer tipo de proteção. Nos 50 países mais expostos às mudanças climáticas, o percentual de desprotegidos é de 75%. A proteção aumenta de importância, neste momento de incerteza climática, para melhorar as chances de uma “transição justa para um futuro sustentável”, diz o relatório, de maneira otimista – trazendo a sustentabilidade e a justiça social, juntas, para o futuro verossímil. Há muito a ser feito nos dois aspectos, pelos governantes do mundo inteiro, e pelas entidades globais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), que ganhou mais destaque nas últimas décadas como compiladora de diagnósticos do que como mobilizadora de mudanças.
A exemplo do que mostrou a pandemia, eventos extremos tendem a elevar a desigualdade. Por isso, a OIT acerta ao mencionar a importância da proteção social, para a melhor adaptação coletiva ao que estamos vivenciando, e ao que pode vir por aí.