Na noite do ultimo domingo, 23 de fevereiro, quando foliões de todas as cores e todos os credos brincavam o carnaval, de repente o País parou: um grito de alegria que nada tinha a ver com o Rei Momo explodiu noite a dentro, literalmente do Extremo Norte ao Extremo Sul do País. As transmissões das televisões foram interrompidas, show de cantores famosos de repente calaram, e sem qualquer maestro que conduzisse aquela sinfonia desenfreada um cântico de prazer e de alegria ecoou pela noite: O Brasil ganhara o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, conferido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, em solenidade realizada em Los Angeles, Nos Estados Unidos.
Este é o maior prêmio que se pode conceber no cinema mundial. O filme, “Ainda Estou Aqui”, que é realmente uma bela produção, se transformou, de repente, no novo herói nacional. E haja palmas e vivas para o diretor Walter Salles; e haja louvação e declarações de amor para Fernanda Torres; e haja salamaleques para Selton Melo e quem mais integra essa equipe campeã.
Eu já havia visto quadro parecido antes: era quando a Seleção Brasileira de Futebol jogava e ganhava. A maioria dos seus jogadores vestia a camisa de clubes brasileiros, algumas vezes o cidadão comum cruzava com alguns deles num café, num restaurante, numa avenida qualquer, do Rio, de Belo Horizonte ou de São Paulo E quando a Seleção entrava em campo, sabia-se que havia muito mais chances de ganhar do que de perder. Infelizmente, parece que o sonho acabou.
A Seleção Brasileira vem aí, mais uma vez, sob o comando de mais um técnico, com total desconfiança dos torcedores brasileiros. Luta pela classificação para disputar, ano que vem, mais uma Copa do Mundo – que vai acontecer nos Estados Unidos, no Canadá e no México, para atender aos interesses comerciais da FIFA e de quem manda nela. Se chegarmos lá, já não estaremos na relação dos favoritos.
Vai longe o tempo em que na América do Sul apenas a Argentina, Peru e Uruguai eram adversários reais e respeitados pela Seleção Brasileira. As demais seleções do continente, cumpriam tabela. Paises como a Bolivia, a Colombia,a Venezuela já entravam em campo derrotados. É evidente que o futebol evoluiu, mas enquanto ele cresceu noutros países e noutros continentes, no Brasil ele encolhe. Culpa da globalização? Da má gestão dos cartolas brasileiros? De planejamento? De tudo isso junto?
O novo técnico da Seleção Brasileira , Dorival Júnior– é apenas mais um depois da queda de Tite, que perdeu duas Copas do Mundo mas deu um bom exemplo de nepotismo, empregando o filho como seu auxiliar. Com remuneração bem acima do mercado. Não vale relembrar a derrota por 7 a 2 contra a Alemanha, dentro de casa, quando o Brasil sediou o torneio mundial. Foi o fim da carreira para Luis Felipe Scollari, o Popular “Felipão”.
Pois bem, Dorival convocou o grupo para os próximos jogos e talvez tenha cometido o pecado de nesse grupo incluir Neymar. Que rescindiu um contrato bilionário com um Clube saudita, onde por conta de uma contusão não jogou dez partidas. E voltou para o Santos, onde iniciou sua carreira. Neymar, hoje, tem mais passado do que futuro. Suas condições de saúde, só ele sabe. Se caía muito quando era jovem, hoje deve estar caindo ainda mais.
Evidente que o Brasil continua revelando bons jogadores, alguns acima da média. Mas, nenhum deles permanece nos clubes brasileiros. Estão espalhado pela Inglaterra, Espanha, Itália e França, principalmente. Ganhando milhões de euros e preocupados com suas pernas, que lhes garantem esses contratos bilionários. Portanto, pensam muito quando disputam uma bola dividida.
Mas, a Seleção está ai. O futebol brasileiro ainda é um dos melhores do mundo, alguns dos seus jogadores se colocam entre os mais talentosos do planeta. Ganhamos cinco vezes a Copa do Mundo jogando em diferentes continentes – em todos eles há o reconhecimento de que Pelé foi o maior jogador de futebol de todos os tempos. Que aqui também nasceram Rivaldo e Ronaldo, Garrincha e Tostão, Rivelino e Romário.
Antes deles, o mundo do futebol já aplaudia o genial Nilton Santos e o incomparável Didi, que, como disse o cronista Armando Nogueira, cobrava faltas com tanta perfeição que seu chute era malicioso, “obliquo, esquivo e dissimulado, como o olhar da Capitu”. Como se vê, nosso futebol já gerou e pode gerar outros craques, outros gênios, outras legendas, para quem a bola se curva e obedece. A Seleção Brasileira de Futebol ainda está aí. Vamos torcer por ela, porque é hora da Seleção também ganhar seu “Oscar”
Ivanildo Sampaio é jornalista