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Histórias do maior clube de carnaval do mundo

Amanhã, o Clube de Máscaras Galo da Madrugada faz seu 46º desfile, literalmente parando o Recife para ser acompanhado por milhões de foliões.

Por JOÃO ALBERTO MARTINS SOBRAL Publicado em 28/02/2025 às 0:00 | Atualizado em 01/03/2025 às 6:22

O clube teve início em 4 de fevereiro de 1978, um sábado de carnaval, com 75 pessoas fantasiadas de almas penadas percorrendo as ruas do bairro de São José, área central do Recife. Com seus sacos de confetes e serpentinas, elas foram acompanhadas por uma orquestra de frevo. Foi uma iniciativa de Enéas Freire, que durante anos presidiu o clube.

Recordo de ter visto este desfile ao lado de Assis Farinha, que era um dos patrocinadores do grupo, na sua "Ele-Ela", na Rua Nova, que ficava no roteiro. Depois, o Galo foi crescendo, incrementando trios elétricos, até ir parar no Livro Guiness de Recordes, como o maior clube de frevo do mundo. Durante muitos anos, fazia o roteiro pela Rua da Concórdia, terminando em frente ao Diario de Pernambuco, na Praça da Independência. Como a Rua da Concórdia é muito apertada e havia sempre problemas com os fios atrapalhando a passagem dos trios elétricos, passou para as avenidas Dantas Barreto e Guararapes, com o roteiro ampliado para dar espaço a dezenas de camarotes. Desde o início, começava com um café da manhã, no Forte das Cinco Pontas, hábito que se mantém até hoje. O trio elétrico que encerra o desfile sempre traz uma frase lembrando o desfile do ano seguinte. No desfile de 2020 tinha a frase na traseira "Esperamos vocês no dia 13 de janeiro de 2021". Não foi possível. A pandemia do coronavírus não deixou.

Os primeiros camarotes criados no roteiro do Galo da Madrugada, que depois se multiplicaram, foram de Zezo Pessoa. Alguns enormes e cheios de mordomias. Num deles, Wesley Safadão, que era a atração, teve que usar fantasia de urso, para poder chegar ao espaço, fugindo do assédio dos foliões. Para poder abrir mais camarotes, o roteiro foi ampliado, para passar pela Avenida Sul e Rua Imperial. O principal é o oficial do Galo da Madrugada, na Praça Sérgio Loreto, numa área enorme. Lá, ficam os convidados especiais e os dos patrocinadores do desfile. Tudo muito bem comandando pelo presidente Rômulo Menezes, ao lado de Ana Nery e os diretores do clube.

O Camarote da Globo foi, durante muitos e muitos anos, o espaço mais disputado do desfile do Galo da Madrugada. Ficava na Avenida Dantas Barreto, pertinho da Pracinha do Diario e começou a funcionar quando mudou o roteiro do desfile, que saiu da Rua da Concórdia. Reunia mais de mil convidados, com mordomia total, dividido entre uma área externa, com praça da alimentação e um camarote para ver o desfile. Conseguir um convite era algo muito difícil, só possível de se conseguir para alguns amigos, graças à amizade com Celso Coli e Yuri Maia Leite. A mordomia era tão grande que incluía até um transfer exclusivo para conduzir os convidados entre o espaço e o estacionamento do Paço Alfândega, onde podiam estacionar os carros. Era uma época, é bom lembrar, que o Uber não existia.

Na Avenida Guararapes, em frente à agência central dos Correios, ficava o camarote do governador. Era enorme e reunia convidados do governante pernambucano. Teve o auge no governo de Jarbas Vasconcelos, folião assumido. Num dos carnavais teve a presença de Dilma Rousseff, na época candidata a presidente. Em alguns anos, a Prefeitura do Recife fez camarote do outro lado, em frente ao antigo Cinema Trianon. Muitos convidados eram obrigados a atravessar a Guararapes, repleta de foliões. O Governo do Estado chegou a ter um camarote na Dantas Barreto, junto do da Globo, mas durou poucos anos. Acabou quando o então governador Eduardo Campos determinou o fim de todos os camarotes que o Estado patrocinava para receber convidados, em vários eventos do Estado.

Um grupo de empresários amigos, Paulo Sérgio Macedo, Severino Mendonça e Assis Farinha criou o primeiro camarote do carnaval do Recife. Ficava na cobertura do Edifício Trianon, no desfile do Galo da Madrugada, quando ainda desfilava pela Rua da Concórdia. Chamava-se Camarote Antarctica, para fazer frente ao já famoso Camarote da Brahma, no Rio. Na época, as duas cervejas eram concorrentes, antes de se unirem na Ambev. E, claro, a Antarctica adorou e bancou todo o camarote. Mas com uma condição: apenas cerveja, nada de uísque. Foi um sucesso.

Em 2012, Eduardo Campos teve a ideia de unir os três maiores carnavais do país. Convidou os governadores Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, e Jaques Wagner, da Bahia, que aceitaram. Ele recebeu os dois colegas num café da manhã no Campo das Princesas, e seguiram juntos (a pé) até o camarote, onde assistiram ao desfile do Galo da Madrugada. No domingo, o pernambucano foi ao carnaval de Salvador e na terça-feira esteve no Sambódromo do Rio. Claro que, como era de se esperar, a parceria rendeu grandes espaços na mídia nacional.

 João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1

 

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