Caminhamos para mais uma Conferencia das Partes (COP) do Clima, a trigésima desde o primeiro encontro ocorrido em 1995, em Berlim, e já passados 34 anos do 1º relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima), publicado em 1990.
Desta vez, o encontro sera realizado em Belém do Para, no Brasil, porta de entrada natural da Amazônia.
Passadas estas ultimas três décadas, as análises indicam um cenário internacional que está aquém daquele necessário para garantirmos a saúde do Planeta e de seus habitantes.
Isto fica evidenciado em uma quantidade importante de artigos e relatórios científicos que confirmam, com uma certeza cada vez maior, que estamos extrapolando todos os limites aceitáveis de emissões de gases de efeito estufa (GEE), num processo crescente de aquecimento da atmosfera, oceanos e continentes.
Aumento da temperatura global
A meta estabelecida pelo Acordo de Paris, em 2015, por exemplo, que busca limitar o aumento da temperatura media global abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, com foco no valor máximo de 1,5°C, parece cada dia mais difícil de ser atingida, sobretudo quando atestamos que este limite já foi alcançado no ano passado.
De fato, nos ultimos anos temos registrado um aumento crescente e continuo de concentração de carbono na atmosfera.
Como resultado, os anos de 2023 e 2024 se apresentaram como os períodos mais quentes da historia, com recordes de ocorrência de eventos climáticos extremos em todo o planeta, tais como chuvas intensas, ciclones e secas prolongadas.
Sem falar nas terríveis ondas de calor, que levaram os termômetros a registrarem valores de temperatura superiores a 40 graus celsius em diferentes regiões do País nas ultimas semanas.
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Papel do Brasil
Diante do cenário acima, deveríamos estar desanimados com as perspectivas da COP30 em Belém. Mas muitas vezes situações criticas aparecem também como janelas de oportunidade.
Com a debandada climática (entre outras) recente dos Estados Unidos, por exemplo, o Brasil se consolida como liderança natural no jogo geopolítico do clima.
Temas como redução de emissões de GEE, adaptação as mudanças do clima, financiamento de países em desenvolvimento, transformação ecológica e transição para energias renováveis e de baixo carbono, preservação de florestas e biodiversidade e justiça climática estarão nas mesas de discussão em Belém.
E o Brasil tem propostas concretas em todos estes temas. O rico processo em curso de atualização da Politica Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), e de elaboração do Plano Nacional sobre Mudança do Clima (Plano Clima), tem-se realizado com significativa participação da Academia e da Sociedade, fornecendo arcabouços e subsídios para Belém.
Em paralelo, as novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) brasileiras, anunciadas na COP29 em Baku (2024), estabelecem a redução nacional de emissões de GEE entre 59% e 67% ate 2035.
Os processos de construção destes três instrumentos fornecem assim um arcabouço solido para as negociações na COP30.
Só nos falta uma sinalização mais clara para o mundo de que não existe saída para o nosso Planeta sem o rápido e irremediável abandono da queima de combustíveis fósseis.
Moacyr Araujo é Coordenador Cientifico da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede Clima), Vice-reitor da UFPE e membro da Academia Pernambucana de Ciências.