SEGURANÇA NO TRÂNSITO | Notícia

Distração perigosa

Uso cada vez mais comum e descuidado de telas ao volante já é considerado tão arriscado quanto a ingestão de bebida alcóolica antes de dirigir

Por JC Publicado em 03/07/2024 às 0:00

O desenvolvimento da tecnologia e o avanço da comunicação em tempo real, ao alcance dos dedos e do olhar em dispositivos portáteis que ainda são chamados de telefone por questão de costume – quando são – permitiu o estabelecimento de uma condição de conexão irreversível entre as pessoas. E de acesso a todo tipo de informação, a qualquer momento, de notícias do dia atualizadas minuto a minuto, a mensagens de trabalho ou de amigos e familiares que requerem atenção imediata, incorporadas às demandas de uma rotina corrida e repleta de afazeres. O celular virou um ponto de conversa instantânea, e de consumo de vídeos, jogos e outras distrações para a nossa inquieta vida contemporânea.
Estudo realizado pela seguradora Allianz, tema da colunista de Mobilidade do JC, Roberta Soares, mostra que a troca de mensagens ao volante é uma prática em ascensão, elevando os riscos para o trânsito. O risco de um sinistro provocado pela leitura ou digitação de textos no celular cresceu em mais de 50% entre 2016 e 2022, segundo o estudo. O aparelho celular não é a única opção tecnológica disponível. A disponibilidade de telas com diversas informações nos automóveis também aumenta a probabilidade de atropelamentos e colisões, de acordo com a análise reportada. A tentação para o olhar e o raciocínio retiram a necessária concentração da direção, numa clara demonstração de como o comportamento precisa se adequar ao uso da tecnologia.
Os que mais utilizam as telas enquanto dirigem são os mais jovens: 30% dos pesquisados de 18 a 24 anos de idade reconheceram a prática, enquanto no geral o percentual é de 16%. O envio e leitura de mensagens é comum a 40% desses condutores, em proporção que mais do que duplicou entre 2016 e 2022. A suscetibilidade dos mais jovens ao risco da direção distraída pelas telas chama a atenção para a falta de preparo até das gerações mais novas, mais acostumadas com a tecnologia, mas nem por isso cientes da importância do cuidado com seu uso no trânsito.
O uso do smartphone é a terceira maior causa de mortes no trânsito no Brasil, atrás do abuso de bebidas alcóolicas e do excesso de velocidade. Já é comparável, portanto, a quem bebe e dirige, levantando questões semelhantes de responsabilidade ao volante. A digitação de uma simples mensagem de texto enquanto o carro avança pode significar a desatenção geradora de um sinistro com repercussões graves para a vida do condutor, passageiros e outras pessoas no trânsito. Conversar ao celular, mesmo com os olhos fixos na via, pode representar uma grande distração, mesmo após o fim da conversa, já que a mente continua processando o que se falou.
Seja através de uma legislação mais rígida, seja por meios tecnológicos de vigilância à atenção do condutor dentro dos veículos, é urgente que se adotem medidas para reduzir a escalada de sinistros devido ao vício das telas e da informação.

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