OPINIÃO

Eduardo Carvalho: arrogante no poder

O narcisista possui uma autoestima inflada, e busca incessantemente admiração. O maquiavélico manipula, mente, omite para alcançar seus objetivos

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JC

Publicado em 07/03/2025 às 6:51 | Atualizado em 07/03/2025 às 6:51
Lula (PT) e Bolsonaro (PL) - NELSON ALMEIDA / AFP

O arrogante é orgulhoso, soberbo, presunçoso e extremamente vaidoso. Etimologicamente, o termo “arrogante” se originou do latim "arrogare", que significa "atribuir a si mesmo, reivindicar".

O prefixo "ad-" (para si) e "rogare" (pedir, exigir) formam o verbo "arrogare", que pode ser traduzido como "apropriar-se indevidamente", "tomar para si com presunção". Define, portanto, a personalidade de alguém que se acha no direito de exigir um reconhecimento do mundo.

É uma figura destrutiva movida por vaidade. Exercendo poder, afasta quem lhe ofusca e/ou contraria seus interesses pessoais. Em contrapartida, aqueles incham seu ego, fazem o que ele manda, e reforçam sua ilusão de grandeza são promovidos e recompensados, criando um ciclo vicioso de autoritarismo e servilismo.

Dessa forma, a cultura insititucional passa a ser dominada pelo medo e pela obediência cega, comprometendo a sua eficiência e ética.

É comportamento característico de tiranos, ditadores, déspotas. Sua personalidade frequentemente se encaixa no perfil da tríade do mal: narcisismo, maquiavelismo e psicopatia.

O narcisista possui uma autoestima inflada, e busca incessantemente admiração. O maquiavélico manipula, mente, omite para alcançar seus objetivos, sem escrúpulos ou preocupação com o impacto de suas ações. O psicopata tem frieza emocional e tendência a explorar os outros sem remorso.

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Arrogantes na história

O arrogante no poder é uma figura recorrente na história e no presente, seja no âmbito político ou empresarial. Entre inúmeros exemplos:

  1. Napoleão Bonaparte é um caso clássico. Inicialmente um líder revolucionário e estrategista brilhante, sua sede de conquista e crença em sua própria invencibilidade levaram-no a decisões desastrosas. Sua recusa em ouvir conselhos e sua crença exagerada em sua superioridade acabaram por levá-lo ao exílio e à ruína política;
  2. Adolfo Hitler ascendeu ao poder utilizando-se de manipulação, propaganda e repressão brutal. Cercou-se de bajuladores e silenciou qualquer oposição, criando um ambiente onde suas decisões raramente eram contestadas. Sua visão distorcida de grandeza e sua recusa em aceitar críticas levaram a Alemanha ao colapso durante a Segunda Guerra Mundial;
  3. Kim Jong-un da Coreia do Norte mantêm o poder através da repressão e da ilusão de infalibilidade;
  4. Vladimir Putin demonstra uma crença inabalável de que é o único capaz de garantir a estabilidade da Rússia. Adota uma postura fria e calculista ao lidar com líderes estrangeiros. O uso de ameaças como a possibilidade de recorrer a armas nucleares, reflete um estilo de liderança arrogante e intransigente, disposto a elevar tensões para manter sua posição;
  5. Donald Trump considera-se alguém capaz de resolver problemas que outros não conseguiram. Demonstra frieza e impulsividade em relações internacionais.

No Brasil, Lula tem características típicas de líderes que acreditam estar acima das críticas e das regras. Seu discurso reforça a ideia de “Salvador da Pátria”.

Quando confrontado com críticas, tende a minimizar ou ridicularizar, muitas vezes atribuindo-as a elites, setores da mídia ou a uma suposta perseguição política.

Ele também desqualifica adversários de maneira pejorativa, chamando-os de representantes das elites e acusando-os de não se importarem com os mais pobres, criando uma narrativa de "nós contra eles".

Demonstra orgulho excessivo ao se posicionar no cenário internacional, buscando ser visto como um grande articulador global. Seu discurso constantemente reforça a ideia de que é insubstituível e de que qualquer oposição a ele é ilegítima ou motivada por interesses ocultos.

Jair Bolsonaro, é outro caso. Frequentemente se apresentava como o único capaz de salvar o Brasil do que chamava de “ameaça comunista” e da corrupção dos governos anteriores, reforçando uma narrativa messiânica. Rejeitava críticas e frequentemente atacava jornalistas, opositores políticos e até aliados que discordavam dele. Buscava reforçar sua imagem de líder forte, patriota e incorruptível.

Durante a pandemia de COVID-19, minimizou a gravidade do vírus, se colocando contra as vacinas.

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Ilusão do poder

No mundo empresarial é muito frequente o exercício do poder por indivíduos arrogantes, conferindo-lhe um senso de superioridade que pode distorcer sua percepção da realidade.

A hierarquia organizacional cria um ambiente no qual subordinados, fornecedores e parceiros frequentemente reforçam essa sensação ao agir de maneira subserviente, seja por interesse, medo ou conveniência.

A bajulação desempenha um papel crucial nesse processo, criando um ciclo de reforço positivo que fortalece sua ilusão de poder absoluto.

Quanto mais uma organização é bem-sucedida e respeitada, mais pode ser vista como uma plataforma estratégica para alguém que deseja alimentar seu ego, aumentar seu prestígio e tomar decisões para seus próprios benefícios.

Líderes arrogantes utilizam a comunicação visual para projetar uma imagem de sucesso e influência. Gostam de ser fotografados em momentos de aparente triunfo. Essa estratégia visa reforçar a percepção de autoridade e criar uma ilusão de grandeza.

Além disso, não hesitam em investir em assessorias de comunicação para controlar narrativas, garantir aparições públicas e fortalecer seu culto à personalidade.

Esses indivíduos muitas vezes se iludem com a autoridade que exercem, acreditando que sua influência é eterna, mas todo domínio é transitório. Seja por desgaste natural, mudanças políticas, fusões ou crises organizacionais, a realidade eventualmente se impõe.

Ninguém ocupa uma posição de destaque para sempre. Quando deixam o cargo, a atenção que recebiam desaparece rapidamente, revelando a fragilidade de seu poder e a efemeridade da bajulação que o cercava. O anonimato, para uma pessoa assim, pode se tornar uma punição cruel.

A ilusão do poder é uma armadilha que aprisiona muitos líderes. O reconhecimento de que o poder é efêmero e que a verdadeira influência se constrói com respeito, ética e colaboração é essencial para evitar esse destino.

Organizações saudáveis são aquelas que promovem lideranças conscientes, que entendem que sua função é servir à instituição e não se servir dela. No final, o que permanece não é o cargo, mas o legado que foi construído ao longo do tempo.

Eduardo Carvalho, Autor do livro Agente Transformador

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